Comandar um negócio é um ensinamento transmitido por mulheres de geração em geração. Na semana do Dia Internacional da Mulher, mães e filhas encontram no empreendedorismo um laço de empoderamento feminino

Gerações de mulheres comandam empresas no Rio Grande do Sul


Comandar um negócio é um ensinamento transmitido por mulheres de geração em geração. Na semana do Dia Internacional da Mulher, mães e filhas encontram no empreendedorismo um laço de empoderamento feminino

Ser mulher e estar à frente do próprio negócio pode ser desafiador. Quebrar barreiras, conquistar mercados, pleitear por respeito faz parte da rotina de empreendedoras. No entanto, há quem aprenda a enfrentar esses desafios dentro de casa. Mães e filhas encontram no empreendedorismo uma conexão, seja para tocar juntas um negócio ou para passar o bastão do comando da empresa.
Ser mulher e estar à frente do próprio negócio pode ser desafiador. Quebrar barreiras, conquistar mercados, pleitear por respeito faz parte da rotina de empreendedoras. No entanto, há quem aprenda a enfrentar esses desafios dentro de casa. Mães e filhas encontram no empreendedorismo uma conexão, seja para tocar juntas um negócio ou para passar o bastão do comando da empresa.
Esse foi o caso de Andressa de Medeiros Brum, 28 anos, que decidiu seguir a trajetória da mãe, Analisa de Medeiros Brum, 59. Há 23 anos, Analisa fundou a HappyHouse, agência especializada em endomarketing com clientes em todo País e, hoje, Andressa é quem está à frente da empresa. "Cresci aqui dentro, quando a Happy foi fundada, eu tinha cinco anos, acompanhei tudo, viajava com a minha mãe quando ela tinha reuniões com clientes em outros estados. Era encantador ver ela dando palestras, conversando com clientes. Estar aqui sempre foi um sonho, e agora está se concretizando", afirma a nova CEO, que completa, neste mês, 11 anos na empresa.
Apesar da sucessão estar sendo planejada há alguns anos, Analisa conta que buscou apresentar outras carreiras à Andressa, para que ela pudesse trilhar seu próprio caminho. "Nunca foi um plano que ela fosse uma continuidade minha, mas foi uma decisão dela, e no momento em que ela decidiu, eu a apoiei", pontua a fundadora. Quando entrou na empresa, em 2012, Andressa iniciou como assistente de atendimento, e passou por todas as áreas do negócio até se tornar sócia, em 2019, e dar início ao processo de sucessão. "Foram anos de muita conversa, feedback e, principalmente, deixar ela começar a fazer coisas no meu lugar. Durante a pandemia, trabalhamos juntas de casa, e fui ganhando muita confiança nela, vendo como ela guiava reuniões, tratava os colaboradores, ali vi que ela tinha total capacidade para gerir a Happy", declara Analisa.
Com mais de 90 colaboradores, a dupla se orgulha em contar que a empresa, que atende grandes marcas, como Renner, GOL e Burguer King, é formada, majoritariamente, por mulheres. "Nos declaramos como uma empresa feminina, não só porque somos mulheres, mas porque cerca de 70% das nossas lideranças são femininas, e 60% do nosso quadro de colaboradores é formado por mulheres", expõe a matriarca da família, que garante que, a maioria dos profissionais que saem da Happy, acabam voltando em alguns meses. "Eles sempre dizem que a Happy tem um ambiente acolhedor, humanizado, e isso tem muito a ver com esse olhar feminino, atencioso. Sempre aceitamos, isso faz parte da nossa essência, olhamos muito para as pessoas, criamos um ambiente confortável, seguro", observa.
Após trabalhar por 45 anos, o plano de Analisa, agora, é aproveitar uma nova fase da vida. "Construí o sonho da aposentadoria, aproveitar esse período. Vou seguir escrevendo, publicando, continuo sendo chamada para palestras. Posso estar presente em algumas situações, reuniões, quando fizer sentido estar lá, mas a ideia é me afastar da operação diária", explica a autora de nove livros. Para começar a nova gestão com o pé direito, Andressa iniciou 2023 conduzindo um planejamento estratégico para os próximos anos da agência. "Esse vai ser o ano para estruturar a Happy como um modelo de negócio, mesclando a agência, consultoria e treinamentos. Acreditamos que esses são os três pilares principais para evoluir a comunicação interna e o endomarketing dos nossos clientes, então pretendemos estruturar essa área para que, até 2025, a gente consiga dobrar o faturamento. Sabemos que a Happy tem um potencial para crescer, seja aumentando o número de colaboradores ou explorando novas frentes e segmentos de negócio", projeta.
Trabalhar em família, para a dupla, é um eterno aprendizado. "Não existe uma fórmula, mas acho que encontramos uma forma de fazer isso. Para mim, é um privilégio ter uma filha que queira continuar o que eu construí lá em 2000, quando não existia nenhuma empresa assim no mercado. É um privilégio saber que, a partir de hoje, posso descansar sabendo que vai continuar em boas mãos, acho que nem todo mundo tem essa sorte", enxerga Analisa, que também comenta sobre os desafios de trabalhar ao lado da filha. "Ela me deu um cansaço. Por muitos anos, convivi 24h com ela, quando a gente ainda morava juntas. Normalmente, a mulher que tem filhos, descansa quando está no trabalho, mas comigo não aconteceu isso. Era toda hora um 'mãe, tenho uma pergunta' ou 'mãe, tive uma ideia', muitas vezes era enlouquecedor, vou dar uma descansada agora", diverte-se Analisa.
Para Andressa, trabalhar ao lado da mãe é estar constantemente recebendo feedbacks. "Isso vai desde o trabalho, comentários sobre reuniões, até a roupa que estou usando, meu corte de cabelo", comenta a CEO, entre risos. "Com o tempo, nós conseguimos achar o nosso jeito. Algumas vezes, extrapolamos, conversamos sobre trabalho em casa, sobre assunto pessoal no trabalho, tudo é muito misturado, o ser humano é um só, não tem como da porta pra fora não falar sobre trabalho, mas encontramos um equilíbrio nisso, de entender qual era o nosso modo de trabalho", descreve Andressa.
 

