O governo federal anunciou nesta segunda-feira (1º/9), durante a Expointer, um novo aporte de R$ 300 milhões para operações de Contratos de Opção de Venda (COV) de arroz, com foco na safra 2025/2026. O objetivo é proteger os produtores diante de oscilações de mercado, como as registradas na temporada anterior, e assegurar um preço mínimo para o cereal.
O anúncio foi feito pelo presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, que classificou a medida como uma resposta concreta às incertezas do setor. Parte do recurso – R$ 122,49 milhões – já foi assegurada na Portaria 288 do Ministério do Planejamento e Orçamento, publicada no dia 29 de agosto.
De acordo com o governo, novos aportes deverão ser feitos nos próximos meses.
“Com recursos garantidos antes do plantio, o produtor terá segurança de um preço mínimo — sem perder a liberdade de negociar no mercado, caso seja mais vantajoso.”
A estimativa é que o montante permita contratos para cerca de 200 mil toneladas de arroz. Os valores pagos pela saca de 50 quilos e as condições contratuais ainda serão definidos com base em estudos técnicos. A nova perspectiva de safra da Conab será lançada em 18 de setembro, com o primeiro levantamento oficial previsto para 14 de outubro.
O COV atua como um seguro de preços: o produtor adquire o direito — mas não a obrigação — de vender ao governo por um valor previamente definido. Se o mercado estiver pagando mais, ele pode optar por negociar fora do contrato. Caso contrário, entrega o produto à Conab, que incorpora o arroz aos estoques públicos — política que o governo pretende retomar após 11 anos sem estocagem em larga escala.
“O mundo terá mais arroz. Índia, Mercosul e Brasil colherão mais. É natural a pressão sobre os preços. Nosso papel é garantir renda ao produtor e estabilidade ao consumidor”, acrescentou Pretto.
Esta é a terceira rodada de COV em menos de um ano. Desde o fim de 2024, cerca de R$ 1,5 bilhão já foram destinados à compra de arroz via contratos. A primeira rodada, com preço de R$ 87,62 por saca, negociou 91 mil toneladas, bem abaixo das 500 mil pretendidas pela Conab. Na segunda, em junho, o valor caiu para R$ 74, com adesão quase total: 109,2 mil toneladas contratadas.
Anderson Belloli, da Federarroz, afirmou que setor mantém diálogo aberto, mas sugeriu moderação e cautela aos produtores
BRENO BAUER/JC
Apesar do novo aporte, a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) adotou postura cautelosa. Para o diretor-executivo da entidade, Anderson Belloli, é preciso aguardar os detalhes dos contratos e observar o comportamento do mercado.
“É preciso moderação. O momento é delicado, com endividamento elevado e baixa remuneração na safra passada. Nossa orientação é reduzir a área plantada em até 15% no RS e apostar em terras mais produtivas e tecnificadas”, afirmou ao Jornal do Comércio.
A entidade, assim como a Federação da Agricultura do Estado (Farsul) também critica a formação de estoques públicos, alegando que a prática pode distorcer o mercado e pressionar os preços no longo prazo.
O pano de fundo da discussão é a supersafra brasileira. Segundo o 11º Levantamento da Safra 2024/2025 da Conab, o País colheu 12,3 milhões de toneladas de arroz — alta de 16,5% em relação à safra anterior. O Rio Grande do Sul, responsável por 70% da produção nacional, colheu 8,3 milhões de toneladas, crescimento de 15,9%. Entre outubro de 2024 e junho de 2025, o preço da saca de arroz chegou a cair mais de 42%, atingindo média de R$ 65,46 — bem abaixo dos valores de referência da Conab nos contratos de opção.
Durante a coletiva, Pretto também mencionou negociações com países interessados em importar arroz brasileiro, como o México, que busca garantir sua soberania alimentar.
“Estamos abrindo caminhos para o arroz brasileiro no exterior. O mundo quer comida boa e barata. Temos condições de abastecer o mercado interno e exportar.”
O anúncio é visto como uma tentativa de corrigir falhas da rodada anterior, quando mais de R$ 800 milhões retornaram aos cofres públicos por baixa adesão dos produtores. Pretto foi direto ao reconhecer o desafio.
“Faltou confiança na Conab no ano passado. Agora, com a experiência e os resultados da segunda rodada, esperamos que o setor entenda a importância do mecanismo”, finalizou.