Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 28 de Agosto de 2025 às 07:54

Alteração do clima gera desafios para o setor do agronegócio

Pesquisador José Miguel Reichert adverte para os reflexos na agricultura com o aquecimento global

Pesquisador José Miguel Reichert adverte para os reflexos na agricultura com o aquecimento global

BRENO BAUER/JC
Compartilhe:
Jefferson Klein
Jefferson Klein Repórter
Em tempos de discussões sobre as mudanças climáticas, torna-se indispensável repensar o modelo atual da agricultura, buscando soluções que permitam a adaptação do segmento e, ao mesmo tempo, contribuam para a mitigação dos impactos ambientais. O pesquisador de destaque em Solos e Ambiente, José Miguel Reichert, ressalta que a agricultura é, simultaneamente, vítima e causa das alterações no clima: sofre com a elevação das temperaturas, secas prolongadas, enchentes e eventos extremos, mas também é responsável por uma parcela significativa das emissões de gases de efeito estufa, pela mudança de uso da terra e degradação dos solos. Por seu trabalho, ele será agraciado com o prêmio especial O Futuro da Terra, promovido pelo Jornal do Comércio e pela Fapergs durante a Expointer. 
Em tempos de discussões sobre as mudanças climáticas, torna-se indispensável repensar o modelo atual da agricultura, buscando soluções que permitam a adaptação do segmento e, ao mesmo tempo, contribuam para a mitigação dos impactos ambientais. O pesquisador de destaque em Solos e Ambiente, José Miguel Reichert, ressalta que a agricultura é, simultaneamente, vítima e causa das alterações no clima: sofre com a elevação das temperaturas, secas prolongadas, enchentes e eventos extremos, mas também é responsável por uma parcela significativa das emissões de gases de efeito estufa, pela mudança de uso da terra e degradação dos solos. Por seu trabalho, ele será agraciado com o prêmio especial O Futuro da Terra, promovido pelo Jornal do Comércio e pela Fapergs durante a Expointer. 
“Diante disso, adaptar a produção agrícola e desenvolver uma agricultura de baixo carbono são tarefas urgentes e estratégicas para garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade”, defende Reichert, que também é agrônomo, mestre pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), PhD pela Purdue University e professor titular da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Segundo ele, a adaptação da agricultura às mudanças climáticas requer a adoção de práticas sustentáveis e regenerativas. Técnicas como o plantio direto de qualidade, a rotação de culturas e a recuperação de áreas degradadas são fundamentais para melhorar a qualidade do solo, conservar a umidade e aumentar sua capacidade de armazenar carbono.
Além disso, acrescenta o pesquisador, sistemas como a integração lavoura-pecuária-floresta e sistemas agroflorestais contribuem para o sequestro de carbono, com promoção da biodiversidade e produtividade. “O manejo e conservação do solo e a gestão da água, quando realizados de maneira adequada, são essenciais para enfrentar períodos de estiagem e de enchentes”, frisa Reichert.
Para o desenvolvimento de uma agricultura de baixo carbono, ele argumenta que é necessário investir em inovação tecnológica, pesquisa e assistência técnica no campo. “Iniciativas como o Plano ABC+ (uma política pública que busca propagar as melhores ações de produção), por exemplo, incentivam práticas sustentáveis capazes de reduzir as emissões e aumentar a resiliência dos sistemas produtivos”, aponta o professor. Além disso, ele ressalta que a valorização da agricultura familiar e o fortalecimento de políticas públicas que promovam práticas ambientalmente corretas são igualmente importantes.
Outro ponto mencionado por Reichert é o uso de bioinsumos, a fixação biológica de nitrogênio e o manejo adequado dos resíduos da produção como alternativas viáveis para diminuir o impacto ambiental da atividade agrícola. O crescimento do mercado de carbono, a valorização de produtos sustentáveis no mercado internacional e os pagamentos por serviços ambientais representam caminhos reais para transformar o setor, avalia o pesquisador.
“Diante do cenário atual, é urgente implementar ações concretas que possibilitem uma agricultura mais resiliente, eficiente e ambientalmente responsável. O desafio não é apenas produzir mais, mas produzir melhor”, assinala o professor. Na agricultura familiar, ele complementa que a limitação da disponibilidade do crédito agrícola, dificuldade de acesso à tecnologia por parte dos pequenos produtores, carência de assistência técnica qualificada e adequada a esses sistemas de produção são obstáculos que precisam ser superados.
Conforme o professor, que cursou Agronomia com o objetivo de trabalhar em assistência técnica e extensão rural, pois pretendia contribuir para a melhoria das condições de vida de agricultores em condição similar à da sua família, a agricultura familiar e a produção agrícola em escala podem coexistir de forma complementar, desde que sejam estabelecidas estratégias que valorizem as especificidades de cada modelo. Ele enfatiza que a agricultura familiar desempenha um papel fundamental na segurança alimentar, na preservação da biodiversidade e na geração de emprego no meio rural, sendo caracterizada por produções diversificadas, voltadas principalmente para o consumo local e para mercados regionais.
No Brasil, informa Reichert, a agricultura familiar desempenha um papel estratégico, sendo responsável por cerca de 70% dos alimentos consumidos internamente, mesmo ocupando apenas 25% da área agrícola do País. Os agricultores familiares são fundamentais nas áreas de hortaliças, frutas, grãos (feijão, arroz, milho), aves, suínos e leite. Mesmo na cultura de soja, estima-se que a agricultura familiar seja responsável por cerca de 30% a 40% da produção no Brasil. “A convivência da agricultura familiar e da produção agrícola em escala é possível quando há políticas públicas que incentivem o acesso dos pequenos produtores a crédito, assistência técnica e canais de comercialização, além de promoverem práticas sustentáveis no agronegócio”, conclui o professor.

