Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 30 de Agosto de 2025 às 20:50

Dívida rural pauta visita de secretário do Mapa à Expointer

Guilherme Campos Jr. reconheceu a demora na resposta do governo

Guilherme Campos Jr. reconheceu a demora na resposta do governo

TÂNIA MEINERZ/JC
Compartilhe:
Claudio Medaglia
Claudio Medaglia Repórter
O governo federal escalou um dos principais nomes do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para dialogar com o setor produtivo gaúcho durante a Expointer. Em coletiva neste sábado (30), no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, o secretário de Política Agrícola, Guilherme Campos Jr., destacou que a União reconhece a gravidade do problema do endividamento no campo e busca construir uma solução de longo prazo para que os agricultores consigam atravessar um ciclo de perdas sucessivas.
O governo federal escalou um dos principais nomes do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para dialogar com o setor produtivo gaúcho durante a Expointer. Em coletiva neste sábado (30), no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, o secretário de Política Agrícola, Guilherme Campos Jr., destacou que a União reconhece a gravidade do problema do endividamento no campo e busca construir uma solução de longo prazo para que os agricultores consigam atravessar um ciclo de perdas sucessivas.
Não é culpa do produtor, do Estado ou da União. Foram estiagens, enchentes e outros fatores que fragilizaram a atividade. O problema está aí e precisa ser resolvido”, afirmou.
Segundo ele, a presença do Mapa na feira atende a um pedido direto do ministro Carlos Fávaro para ouvir de perto os relatos das entidades e recolher subsídios que orientem a formatação final da proposta de renegociação das dívidas de longo prazo.
A ideia posta à mesa nesta semana pelo governo – após um acirramento das discussões e um recuo nas tratativas que gerou muito descontentamento entre produtores –, prevê um volume inicial de R$ 10 bilhões para repactuação de dívidas em 2025. O modelo traz prazo de sete anos para pagamento, um de carência, e juros escalonados: 6% ao ano para a agricultura familiar (até R$ 250 mil), 8% para médios produtores enquadrados no Pronamp (até R$ 1,5 milhão) e 10% para os demais (até R$ 3 milhões).
As condições, ressaltou Campos, ainda podem sofrer ajustes para compatibilizar “o que é possível” do ponto de vista fiscal com “o que é necessário” para aliviar a pressão sobre os agricultores.
O secretário lembrou que a medida não é exclusiva para o Rio Grande do Sul, mas reconheceu que o Estado concentra a maior urgência. “O grande trauma está aqui. Mas é uma proposta para todo o Brasil”, disse.
Antes da coletiva, que contou ainda com as participações dos superintendentes do Mapa, José Cleber Dias de Souza, e do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Milton Bernardes, o trio esteve em reuniões com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS) e a Federação da Agricultura do Estado (Farsul). Ambas apresentaram sugestões. A Fetag defendeu que o prazo seja ampliado para 10 anos, com dois de carência, a redução das taxas de juros e a ampliação do volume de recursos.
Estamos ainda conversando, mas temos expectativa de que possamos chegar a um acordo que seja anunciado durante a Expointer”, disse o presidente da Fetag-RS, Carlos Joel da Silva.
A Farsul pediu R$ 25 bilhões, sendo R$ 15 bi neste ano e outros R$ 10 bi no ano que vem. E cobrou que o programa contemple também operações com recursos livres, além do crédito rural controlado.
Houve boa acolhida das duas entidades e disposição em somar esforços”, relatou Campos.
Para ele, a convergência entre governo e representações do setor é crucial para acelerar a definição.
Na coletiva, o superintendente do Mapa também trouxe dados sobre a situação financeira do agro gaúcho. Segundo ele, em 2024 o governo já havia injetado R$ 10 bilhões no crédito rural do Estado, elevando a carteira ativa de R$ 80 bilhões para R$ 90 bilhões. Além disso, embora a inadimplência esteja em crescimento, o índice no Rio Grande do Sul segue abaixo da média nacional.
Isso não significa que não haja problema. Há urgência, mas não é uma situação desesperadora”, avaliou Souza.
Um dos pontos mais fortes da fala foi o apelo à serenidade. Campos reconheceu que a lentidão do processo de negociação – uma tônica nas queixas dos produtores – gera frustração, mas lembrou que decisões públicas envolvem limitações orçamentárias e de governança.
“As respostas deveriam ser mais rápidas, concordamos. Mas o dinheiro público tem regras. O que é duro é quando um problema real acaba sendo usado como disputa política, porque isso atrasa ainda mais as soluções. Precisamos nos desarmar, ter cabeça fria e focar no problema”, disse.
O secretário frisou que a politização vem de ambos os lados e que é hora de trabalhar pela convergência.
Se o problema não for resolvido, o impacto vai doer em todo mundo, independente da posição política. Primeiro precisamos tirar o produtor da UTI, para que consiga plantar a próxima safra. Depois, é pensar em medidas de médio e longo prazo, para reestruturar as boas práticas aqui no Estado”, resumiu.
A expectativa agora é pela presença do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, no próximo sábado (6), durante a Expointer. A agenda, no entanto, pode ser alterada em função das missões internacionais do ministro, que tem sido demandado a abrir novos mercados para compensar barreiras impostas pelos Estados Unidos.

Notícias relacionadas