Thiago Copetti, especial JC
Reverter o baixo consumo de carne de ovinos no Brasil está entre os desafios assumidos pela indústria da carne em 2026. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o frigorífico Carneiro Sul, maior abatedor do setor no Estado, a primeira tarefa na agenda é angariar mais pecuaristas para a atividade, antecipa João Bernardo da Silva, um dos fundadores da empresa e diretor comercial.
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“Temos demanda, mas nos faltam animais para abate. Assim, antes de atuarmos para popularizar um pouco mais o consumo, queremos ter mais ovinos produzidos no Estado. Após essa etapa, sim, reforçaremos campanhas para que a carne vá para a cozinha dos gaúchos no dia a dia”, explica o executivo.
Entre as ações já adotadas pelo frigorífico estão, por exemplo, bonificação para produtos de maior qualidade, com o selo Cordeiro Premium, criado em parceria com a Secretaria Estadual de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sict). A ideia também é ter carne rastreada e cortes mais nobres, voltados à alta gastronomia.
“Já temos uma tendência de valorização, com alta de preço estimulando ainda mais o produtor. O Carneiro Sul elevou, do ano passado para cá, aproximadamente 25% essa remuneração. Queremos que, na hora de produzir e vender, os criadores nos enxerguem como principal opção”, revela Silva.
Presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos (Arco), Edemundo Gressler, confirma que os preços pagos ao produtor são bastante positivos - atualmente em R$ 12,00 o quilo. Gressler também sinaliza com novas ações, em 2026, para ampliar consumo e receita oriunda da ovinocultura.
“Estamos iniciando tratativas para passarmos a ter transmissão em vídeo, dentro dos frigoríficos, para que o produtor acompanhe a avaliação da carne e receba a mais pela qualidade do produto, quando for diferenciada”, conta Gressler.
Com bons preços e demanda, Gressler diz que a estabilidade no rebanho gaúcho, em cerca de 3 milhões de cabeças, é uma incógnita.
“Creio que com o estímulo da indústria, indo a campo, fomentará essa atividade, o cenário mudará em breve. A ovinocultura tem um ciclo curto, que pode ser de oito meses, permitindo um bom e frequente ingresso de receita à propriedade”, pondera o presidente da Arco.
Gressler avalia, por exemplo, que ao colocar no varejo proporções menores da carne, o consumo nas grandes cidades já terá um bom estímulo para colocar mais ovinos na panela e no forno. O consumo médio da carne ovina no Brasil é de 400 gramas per capita, ante mais de 30 kg de carne bovina. Nessas 400 gramas, pondera o executivo da Carneiro Sul, grande parte é representada por produtos do Uruguai.
"Temos muitas oportunidades para produtores brasileiros e, claro, gaúchos, pela aptidão no Rio Grande do Sul à produção do cordeiro, proximidade cultural, tecnologia e expertise, além de conhecimento técnico e empresarial. A partir do Estado podemos produzir ovinos para todo o Brasil. Não estamos aproveitando um mercado super positivo e com grande potencial para alcançar novos mercados”, ressalta Silva.
A atividade em números
Animais no RS
3,3 milhões
Número de propriedades
47,77 mil
Onde estão
Embora presente em 496 municípios, a ovinocultura gaúcha está concentrada principalmente em 30 municípios, que totalizam 72% do rebanho, especialmente na Metade Sul do Estado
Abates
Em 2023, os produtores do Rio Grande do Sul encaminharam para abate 253.148, ovinos. Este foi o maior volume de animais abatidos desde 2014, quando foram abatidos cerca de 267 mil animais.