Amor pela educação infantil atravessa gerações de mulheres na Capital

Foi a partir da necessidade de ter onde deixar os filhos para trabalhar que surgiu a Amiguinhos da Praça. escola de ensino infantil, criada por Liacy Bolognesi - mais conhecida como Dona Lia -, 85 anos, em 1986. Lia ainda frequenta a escola, mas são as filhas, Ângela Barbosa, 54 anos, e Anna Luiza Barboza, 48, que, hoje, tocam o negócio, localizado na Praça Japão, nº 203.
Liacy é professora e natural de Bento Gonçalves. Quando veio morar em Porto Alegre, sendo separada e mãe de quatro filhos, surgiu a necessidade de deixar as crianças em algum lugar, que, além de cuidar, fosse educativo. No entanto, na época, existiam poucas escolas para crianças pequenas. Assim, a casa de Lia virou uma escolinha inspirada no método Montessori - que incentiva a autonomia e liberdade individual das crianças.
As turmas contam com, no máximo, 15 alunos, e as salas de aula lembram casas, já que a Amiguinhos da Praça segue a modalidade de casa-escola, usando recursos que oferecem à criança autonomia desde os anos iniciais. "Aqui, tem tudo que a criança precisa para ter independência, trabalhando todas as áreas da inteligência", explica Ângela. A escola aceita crianças de 0 a 6 anos, e as mensalidades partem de R$ R$ 2.279,00. "Brincar, estudar e ter alegria de viver", frase de Liacy, é um dos slogans da escola.
A fundadora conta que o trabalho foi evoluindo com a receptividade da comunidade. Nos primeiros anos, o negócio tinha cerca de 80 alunos. Hoje, com 250 alunos e mais de 40 professores, Liacy e as filhas contam que o lugar já está recebendo a terceira geração de algumas famílias.
Mas não é só a geração de alunos que atravessa a história da escola. Por trás dos balcões e das salas de aulas, quem faz o negócio acontecer e o legado continuar seguem sendo os integrantes da família. Pedro Antônio Barbosa, 25 anos, neto de Dona Lia e filho de Ângela, hoje, cuida da parte financeira da escola. "Quero continuar o legado da minha avó. Ouço falar em educação e desenvolvimento infantil desde que eu nasci. Fui aluno da Amiguinhos da Praça e o exemplo que as três me deram é o que me faz ser vencedor", expõe Pedro.
Para Liacy, é uma satisfação de ver o seu trabalho seguindo com as filhas. "Na época que abri, elas eram bem pequenas e, agora, são minhas sócias. Hoje, eu nem preciso mais trabalhar, mas estou aqui todos os dias para ver as duas", conta. Anna Luiza foi a primeira aluna da escola, e, atualmente, cuida da parte administrativa do empreendimento. "Para mim, tudo isso é muito natural. Fui a aluna número um e, agora, trabalho aqui. Estamos sempre pensando em como melhorar a escola, sempre olho muito os detalhes", conta.
As irmãs destacam a admiração pelo trabalho da mãe e a inspiração em sua trajetória. "Fui a primeira a trabalhar com a minha mãe, e sempre consegui aprender muito com ela. Trabalhamos em família, então, às vezes, levamos o trabalho para o jantar, mas temos uma forte ligação de amor e admiração uns pelos outros", destaca Ângela, que coordena a área de saúde mental da escola.
Para a família, um dos principais motivos da durabilidade do negócio é a seriedade e o comprometimento com a educação. "Isso é um trabalho da família. Começou comigo, e agora vai seguir com elas, juntas", garante Liacy.
 

