O surgimento de uma técnica de gestão de informações detalhadas da lavoura aprimorou a precisão do plantio nas propriedades rurais. No Colégio Politécnico da Universidade Federal da Santa Maria (UFSM), o sistema passou a ser desenvolvido a partir do projeto Advanced Farm 360, criado pelo professor Luciano Pes e pelo qual ele recebeu o Prêmio O Futuro da Terra.
O reconhecimento, na categoria Preservação Ambiental, ressalta a atuação do programa na busca da racionalização do uso de insumos a partir do estudo da variabilidade espacial dos atributos químicos, físicos e biológicos de solo, plantas, pragas e doenças. "Podemos considerar a criação do Mestrado Profissional em Agricultura de Precisão, em 2010, como a primeira iniciativa que fomentou o desenvolvimento deste segmento na instituição. Somado ao Mestrado Profissional, passamos a investir na aquisição e atualização de máquinas e implementos com tecnologias embarcadas, para o desenvolvimento de atividades na faculdade", explica Pes.
Os impactos destes estudos ultrapassam as fronteiras do campus. Com a inclusão de um curso técnico voltado à essa área de ensino, em 2019, iniciou-se a aproximação da instituição com o setor privado, principalmente com empresas de máquinas e implementos agrícolas, bioinsumos, plataformas digitais, fertilizantes, entre outras, para possibilitar a realização de aulas práticas com tecnologia de ponta. Segundo o professor, "isso possibilitou a formalização de diversas parcerias público-privadas, com resultados positivos para todos os envolvidos".
A fim de potencializar os estudos deste segmento no colégio, dois anos mais tarde este projeto passou a integrar oficialmente o calendário das atividades voltadas às práticas agrícolas. O processo de implantação, condução e colheita das culturas passaram a ser realizadas por alunos, como um laboratório para a realização de atividades por meio das quais os envolvidos têm a oportunidade de vivenciar no dia a dia a realidade de uma propriedade agrícola.
"Porém, é importante destacar que essas culturas agrícolas são implantadas com um viés de pesquisa, onde são testados diferentes produtos ou tecnologias, com intuito de validá-las para as condições de clima e de solo da região. Dessa forma, a pesquisa também permeia o projeto, com a atuação de estudantes de cursos técnicos, graduação e pós-graduação", afirma o coordenador da pesquisa. Finalizando esse ciclo, os resultados são transferidos para os agricultores em ações como Dias de Campo e palestras. Dessa forma, o projeto trabalha com o ensino, a pesquisa e a extensão de forma indissociável.
A linha de pesquisa da Agricultura de Precisão também pode ser considerada mais sustentável ambientalmente, comparada com a agricultura convencional. Além disso, ela envolve aspectos que transcendem as questões econômicas, à medida que se relaciona com a produção de alimentos e a preservação da natureza, o que interfere diretamente na qualidade de vida das populações. No que se refere à sustentabilidade, o projeto foca dois temas principais: bioinsumos e plantas de cobertura do solo. Segundo Pes, "o primeiro pilar tem promovido uma revolução na agricultura pela sua capacidade de potencializar a produtividade das culturas e auxiliar no manejo de pragas e de doenças, possibilitando uma redução drástica na utilização de defensivos químicos e até, em alguns casos, substituir completamente esses produtos".
As plantas de cobertura do solo são fundamentais para a melhoria das propriedades químicas, físicas e biológicas do solo, gerando produtividade. Atualmente, a coordenação do projeto divide-se por áreas de formação, com Pes (solos), Ivan Maldaner (produção vegetal) e Marcelo Farias (mecanização agrícola).