Representando a maior parte da população do Rio Grande do Sul, 53% das mulheres empreendedoras do Estado atuam com prestação de serviços e trabalhos manuais, aponta pesquisa realizada pelo Sebrae RS

Mulheres comandam negócios com foco na arte e cultura em Porto Alegre


Representando a maior parte da população do Rio Grande do Sul, 53% das mulheres empreendedoras do Estado atuam com prestação de serviços e trabalhos manuais, aponta pesquisa realizada pelo Sebrae RS

Com o passar dos anos, as mulheres representam, cada vez mais, uma porcentagem significativa das pessoas que comandam negócios no Estado. Um estudo realizado pelo Sebrae RS em 2022 aponta que, no último ano, o número foi recorde, e cerca de 35% dos negócios gaúchos têm mulheres no comando. Parte dessa porcentagem há sete anos, a professora de dança Susi Alves é uma das tantas mulheres à frente de operações na capital gaúcha.
Com o passar dos anos, as mulheres representam, cada vez mais, uma porcentagem significativa das pessoas que comandam negócios no Estado. Um estudo realizado pelo Sebrae RS em 2022 aponta que, no último ano, o número foi recorde, e cerca de 35% dos negócios gaúchos têm mulheres no comando. Parte dessa porcentagem há sete anos, a professora de dança Susi Alves é uma das tantas mulheres à frente de operações na capital gaúcha.
Desde 2017 responsável por um dos centros artísticos mais consolidados de Viamão, a empreendedora expandiu negócio e abriu sua segunda unidade, desta vez, em Porto Alegre. O ponto que acomoda a novidade fica na esquina entre a rua dos Andradas e a rua General Vasco Alves, no centro da Capital, próximo ao Gasômetro.
A vontade de empreender em Porto Alegre sempre esteve presente na vida de Susi, mas investir em um terreno conhecido acabou sendo a aposta. Até que, após realizar o grande sonho de ter uma ONG que oferece aulas de dança para crianças de baixa renda, a empreendedora se viu estagnada. "Achava que não tinha capacidade de vir para Porto Alegre. Mas sinto que sou muito movida a metas, e depois de conseguir criar o projeto social, era como se não estivesse evoluindo. Então, comecei a projetar essa vinda para cá", comenta Susi, que entre iniciar a busca por imóveis e abrir as portas do novo estúdio levou apenas três meses.
"O Centro já é artisticamente histórico, existem muitas referências, então queria que fosse na região central. Comecei a olhar só por olhar, mas quando encontrei esse imóvel aqui, a uma quadra do Gasômetro, bem em frente à Praça do Tambor, que tem toda essa representatividade para nós, negros, pensei 'é esse o lugar'", lembra Susi.
Prestes a completar um mês na nova operação, a empreendedora celebra a boa recepção da vizinhança. O estúdio já conta com mais de 70 alunos, e Susi projeta encerrar o ano com a primeira centena. "Temos muito movimento aqui na rua, pessoas passando e entrando para conhecer, ver o que é. O pessoal está feliz porque não tinha nada, estava bem largado, e aqui perto não tinha nenhum estúdio de dança. O pessoal está empolgado, e a gente fica mais empolgado ainda", admite Susi.
Entre as modalidades disponíveis na unidade de Porto Alegre, estão: pole dance, acrobacias no tecido, exercícios de flexibilidade e danças urbanas, como hip hop, ritmos e twerk. Mas o carro-chefe, garante Susi, é o pole dance, ritmo que rendeu algumas medalhas de ouro em competições nacionais para atletas da escola. O espaço ainda não conta com aulas para crianças, mas a modalidade já está nos planos da empreendedora, visto que a opção fez sucesso na unidade de Viamão.
O perfil do público, de acordo com Susi, é muito diverso. O estúdio atende desde adolescentes com 15 anos até idosos com quase 80 anos. "É muito legal, porque é uma grande mistura. Temos alunas no pole dance com 70 anos. Não tem idade certa, corpo certo, é tudo questão de liberdade", pontua.
Apesar de ter recém-inaugurado o novo espaço, Susi já projeta os próximos passos do negócio. A empreendedora planeja a abertura de novas unidades. Nada com data marcada, mas sempre de olho no futuro. "Garanto que não vai parar por aqui, vai ser sempre só o começo. Comecei sozinha lá em 2017, mas hoje não sou mais. Tenho mulheres do meu lado como a Nathália, que fica lá em Viamão, e a Alana aqui em Porto Alegre. Pessoas jovens, com o dobro de energia e de fé, que vão seguir os meus projetos".
O estúdio está localizado na rua dos Andradas, nº 289, esquina com a rua General Vasco Alves. As aulas ocorrem por turmas nos dois turnos, mas o espaço está aberto ao público de segunda a sexta-feira, das 12h às 21h. Existem opções de pacotes mensais e trimestrais, com aulas desde uma vez na semana até o full pass, com acesso para todas as modalidades.
 

