Eduardo Parucker, CTO do Mission Brasil

Na América Latina, quase metade das companhias já incorporaram IA em suas operações

Muito além da automação: IA é o novo eixo para inovação das indústrias

Eduardo Parucker, CTO do Mission Brasil

Na América Latina, quase metade das companhias já incorporaram IA em suas operações

No mundo corporativo moderno, é difícil encontrar qualquer tema que tenha gerado mais interesse do que a Inteligência Artificial. Tendo como característica principal a possibilidade de automação de tarefas repetitivas, redução de custos e o aumento da produtividade, a tecnologia já ganhou espaço suficiente para ser reconhecida como uma ferramenta indispensável. E os números comprovam: em 2024, 72% das empresas globais já a adotaram, contra 55% no ano anterior, segundo estudo da Randstad. Na América Latina, quase metade das companhias já incorporaram essa tecnologia em suas operações.
Embora tais objetivos sejam legítimos, essa abordagem meramente técnica e restrita à área de TI ignora o que é, de fato, o potencial mais transformador da IA: ser uma plataforma de reinvenção. A capacidade desse recurso é tamanha que a discussão sobre seu entorno parece longe de encarar todas as suas potencialidades, como a de reconfigurar indústrias inteiras, reinventar modelos de negócio e inaugurar uma nova lógica de valor.
Hoje, ainda é comum ver empresas tratando a IA como mais um projeto dentro do portfólio de tecnologia. Essa postura se dá por conta de duas possibilidades: a falta de conhecimento e, a mais provável, uma resistência estrutural, em que é mais fácil aplicar a ferramenta para acelerar processos já existentes do que questionar se eles ainda fazem sentido. Neste segundo caso, já está bem evidente que o verdadeiro salto competitivo exige, na verdade, desaprender práticas enraizadas.
Três ondas demonstram esse potencial de transformação. A primeira delas está na hiperpersonalização dos produtos e serviços. Com base em dados comportamentais e contextuais, a IA permite experiências moldadas individualmente, como já ocorre na medicina de precisão, por meio de tratamentos moldados por informações genômicas individuais, e nos novos automotivos com foco em "mobilidade como serviço", que são sustentados por algoritmos que aprendem com o comportamento dos motoristas. A solução deixa de ser uma entrega pontual e passa a ser uma experiência, responsiva e adaptativa, tendo a IA como a grande responsável pela oportunidade.
A segunda onda diz respeito à aceleração da inovação. Tecnologias como digital twins, ou gêmeos digitais, permitem simular produtos, comportamentos e ambientes antes mesmo que eles existam fisicamente. Isso reduz drasticamente o tempo entre ideia e prototipagem, eliminando a necessidade de ciclos longos e lineares. Logo, o ciclo de inovação, antes linear e demorado, passa a ser ágil, experimental e interativo, gerando uma vantagem competitiva imensa em mercados voláteis.
Já a terceira está no modelo de valor, em que o recurso permite a criação ou até a transição de empresas isoladas para ecossistemas inteligentes. Grandes startups se utilizam da IA para a orquestração de redes complexas e dinâmicas, coordenando variáveis em tempo real.
Diante disso, é hora de mudar a pergunta base da transformação. Em vez de se questionar “onde aplicar a inteligência artificial?”, as lideranças deveriam avaliar: “se minha empresa fosse fundada hoje, com IA no centro, como ela seria?” Essa reflexão expõe o abismo entre o modelo atual e o que será necessário para competir em um cenário breve moldado por tecnologia de ponta, inteligência artificial, blockchain, IoT e biotecnologia. Nesse novo contexto, o papel do CEO não passa por saber programar, mas posicionar sua marca com a IA já estrategicamente programada.

A inteligência artificial é, em última instância, uma nova linguagem. E como toda linguagem, ela redefine não somente o que é possível dizer, mas o que é possível imaginar. Usá-la apenas para revisar o passado é desperdiçar sua potência para o futuro. Os líderes que entenderem isso primeiro e agirem com coragem e discernimento serão os primeiros a provar dessa capacidade. 
ARQUIVO PESSOAL/JC
Eduardo Parucker, CTO do Mission Brasil
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