Ansiedade, burnout, estresse. Essas palavras estão cada vez mais presentes no vocabulário corporativo e de quem empreende. Cuidar da saúde mental pode ser importante, inclusive, para o seu negócio

É hora de focar na saúde mental


Ansiedade, burnout, estresse. Essas palavras estão cada vez mais presentes no vocabulário corporativo e de quem empreende. Cuidar da saúde mental pode ser importante, inclusive, para o seu negócio

Todo empreendedor ou empreendedora de sucesso já passou por períodos difíceis, momentos de dúvidas e estresse. É normal. O que não é normal é deixar que isso tome conta do dia a dia e do negócio.
Todo empreendedor ou empreendedora de sucesso já passou por períodos difíceis, momentos de dúvidas e estresse. É normal. O que não é normal é deixar que isso tome conta do dia a dia e do negócio.
Segundo Ana Maria Rossi, psicóloga especializada no tratamento do estresse e presidente da associação que aborda o tópico, a International Stress Management Association (ISMA-BR), "é extremamente importante falarmos não apenas sobre saúde mental no ambiente de trabalho, mas no equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional".
De acordo com Ana, o tema ganhou grande destaque no mercado após a pandemia, visto que muitos empreendedores, principalmente os que estão à frente de pequenos negócios, viveram, na prática, esse desequilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho. "Isso acaba criando uma dificuldade na hora de gerenciar as relações, também afetando a concentração que pode levar a uma maior irritabilidade", alerta.
Além da saúde mental, essa instabilidade pode afetar a saúde física, causando alteração na pressão arterial e aumento da frequência cardíaca.
Com base em pesquisas desenvolvidas pela ISMA, a psicóloga garante que um dos principais fatores que afeta a saúde mental dos empreendedores é a incerteza. "Pensar no futuro de um negócio já pode ser difícil, mas se torna ainda mais devastador entre pessoas com ansiedade. Quando o indivíduo é ansioso, há um maior risco de crises de pânico, que chegaram a aumentar em 12,5% após a pandemia", declara.
Crises de pânico, segundo Ana, ocorrem quando se chega a um nível máximo de exaustão e ansiedade. "É como se uma fiação muito antiga entrasse em curto após uma sobrecarga pelo uso de muitos aparelhos eletrônicos simultaneamente. Isso ocorre, normalmente, quando as pessoas não conseguem mais lidar com uma sobrecarga emocional", explica.
Em situações como essa, a especialista indica que a primeira coisa a se fazer é avaliar as prioridades. "É importante fazer uma autoavaliação para saber como está o gerenciamento da vida. Se tiver dificuldade para essa autoanálise, pode considerar o que os outros estão dizendo a seu respeito, se a pessoa está sendo vista como muito irritada ou agressiva nos últimos tempos, por exemplo", expõe, garantindo que, após feito isso, pode-se enxergar o que está ao alcance e que é possível ser alterado. "Devemos analisar o que pode ser mudado para tornar a vida mais confortável e evitar o burnout", completa.
O assunto virou pauta recente devido ao Congresso do Stress, organizado pela ISMA-BR e que está ocorrendo esta semana em Porto Alegre. Iniciado no dia 21 e com encerramento marcado para hoje, tem o objetivo de compartilhar e divulgar as informações e tendências sobre a área.
 