Amigas criam iniciativa de artesanato surpresa para mulheres

Colegas de trabalho, amigas e, hoje, sócias. A dupla Joana Barboza e Tainá Hessler está à frente do Artesanato Feio, iniciativa itinerante que busca oferecer um espaço acolhedor para mulheres viverem experiências artísticas. 
A ideia do projeto surgiu quando Joana vivia um período de redescoberta profissional. Jornalista de formação, mas buscando aventurar-se em outras áreas, Joana passou a frequentar diferentes grupos, aulas e cursos, a maioria voltados para arte e cultura. Nesse período, deparou-se com um dilema vivido por muitas mulheres ao longo da vida: a busca pela perfeição. "Percebi algo que começou a me assustar um pouco. Repetidamente, ouvia algumas frases como 'eu não sou criativa' ou 'não tenho habilidades', e isso acontecia em qualquer ambiente. Uma vez, fiz uma aula de percussão e as meninas falavam a mesma coisa, sempre se questionando. Pensei que não poderia ser uma coincidência e comecei a olhar para esse recorte, pesquisas, e notei um padrão nisso", lembra a empreendedora sobre o insight que deu origem ao projeto.
"O homem tem muito espaço para errar, ele sempre é um menino, sempre está aprendendo. Enquanto isso, a sociedade é muito cruel conosco, mulheres, e nós internalizamos isso, pensando que não podemos errar, que devemos ser perfeitas, sendo que a criatividade, por exemplo, é resolução de problemas, e mulheres resolvem problemas todos os dias", reflete Joana. 
Após uma pesquisa voltada ao tema, a jovem decidiu que queria fazer algo para mudar esse cenário, e foi neste momento que Tainá entrou no projeto. "Fui até a casa dela, com um PowerPoint, tinha pesquisa, dados, tudo só para perguntar a opinião dela sobre, se era uma ideia legal, e ela falou que eu precisava de uma sócia, foi quando começou a parceria", destaca. 
O Artesanato Feio pretende oferecer um espaço seguro para que mulheres cometam erros, sem criar expectativas e, consequentemente, evitando frustrações ou, até, a desistência de um sonho. "Comecei a tentar mapear quais eram os momentos em que as mulheres decidiam que não queriam mais fazer algo, e sempre tem a ver com a expectativa. Algo como 'não vou saber fazer isso' ou 'se eu tentar não vai ficar bom', e acabam nem fazendo". Pensando nisso, cada edição do projeto é uma surpresa, tanto para as participantes quanto para as sócias, que aprendem o mínimo possível para conduzir a atividade. 
"Se divulgarmos antes, elas vão pesquisar, vão assistir tutoriais, vão se frustrar ou chegar aqui com técnicas que não precisam. É para iniciantes, todo mundo vai aprender e errar junto. Por isso, não definimos como um curso ou uma aula de artesanato. Não vai ter ninguém ensinando a fazer, vamos todas descobrir juntas e compartilhar os aprendizados umas com as outras", explica Joana, que reforça o objetivo de manter a atividade como um lazer despretensioso. "Nenhuma de nós pretende mudar de carreira e tornar isso nossa profissão. Também é sobre não precisar transformar qualquer atividade em trabalho, não precisar se tornar uma obrigação", defende Joana.
Além de ser exclusivo para mulheres, o projeto também busca estar inserido em ambientes femininos, como é o caso do espaço que sediou a última edição, dia 11 de novembro, a Rocambolo Atelier de Doces, no bairro Santa Cecília. "No profissional, nós trabalhamos em muitos ambientes masculinos. Então está sendo uma experiência maravilhosa. É sobre poder caminhar junto com outras mulheres, como as gurias aqui da Rocambolo, nossas fornecedoras, que também são todas mulheres", acrescenta Tainá.
As atividades duram até 4h e o valor para interessadas em participar é de R$100,00, e inclui todos os materiais necessários para o desenvolvimento do artesanato. Existe um limite de 15 pessoas por sessão, para que o projeto consiga manter a essência de ser um ambiente aconchegante e, acima de tudo, gerar conexões entre mulheres. As ações são divulgadas no Instagram @artesanatofeio e os ingressos podem ser adquiridos no site da Eventbrite.
 