Perda de alimentos é um dos problemas a ser enfrentado

A produção agrícola encara desafios complexos para atender à crescente demanda alimentar da população mundial que cresce a cada ano, tanto em quantidade quanto em qualidade, e com a necessária redução do desperdício de alimentos. A perda de aproximadamente um terço de toda a comida produzida no Brasil evidencia, de acordo com o pesquisador de destaque em Solos e Ambiente, José Miguel Reichert, a urgência de sistemas mais eficientes e sustentáveis de toda a cadeia produtiva.
Essa realidade, comenta o professor, expõe um desequilíbrio do ponto de vista ambiental e social, com pessoas enfrentando fome e alimentos sendo descartados ao longo da cadeia produtiva. “Os modelos de produção agrícola precisam ser repensados em um contexto de mudanças climáticas, escassez de recursos naturais e pressões econômicas e ambientais”, destaca.
Os obstáculos são diversos, segundo o professor, com o aumento populacional exigindo maior oferta de alimentos, enquanto o clima se torna mais instável, com secas, enchentes e temperaturas extremas prejudicando também as colheitas. Paralelamente, há uma limitação cada vez maior de áreas férteis e disponibilidade de água, enquanto técnicas agrícolas intensivas continuam a causar degradação do solo e perda de biodiversidade.
Para Reichert, a vasta extensão territorial, o clima diversificado e a alta produtividade colocam o Brasil em posição estratégica. Contudo, a produção excessivamente baseada em commodities o torna vulnerável a crises políticas (como a do tarifaço recente do governo Trump), de preço e eventos climáticos. Além disso, problemas como o desmatamento, a concentração fundiária e a infraestrutura deficiente dificultam o avanço de uma agricultura justa e sustentável.
O professor comenta que, especificamente no Rio Grande do Sul, os desafios se tornam ainda mais evidentes diante da frequência crescente de eventos climáticos extremos, como secas severas e enchentes históricas. “Esses fenômenos afetam diretamente a produtividade agrícola, a vida da comunidade e a economia regional”, salienta. Para enfrentar essas questões, o pesquisador considera que são necessárias estratégias integradas que envolvam tecnologia, educação no campo e políticas públicas com a promoção de práticas agrícolas regenerativas, fortalecimento da agricultura familiar e diversificação da produção.

Notícias relacionadas