Thiago Copetti, especial JC
A soma dos impactos do tarifaço norte-americano ao cenário macroeconômico nacional está elevando o nível de preocupação dos empresários gaúchos neste segundo semestre de 2025 - assim como sobre o início de 2026. A elevada taxa de juros Selic está entre os grandes fantasmas que assombram indústria e varejo.
O custo do dinheiro no Brasil foi unanimidade como o fator de maior atraso para o desenvolvimento do País, para as vendas do comércio e para o setor produtivo. Foi esta a avaliação dos executivos entrevistados pelo Jornal do Comércio, em evento realizado pelo Bradesco Private na casa do JC na Expointer, nesta semana.
Evento foi promovido pelo Bradesco na Casa do JC na Expointer
BRENO BAUER/JC
Presidente da Federação das Associações Gaúchas do Varejo (Federação AGV), Vilson Noer afirma que são múltiplos os efeitos danosos da taxa anual de juros na faixa de 14%, como a atual. Mesmo com o tarifaço, não trabalhamos com o câmbio sendo muito alterado. Ainda que o dólar elevado em relação ao Real encareça as importações, o maior limitador ao comércio é o juro - que corrói a renda, encarece parcelamentos e inibe as compras, avalia Noer.
“Além de gerar parcelas de maior valor nas compras a crédito, a elevada taxa Selic consome boa parte dos recursos, por exemplo, de quem atrasa o pagamento do cartão de crédito, de uma dívida ou usa o cheque especial. O que é pago em juros não gera emprego e impostos e ainda inibe novas compras”, explica o presidente da AGV.
No campo, alerta o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) e do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers), Claudio Bier, estão sendo refreados e paralisados. “Com um cenário nada nítido sobre as exportações como de carnes, um investimento para aumentar a produção agrícola, em diferentes atividades, é cercado de incertezas. Lembrando que a receita do agro move também empregos urbanos, preço dos alimentos e vendas no comércio”, analisa Bier.
No doce setor das balas, o ano também se encerra com sabor amargo. Ricardo Heineck, presidente da Docile, fabricante gaúcha e maior exportadora de candies do Brasil, conta que as equipes comerciais da empresa ainda buscam fórmulas para manter ao menos parte das vendas aos EUA.
“Chegamos a propor arcar com parte desses impostos, dar descontos, mas ainda assim nem todos estão aceitando. Esperávamos com uma taxação de cerca de 5% que, de uma hora para outra, saltou para mais de 55%”, lamenta o empresário, temendo perda de mercado, por exemplo, para indústrias turcas.
Paulo Hermann, CEO da PH Advisory Group, acrescenta ao rol de problemas o descontrole das contas públicas. “Além de não trabalharmos com grandes perspectivas de redução de juros a um patamar razoável em curto ou médio prazo, se esse cenário de gastos governamentais não mudar, logo nos apresentarão mais impostos”, criticou Hermann.