Na banca 122 do Pavilhão da Agricultura Familiar da Expointer, quem passa pelos corredores pode provar e levar para casa o queijo serrano dos Campos de Cima da Serra. O espaço, que chama atenção pelo aroma forte, reúne a produção de seis pequenas agroindústrias de São José dos Ausentes, Bom Jesus e São Francisco de Paula. A proposta é simples: unir forças para dar visibilidade a produtores que, sozinhos, dificilmente teriam condições de marcar presença em uma feira do porte da que ocorre no Parque Assis Brasil, em Esteio.
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A organização foi possível graças à união de duas associações – a Aprocampos e a Aprosãochico -, que se mobilizaram para levar ao parque agroindústrias de base familiar. “São produtores pequeninhos: pai e filho, marido e mulher... Muitos não teriam como estar aqui sem essa parceria”, explica Mariana Amaral, responsável pelas vendas no estande.
Entre os participantes estão a Fazenda Souza Pereira e o Caminho das Tropas, de São José dos Ausentes; o Serra do Pinheiro e o Pelizzari, de Bom Jesus; além do Sopro do Minuano e o Bolicho do Chapéu, de São Francisco de Paula. Até a metade da feira, três deles já tinham vendido todo o estoque levado a Esteio. “A produção é menor em relação às outras bancas, mas a receptividade do público tem sido ótima. Já vendemos mais de 70% do que trouxemos”, conta Mariana.
Mais do que vendas, a banca se transformou em vitrine da tradição da Serra gaúcha. O modo de fazer o queijo serrano é reconhecido como patrimônio imaterial do Rio Grande do Sul e carrega características únicas de cada localidade. Produzido a partir de gado de corte criado a campo, sua elaboração é marcada por fatores que vão da altitude ao tipo de pastagem, passando pela técnica individual de cada queijeiro.
“É a digital de cada território. Cada produtor entrega um sabor diferente, mais suave ou mais picante. Os de São José dos Ausentes, por exemplo, costumam ser mais fortes, talvez pela altitude maior. Já em 'São Chico', os queijos tendem a ser mais suaves”, detalha.
Essa diversidade também explica o comportamento dos consumidores. Segundo Mariana, muitos visitantes preferem levar mais de uma peça. “Normalmente compram meia peça de cada, para comparar. O queijo do Serra do Pinheiro, que é mais suave, agrada bastante. Mas quem gosta de queijo mais forte se encanta com os de São José”, afirma.
Para os produtores, a experiência reforça a importância da cooperação. “Lá no interior, cada família cuida da sua produção, muitas vezes em escala pequena, sem funcionários. É leite tirado de vaca crioula, criada a campo, que dá seis ou sete litros por dia, bem diferente das vacas leiteiras. Por isso a escala é limitada e a união acaba sendo a saída para estar presente num evento desse tamanho”, resume Mariana.
Na prática, a pequena banca transformou-se em palco de valorização de um produto que sintetiza a identidade da Serra gaúcha. Assim, entre histórias de famílias, receitas caseiras e sabores únicos, os visitantes da Expointer encontram não apenas queijo, mas um pedaço da cultura de São José dos Ausentes, Bom Jesus e São Francisco de Paula.