Comunicação não violenta ajuda a melhorar ambiente

 Logo nos primeiros anos de vida as pessoas são ensinadas a comunicar o que sentem, pensam e querem. Ao longo do tempo, esse ensino é lapidado: colégio, vestibular, faculdade, trabalho. Cada etapa da vida exige uma nova forma de comunicação, sempre mais formal e rebuscada que a anterior.
De acordo com a jornalista e escritora Ana Holanda, uma comunicação afetuosa necessita que se volte ao início de tudo isso.
Ana esclarece que, recentemente, têm realizado diversos workshops e treinamentos sobre o tema para empresas dos mais diversos segmentos. "Elas estão cada vez se preocupando mais, tanto com a comunicação externa quanto a interna. Estão se preocupando em ter uma comunicação mais próxima e humana", certifica.
A especialista em escrita afetuosa afirma que são dois os pilares principais a se ter em mente na hora de se comunicar: o eu e o outro. "Se você se coloca como gestor e vai passar uma mensagem, um recado para a sua equipe, isso se torna mais duro. Agora, se você se coloca como uma pessoa que vai falar com outra pessoa, a comunicação naturalmente flui de forma mais humana", diz.
"Uma questão muito grande quando a gente se comunica dentro de uma empresa é que costumamos carregar somente uma parcela de quem somos, como nosso cargo, profissão. Mas a gente devia se carregar por inteiro. É isso que nos torna mais humanos", garante.
Ao se apresentar para um desconhecido, por exemplo, é muito comum citar a sua ocupação para se descrever, mas a jornalista reforça a importância de desvincular-se de rótulos. "Isso faz a gente esquecer que o outro é uma pessoa. Você está falando com alguém que também tem sonhos, também tem problemas. Ter essa percepção acaba nos aproximando mais", expõe.
Durante o dia a dia, principalmente no ambiente de trabalho, seja qual for a área de atuação, são utilizados jargões e termos técnicos, muitos em inglês.
"Comunicar-se de forma simples não é tão fácil quanto parece, as pessoas não se dão conta de que os outros nem sempre são capazes de entender o que estamos dizendo", declara.
Uma dica que a escritora compartilha para praticar uma comunicação mais próxima, por exemplo, é escrever um texto descrevendo quem você é, de onde veio e que história carrega consigo. Ir além do seu trabalho.
"Ajuda manter esse texto por perto, ao lado do seu computador, no escritório, para que se lembre que é dali que deve nascer a sua comunicação", afirma, ressaltando que um bom gestor é aquele capaz de se fazer entender para todos.
 

Habilidades nem tão técnicas estão em alta no mercado

As mudanças dentro de ambientes corporativos vão além do cargo de gerência. Mais do que conhecimento técnico, muitas organizações têm valorizado as habilidades comportamentais de seus colaboradores. É o que diz Luciana Schenk Duque, sócia da Consultoria Kienbaum e especialista em mapeamento de competências. "O mercado, os investidores e empresas de capital aberto já estão cobrando que as instituições sejam mais diversas e tenham propósitos claros", declara.
Segundo Luciana, uma das principais competências exigidas atualmente é a adaptação com flexibilidade. "Não existem mais os ambientes estáveis, com hierarquia definida, mesmo no emprego público, onde empresas são privatizadas. Estamos vivendo uma era de instabilidade, e as pessoas precisam estar preparadas e menos resistentes à mudança", garante.
Outro aspecto levantado pela especialista é a diversidade. De acordo com ela, as empresas que, atualmente, estão ganhando mais destaque no mercado são aquelas que levam as diferenças em consideração na hora de formar a sua equipe. "Características, backgrounds e olhares diferentes representam novas abordagens para solução de problemas e tomadas de decisão", explica.
Em uma era de competências multidisciplinares, Luciana afirma que as empresas estão procurando, cada vez mais, por pessoas com sede de conhecimento. Investir em sua própria formação e ter disponibilidade para aprender e absorver novos conteúdos pode ser um grande diferencial.
Com isso, também ganha destaque a capacidade em resolver problemas por conta própria. A consulta esclarece que essa competência tem relação com o "senso de dono", ou seja, as empresas passam a incentivar um ambiente de contexto e confiança, onde esperam que seus colaboradores assumam mais responsabilidades, tomem decisões ágeis e resolvam problemas.
"Isso representa menos comando e controle e mais autonomia", aponta.
"É preciso saber lidar com emoções e relacionamentos e extrair deles uma experiência positiva. Manter a calma, não entrar em conflito e estabelecer relações construtivas fazem parte das competências de trabalho e contribuem para que não se entre em uma rota de estresse pessoal e profissional", constata Luciana, também palestrante do 22º Congresso de Stress e QVT da ISMA-BR.