A vontade de trabalhar com música sempre fez parte da vida de Leonardo Braga, 28 anos, e Bruno dos Anjos, 26. Após alguns anos trabalhando na área de produção audiovisual, a dupla decidiu unir forças e abrir o próprio negócio. Sendo assim nasceu, em 2019, o OCorre Lab, laboratório de criação de conteúdo musical no bairro Partenon, em Porto Alegre.

“Digo que nós sempre fomos péssimos freelancers, não sabíamos vender o nosso trabalho de forma independente” conta Bruno, que, assim como Leonardo, atuava em agências de publicidade, mas também produzia trabalhos solos. “Querendo ou não, a gente acabava se sentindo mais seguro por estar debaixo desse ‘guarda-chuva’ empresarial, então isso foi um salto no escuro, uma aposta incerta, mas que está dando muito certo”, declara. Com quatro anos de operação, o OCorre já desenvolveu cerca de 300 produtos, variando entre produção sonográfica, audiovisual, executiva e design.

Ainda que com bastante experiência na área musical, gerir e comandar um negócio, principalmente no primeiro ano, foi um grande desafio para a dupla. “Trabalhando como funcionários em outras empresas, ou até como freelancer, era sempre só colocando a mão na massa, seja gravando, editando ou produzindo, e ter uma empresa é ter mais uma camada administrativa em cima disso tudo”, diz Bruno. “A empresa precisa se divulgar, se vender, tem que ter um orçamento, um fluxo de caixa. Foi aos poucos que conseguimos dar esses passos, por conta disso, hoje já contamos com mais gente na equipe, temos seis pessoas que trabalham conosco, em paralelo à outros serviços, e ainda, dependendo da demanda, atuamos com parceiros”, afirma.

Apesar de sentirem o abalo econômico causado pela pandemia, os sócios relembram que o período, felizmente, foi de muito trabalho. “A cultura sofreu de uma forma geral, disparado um dos setores que mais sentiu, mas, como a gente estava nessa posição de produção de materiais, fazendo o trabalho que vinha antes do show, antes dos artistas irem para estrada, continuamos tendo bastante serviço”, admite Bruno, destacando que, durante o tempo de isolamento social, as demandas digitais cresceram muito, “Ficou muito mais intenso, todo mundo queria lançar um clipe, uma música, fazer uma live”, acrescenta Leonardo.

Uma dos grandes aprendizados da dupla com relação ao setor foi conseguir enxergar, como gestores de um negócio, quem são os seus clientes. “Pensávamos que íamos atender muitos artistas independentes, gente querendo lançar videoclipe, gravar música e, apesar de isso compreender grande parte dos nossos clientes, também não é suficiente para manter uma empresa, foi quando notamos essa oportunidade de produção executiva”, explica Bruno. Instituições como a Casa de Cultura Mário Quintana, Opus Entretenimento e Instituo Goethe já trabalharam em parceria com o OCorre, que oferece serviços de gestão e curadoria. “Colocamos o projeto em ordem, ajudamos a organizar e fazer acontecer”, pontua.

Outra lição que os sócios trazem, que também pode ser vista como um desafio, é a incerteza no futuro da profissão. “Nós sempre falamos que não sabemos o que vai acontecer, mas alguma coisa vai. O mercado está em constante movimento, muda o tempo todo, e a gente precisa ir atrás, não dá para sentar e esperar”, expõe Leonardo, que descreve o trabalho na área como uma espécie de vício. “Viver de música é emocionante ao mesmo tempo que é desafiador, como se o passo que tu vais dar a seguir sempre estivesse em falso”, compara Bruno.