Representando um investimento atualmente estimado em cerca de R$ 200 milhões, a pequena central hidrelétrica (PCH) Saltinho recebeu nesta terça-feira (29) a sua licença ambiental de instalação. O documento foi repassado aos empreendedores responsáveis pela usina durante a realização da 46ª Expointer, em Esteio.
O presidente da Saltinho Energética, Claudio Vignatti, informa que as obras do empreendimento devem começar nos próximos 30 dias e a meta é colocar a hidrelétrica para operar até janeiro de 2025. O complexo será erguido no rio Ituim, entre os municípios de Ipê e Muitos Capões. No canteiro de obras é esperado, no pico dos trabalhos, a ocupação de mais de 200 pessoas.
A PCH já garantiu a comercialização da sua geração ao vencer um leilão de energia, promovido pelo governo federal, em maio do ano passado. A usina terá uma capacidade instalada de 27 MW, suficiente para atender a uma cidade com aproximadamente 100 mil pessoas e contará com financiamento do BRDE. "Trabalhamos com uma modalidade de 40% de capitalização entre os investidores, com recursos próprios, e 60% financiado", detalha Vignatti.
Já o diretor-presidente da Associação Gaúcha de Fomento às PCHs (AGPCH), Paulo Sérgio da Silva, enfatiza que o licenciamento da hidrelétrica é importante para o setor como todo. Silva salienta que hoje há cerca de 100 processos de PCHs e Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs) tramitando para conseguir suas licenças na Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam).
"E queremos que cada vez mais esses procedimentos sejam mais ágeis”, defende o dirigente. Ele adianta que o Estado tem muito potencial para desenvolver nesse segmento. O integrante da AGPCH sugere uma revisão do mapa de diretrizes hidrológicas do Rio Grande do Sul para analisar a possibilidade de expandir as áreas viáveis da construção de barragens.
A secretária estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), Marjorie Kauffmann, acrescenta que uma das vantagens das PCHs é o fato de se tratar de uma energia descentralizada, ou seja, não precisa de grandes investimentos em novas linhas de transmissão para escoar a sua geração até os centros de cargas. Além de conceder a licença de instalação para a PCH Saltinho, Marjorie participou nesta terça-feira da palestra “Agro é futuro, agro é Energia”, na Casa da Farsul, na Expointer. Os temas energéticos têm sido recorrentes na feira deste ano.
Na segunda-feira (28), a secretária apresentou em Esteio a quarta fase do programa Energia Forte no Campo, que prevê investimento de R$ 31 milhões para aprimorar a estrutura de energia no meio rural. Até agora, nessa etapa da iniciativa, foram selecionados projetos de cinco cooperativas: Certel, Creral, Coprel, Coopernorte e Certaja. "A iniciativa trabalha com melhorias do sistema de energia elétrica rural", resume Marjorie. Ela argumenta que o programa deve seguir sempre evoluindo. Dentro dessa lógica, a secretária revela que o governo gaúcho avalia incluir dentro do escopo do programa, que tem como uma das suas características principais a ampliação das redes trifásicas, a possibilidade de auxiliar também na construção de subestações de energia.
Para esta quarta-feira (30), Marjorie assinala que será lançada a política estadual quanto ao hidrogênio verde, com a efetivação de um decreto indicando quais são os atores e as possibilidades de financiamento e subsídios para essa cadeia. Por sua vez, o presidente do Sindicato das Indústrias de Energias Renováveis do Rio Grande do Sul (Sindienergia-RS), Guilherme Sari, frisa que os setores de energia e do agronegócio têm muita sinergia para aproveitarem.
O dirigente vê muito potencial para o crescimento das bioenergias (biogás e biomassa, com geração de energia através de resíduos da produção agropastoril). "Começou como uma ideia de descarte de rejeito, mas hoje já é visto como um diferencial competitivo", aponta Sari. Ainda na área de energia e do agronegócio, ele ressalta que um ponto que precisa ser motivo de atenção é evitar que o uso compartilhado do solo para as duas atividades, especialmente quanto à geração eólica, atrapalhe o financiamento dos produtores rurais com os bancos. Essa situação de compartilhamento de área pode ocasionar alguns problemas burocráticos e legais no momento, por exemplo, de colocar um terreno como garantia de empréstimo.