No parque de exposições de Esteio, a Expointer 2025 ganha forma como um grande termômetro da pecuária nacional — com números que demonstram não apenas uma recuperação, mas uma clara sinalização de evolução genética, eficiência produtiva e estímulo ao mercado. Com 5.107 animais de argola — alta de +47,6% em relação a 2024 — e 1.589 rústicos, o crescimento em quase todas as espécies mostra que a feira se consolida como um palco indispensável para a difusão da genética de ponta e um agente de aquecimento do setor.
Somente entre os bovinos de corte, o aumento foi de 23%. Destaque para os Braford, com 154 exemplares de elite – 29,4% a mais sobre o ano passado – e o Brangus, com 148 animais – alta de 51%.
Segundo Eduardo Soares, presidente da ABHB (Associação Brasileira de Hereford e Braford), a evolução nas raças bovinas é gigantesca. O Braford se tornou um animal com volume de carne robusto e adaptabilidade ao clima tropical — um pacote completo para o produtor e o mercado interno (e externo). A evolução nos biotipos, afirma Soares, é evidente na Expointer: “Hoje é um Braford bastante 'carniceiro', muito adaptado aos nossos ambientes tropicais.”
Mas a revolução foi mesmo na reprodução. Técnicas como fertilização in vitro e transferência embrionária encurtaram ciclos de melhoria e permitiram extrair dezenas de produtos por vaca a cada ano, com diferentes perfis genéticos. O resultado foi multiplicação acelerada da genética de ponta.
A Expointer reflete esse cenário, com produtores interessados não apenas em mostrar avanço — eles querem animais produtivos, mais rentáveis, sustentáveis e com alto potencial genético. E a conversão da área agrícola menos produtiva em cada cultura para a atividade pecuária é apontada como movimento estrutural, que sinaliza o bom momento do setor, principalmente diante de um cenário em que a produção de grãos enfrenta maiores dificuldades e oscilações, por conta das sucessivas intercorrências climáticas.
Nos leilões a serem realizados dentro do Parque de Exposições Assis Brasil e também nos remates da temporada, as expectativas já estão calibradas, com médias talvez 20% a 25% superiores, e preços do boi vivo subindo 30% em relação ao ano anterior. É o prenúncio de uma retomada sólida.
No segmento de equinos, o crescimento no número de exemplares foi de 23,9%. Reflexo de que o parque é cenário para exibição de animais prontos para monta, com alta demanda por competidores, uma mudança que vem ocorrendo nos últimos anos.
Cesar Hax, presidente da ABCCC (Associação Brasileira dos Criadores de Cavalos Crioulos), ressalta que a Expointer funciona como um grande palco de comprovação — tanto para genética funcional quanto morfológica.
“Há cerca de cinco anos, especialmente com maior intensidade nos últimos três, o foco voltou-se à seleção de animais prontos para competir, seja em morfologia, sela ou provas esportivas. O perfil é a competição. O mercado quer um cavalo que possa ser montado e competir nos próximos três meses.”
Apesar disso, o cavalo de trabalho mantém sua centralidade e valor para o setor. Em regiões extensas e de difícil acesso, o cavalo segue sendo essencial, sobretudo na pecuária extensiva onde a agricultura não avança.
“O Crioulo se ‘urbanizou e socializou’, ganhou visibilidade, mas a base continua sendo o animal de serviço — aquela genética de terreno mesclada com treinamento, que chega ao freio de ouro com melhor desempenho."
O movimento não é diferente nas demais raças, com competições e exibições de performance no parque, movimentando grande público. E, se a Expointer é a “Fórmula 1 da criação de cavalo”, ela também irradia tendências, com seletivas morfológicas e esportivas que depois se difundem pela cadeia.
O mercado acompanha. Somente na comercialização de reprodutores Crioulos, o indicativo é de superar os R$ 120 milhões verificados em 2024, com remates diários e procura intensa por genética diferenciada.
Ovinocultura mostra expansão, mas tem escala como desafio
Criadores de ovinos levaram 997 exemplares de 15 raças ovinas à mostra agropecuária
DANI BARCELLOS/ESPECIAL/JC
Para a ovinocultura, a Expointer 2025 traz a marca de 997 animais inscritos — recorde dos últimos cinco anos. Edemundo Gressler, da ARCO (Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos), vê isso como um sinal de retomada vigorosa do setor, em especial na produção de carne. A presença de 15 raças com animais excepcionais, muitos progênies de reprodutores adquiridos em 2024, confirma um investimento claro em genética de alta performance.
Mas Gressler lembra: é preciso fazer o tema de casa. “Genética há de sobra, agora falta transformar isso em produção real — aumentar nascimento de cordeiros, profissionalizar a produção, lidar com a sazonalidade (reprodução no verão) e ganhar escala de oferta."
Segundo ele, o mercado está “batendo à porta”, mas é preciso entregar mais. A feira, porém, já é um sucesso — e esse eco deverá impulsionar exposições regionais e a temporada como um todo.
Pássaros e aves voltam com vigor por aprimoramento e negócios
Participar de competições de pássaros é a realização do criador Pedro Cordeiro
Dani Barcellos/Especial/JC
Dois anos após a última participação na Expointer, por precaução contra problemas sanitários, as aves e pássaros estão de volta à mostra. E, além da comercialização, o retorno é saudado pelos expositores como oportunidade de recuperar as avaliações e julgamentos – parâmetros essenciais para o melhoramento, diz André Machado Schmitz, presidente da Associação Brasileira de Criadores e Preservadores de Aves de Raças Puras e Ornamentais.
Para o criador de pássaros Pedro Cordeiro, que trouxe ao parque exemplares de Calopsitas, Periquitos e Mandarins – ele também cria Manons e Pombas Diamante –, a feira é oportunidade também de compartilhar conhecimento e difundir a criação. Do total de seu plantel, 80% dos pássaros acabam sendo negociados, enquanto 20% vão para competições.
“A feira é o meu spa, a minha academia. É onde encontro outros criadores, converso com crianças de escolas que vêm visitar e têm muita curiosidade. Mas a minha realização pessoal é nas competições. O retorno dos pássaros é o ‘nascer do sol’ após um período nebuloso”, explica Cordeiro.
O retrato desta Expointer mostra a genética como protagonista, com foco em produtividade, adaptabilidade e competição; a tecnologia reprodutiva como vetor de multiplicação do melhor genoma, em ritmo acelerado; e um mercado aquecido, seja para carne bovina, para leilões de equinos ou para carne ovina, demandando oferta consistente e de qualidade. E também aponta a reconfiguração do uso da terra, com pecuária ocupando áreas menos produtivas da agricultura, assim como a sustentabilidade e a profissionalização como exigência inegociável.
A 48ª Expointer não é apenas uma feira; é um grande laboratório e vitrine da pecuária brasileira em curso de acelerada reconstrução — genética, mercado e território integrados em crescimento real.