Macarrons decorados são aposta de mãe e filha em Porto Alegre

A Festa de Babette é um clássico do cinema dinamarquês que foi agraciado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1988. Um filme que pode ter sido um simples entretenimento de um longínquo sábado à tarde para alguns marcou a vida de Rove Chishman, 59 anos, mãe de Alice Chishman, 19. A culinária francesa, abordada na produção audiovisual, impactou a trajetória da família. Foi a partir dessa inspiração que a dupla decidiu explorar a pâtisserie parisiense por meio da confecção de macarons, um pequeno biscoito suculento e recheado feito com farinha de amêndoas. O negócio acabou ganhando o nome da personagem interpretada por Stéphane Audran: Babette, como também Rove ficou conhecida no ramo da confeitaria.

A Babette Macarons começou, em 2016, como um hobby entre mãe e filha, feito em casa, para a família. Rove, ou melhor, Babette, resgatou sua vocação pesquisadora enquanto professora universitária e se debruçou em livros e em artigos para vasculhar uma nova área, a confeitaria francesa. “Tive que aprender a precificar, conhecer o mercado, pesquisar a concorrência. Isso requereu muita determinação”, conta Babette, com orgulho de, mesmo consolidada no segmento educacional, ter aceitado novos desafios.
Juntou-se a ela sua filha caçula, Alice, que ficou responsável pela personalização dos macarons devido a sua ênfase artística. “A Alice tem um senso estético muito apurado. Falando como consumidora, isso sempre me chamou a atenção na confeitaria”, diz a confeiteira. Acharam, em suas novas funções, paixões camufladas pelas incessantes rotinas nos prédios de Letras e Engenharia, respectivamente. Hoje, Rove prioriza apenas a produção na cozinha, deixando de lado os assuntos acadêmicos. Já Alice, segue frequentando a faculdade, mas vê na Babette Macarons uma oportunidade de aprender e iniciar a vida profissional. “As pessoas valorizam esse meu lado empreendedor”, diz Alice, que também sonha em seguir a carreira como engenheira.

Mãe e filha contam que enfrentam muitos desafios de convivência ao prepararem as encomendas, que, muitas vezes, demandam larga escala, especialmente quando se trata de um evento. “A nossa intimidade acaba sendo um ponto, ao mesmo tempo, positivo e negativo”, destaca Alice, que vê a sinceridade uma via de mão dupla no que tange o ramo dos negócios. Mas, em geral, elas garantem descontração durante a produção, orgulhando-se do trabalho uma da outra, principalmente Babette, que, sempre que pode, rasga elogios à filha. “Enxergo uma oportunidade preciosa para a minha filha, que tem envolvimento com empreendedorismo e grandes responsabilidades, desde os 15 anos. Ela descobriu habilidades que nem sabia que tinha”, percebe a empreendedora.

A técnica de Alice com os pincéis e as canetas para confeiteiros é, segundo a mãe, que sempre fala com os olhos brilhando, a cereja do bolo, ou melhor dizendo, do macaron. As personalizações podem surgir a partir de inspirações dos próprios clientes ou simplesmente da criatividade de Alice, que começa com rabiscos no papel e, depois, migra para os biscoitos. O cuidado nos mínimos detalhes se mantém na cozinha para o macaron ficar perfeito – molinho por dentro, crocante por fora e com um recheio adocicado na medida exata. “Macaron é o doce mais difícil da confeitaria, porque envolve uma série de questões, que vão desde a qualidade dos insumos até clima”, comenta Babette. Essas características fazem o produto, segundo elas, enquadrar-se numa categoria de luxo devido à exclusividade e autenticidade dos macarons.
A Babette Macarons oferece 14 sabores diferentes do doce, sendo os mais pedidos os de chocolate belga, caramelo com flor de sal e frutas vermelhas. Os itens podem ser adquiridos em formato avulso ou em torre, este produzido majoritariamente para eventos. A escolha entre um macaron simples ou decorado também pode afetar o preço dos itens. No negócio, 10 unidades custam R$ 60,00, aumentando o valor em caso de necessidade de caixa decorada.