Mesmo com mais estudo, mulheres ainda são minoria no empreendedorismo

Uma pesquisa realizada pelo Sebrae RS em 2022 aponta que pelo menos 35% dos empreendimentos gaúchos são comandados por mulheres. O segmento de preferência das empreendedoras é a prestação de serviços, representado por 53%, comparado a 36% dos homens que empreendem no mesmo setor.
A forte presença feminina na área, de acordo com Andreia Cristine Gratsch do Nascimento, especialista em inteligência de negócios no Sebrae RS, se dá pela proximidade com as atividades que compreendem o segmento. "É um setor que reúne atividades como alimentação, serviços de moda, beleza, estética. Talvez por maior conhecimento e proximidade com essas atividades que existe essa presença feminina tão forte", considera Andreia.
Um dos grandes destaques da pesquisa e que, de acordo com Andreia, não é novidade no setor, é o fato de que, mesmo sendo minoria no comando de negócios, as mulheres se mantém, ano após ano, com um nível de escolaridade superior ao dos homens. Cerca de 28% das mulheres empreendedoras contam com ensino superior no currículo, enquanto apenas 17% dos homens empreendedores têm o mesmo nível de estudo.
Apesar do ensino superior, as mulheres ainda representam um número significativamente menor de pessoas que comandam negócios no Estado. "Elas costumam ser mais preparadas, tanto no ensino quanto no planejamento do seu negócio, com um cuidado maior. Mas elas ainda têm algumas dificuldades, por conta de todo um contexto histórico, acabam se sentindo menos capazes do que os homens em se colocar no mercado, mesmo que mais preparadas", reflete Andreia.
Outra observação decorrente da pesquisa é o número significativo de mulheres empreendedoras responsáveis por sustentar famílias. "Cerca de 49% delas têm a principal renda da casa, são chefes de família. Isso, durante a pandemia, foi um desafio maior. Muitas mulheres precisaram tocar os seus negócios de casa, enquanto cuidavam dos filhos, da casa e, por vezes, dos companheiros", destaca a especialista.
Com o crescente número de empreendedoras surgindo no Estado, aumentam também as iniciativas voltadas para atender esse público como grupos privados, que realizam encontros para troca de experiências, e ações pensadas especificamente para mulheres empreendedoras. "Percebemos um movimento surgindo. Muitas associações de empreendedoras, iniciativas do próprio Sebrae. As mulheres estão procurando se colocar mais nesse local, ocupar o espaço de empreendedora, mas também é uma construção cultural, uma barreira a mais a ser vencida", reforça.