Para o futuro, a família pensa em, quem sabe, sair da produção em casa e ir para um ateliê próprio, o que, percebem elas, permitiria mais organização para a dupla, que reclama da necessidade de conciliar a rotina da residência com a da Babette Macarons.

Elas destacam, por fim, um lançamento para a Páscoa: minitortas de 8 cm e 16 cm. Tanto os macarons quanto o novo produto podem ser encomendados pelo Instagram (@babettemacarons) ou pelo WhatsApp: (51) 99696-3818. Entregas podem ser feitas de acordo com a distância do bairro Rio Branco, onde também pode ser realizada a retirada dos biscoitos.

Família homenageia imigração italiana em restaurante de Garibaldi

Há 22 anos operando como uma opção gastronômica e cultural para os moradores e turistas de Garibaldi, na serra gaúcha, a Osteria Della Colombina é um empreendimento familiar fundado por Odete Bettú Lazzari, 73 anos, em 2001. Hoje, ela toca o espaço ao lado das filhas Rosângela, Raquel, Roselaine e Raísa. O restaurante passou pelas páginas do GeraçãoE em 2017, em uma edição especial de inverno, e, de lá para cá, muita coisa mudou.
Apesar do objetivo do espaço seguir o mesmo, homenagear a história da imigração italiana, agora, a trajetória das mulheres da família Bettú Lazzari também faz parte da decoração e temática da operação. "Estamos ampliando três partes da casa. Serão três ambientes temáticos, como se fosse a sala da família, o quarto da dona Odete e um quarto nosso, de crianças, com retratos, objetos, até o berço que todas nós utilizamos. Uma história mais recente, mas que também forma a Osteria", adianta Raísa. Além dos novos espaços, a empreendedora comenta que, nos últimos anos, o restaurante investiu muito em tecnologia, tanto na área da agricultura, quanto na cozinha. “Buscamos manter a originalidade, mas criamos novos produtos. Estamos com uma consultoria, elaborando novos pratos com receitas antigas da mãe. Também temos novos expositores para nossa linha de produtos, com geleias, capeletis congelados, sorvetes, para os clientes levarem um pouquinho da Osteria para casa”, pontua.
Sobre trabalhar ao lado da mãe e das irmãs, Raísa acredita que é justamente o fato de conhecer a personalidade de cada uma que faz com que o trabalho flua de forma leve. “Cada uma tem sua área definida, é responsável pelo seu setor, então nós nos somamos, acaba fluindo de uma forma leve. Claro que, às vezes, tem umas briguinhas, coisas de irmã, mas sempre passa rápido e quase nunca é relacionado ao trabalho”, admite a caçula da família, ressaltando que, por terem crescido junto com a Osteria, o amor pelo negócio surgiu, para todas as irmãs, de uma forma muito natural. “No início, eu era criança, mas minhas irmãs estavam fazendo suas formações em outras áreas. Acabamos nos envolvendo e ajudando, de uma forma ou de outra, mas cada uma veio no seu tempo, não foi uma obrigação”, destaca Raísa, responsável pela parte administrativa.
Mesmo aos 73 anos de idade, Odete ainda é a responsável por todos os preparos culinários da casa, mas, hoje, conta com o apoio da filha Raquel na cozinha. “Minha mãe tem uma energia por si só, ela que faz a gente se movimentar. É a mais experiente, mas é quem faz com que a gente esteja sempre se renovando, correndo atrás de novas oportunidades”, comenta Raísa, que ressalta a admiração que sente pela mãe. “Cada vez admiro mais a minha mãe por começar um negócio em uma região que só tinha a promessa de turismo, não era uma realidade ainda. Além da admiração, como empreendedora, ela me ensina muito, como tomar cuidado com as nossas iniciativas, decisões, mas, acima de tudo, a saber se reinventar durante as crises. Em uma perda, uma crise familiar, ela soube se reinventar através de um negócio, não só financeiramente, mas para a vida, como mulher e empreendedora”, define Raísa.