A 48ª Expointer, que ocorre de 30 de agosto a 7 de setembro no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, terá a maior participação de animais da última década. Estão inscritos 6.696 exemplares, somando 5.107 de argola, que participam de julgamentos morfológicos, e 1.589 rústicos, voltados a provas funcionais, vendas e leilões. O número representa uma alta de 39,44% em relação a 2024, um crescimento que reforça a vitalidade da pecuária num momento em que a agricultura atravessa dificuldades.
O salto mais expressivo veio das inscrições de animais de argola, com expansão de 47,69%, enquanto os rústicos cresceram 18,2%. O retorno das aves e pássaros, ausentes nas duas últimas edições em função da gripe aviária e da doença de Newcastle, explica parte desse avanço. Mas, mesmo desconsiderando essa categoria, a feira registra um incremento robusto de 20,18% em relação ao ano passado, consolidando-se como a maior vitrine do setor pecuário da América Latina.
“Neste ano teremos 133 raças inscritas, contra 89 no ano passado. É uma demonstração da confiança do produtor na Expointer”, destaca o comissário-geral do evento, Fábio Charão.
Ele lembra que os campeonatos de pista elevam a valorização dos animais: “Quando um exemplar conquista o título de grande campeão, o valor pode triplicar ou quadruplicar, o que impacta toda a genética da propriedade.”
A diversidade também impressiona. Bovinos, ovinos, equinos, bubalinos, caprinos, aves, coelhos, chinchilas e até pássaros estarão presentes. Entre as novidades, a edição de 2025 marca a estreia da raça Murciana, de caprinos leiteiros de origem espanhola, e dos bovinos de corte Greyman, desenvolvidos na Austrália a partir do cruzamento de Murray Grey com zebuínos Nelore e Brahman. Outra novidade é a volta da raça de equinos Anglo-Árabe.
Entre os destaques de participação, estão os ovinos, que chegam a 997 exemplares, maior número desde 2009, e os pôneis, com 217 animais, que terão exposição nacional dentro da feira. Nos bovinos de corte, chama atenção o crescimento de 65% nas inscrições de Hereford e Braford rústicos. Já entre os equinos, os Crioulos mantêm a liderança, com 436 inscritos. Até mesmo os coelhos tiveram salto expressivo, de 70%, impulsionados pela feira de filhotes.
O vigor da Expointer reflete um movimento que vai além dos portões do parque. Com a sequência de perdas nas lavouras de grãos e o endividamento crescente do setor agrícola, a pecuária volta a ganhar centralidade na economia das propriedades rurais gaúchas. Historicamente considerada uma “poupança” das fazendas, a atividade ressurge como alternativa de renda, em especial com a valorização recente da arroba do boi gordo e o aumento da demanda por carne de qualidade.
Representantes do setor avaliam que o fortalecimento desse segmento já é um reflexo da crise na agricultura e que ele irá ganhar espaço, com uma pecuária de precisão, que pode ser tão rentável quanto a agricultura em momentos de fragilidade do grão.
Para Marcos Tang, presidente da Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac), o número recorde de inscrições mostra a resiliência dos pecuaristas. “Apesar das condições climáticas adversas e das dificuldades financeiras, o investimento em genética não pode parar. É um processo contínuo. Se leva anos para formar um rebanho, mas basta pouco tempo para perder o que foi construído”, afirma.
Segundo ele, o que estará em Esteio é o resultado de décadas de seleção. “São animais que em alguns casos representam o que há de melhor no mundo. O criador investe muito para estar na Expointer porque sabe que ela é a maior vitrine do setor. Ali ele mostra seu trabalho, conquista contatos e abre portas para negócios que se consolidam depois, na fazenda.”
Tang também enxerga a feira como um espaço de conhecimento e integração. “Costumo dizer que a Expointer é um grande congresso do agronegócio. É quando produtores e criadores trocam experiências, aprendem uns com os outros e fortalecem vínculos. Também é um momento de aproximação entre campo e cidade, mostrando ao consumidor o zelo e o cuidado que estão por trás da produção de carne, leite e genética.”
Desempenho em julgamentos potencializa leilões e negócios
Seja na pista ou nos leilões de elite, o impacto econômico da exposição é expressivo. A valorização genética que a roseta proporciona multiplica os preços em remates que movimentam cifras milionárias, consolidando a Expointer como espaço estratégico de negócios. “O investimento costuma ter retorno. Mais do que vendas imediatas, é a chance de mostrar ao mercado um trabalho sério de seleção genética”, resume Tang.
Com o novo status sanitário do Brasil como área livre de febre aftosa sem vacinação, abriu-se a possibilidade de participação de animais de todos os estados. Na edição deste ano, dos 1.381 bovinos inscritos, 260 vêm de fora do Rio Grande do Sul, segundo Charão. Assim, a Expointer reafirma em 2025 sua condição de grande vitrine do agro nacional. Mais do que celebrar raças e campeonatos, a feira evidencia a importância da pecuária como pilar econômico, cultural e tecnológico.
“A Expointer é um palco para o que temos de melhor na genética animal e também em inovação no agro. É uma vitrine, um espaço de negócios e de conexão com a sociedade. Por isso ela é tão consolidada como o maior evento da América Latina”, conclui Charão.
Aves voltam para esta edição
Aves ficaram de fora do Parque de Exposições por dois anos
/TÂNIA MEINERZ/JCApós dois anos fora da Expointer por conta da gripe aviária e da doença de Newcastle, as aves estão de volta. Nesta edição, haverá 381 aves, de 33 raças, e 542 pássaros, de seis raças, no pavilhão do Parque Assis Brasil. A presença dos animais movimenta não só os criadores, mas também expositores ligados à alimentação, nutrição, genética e equipamentos, que voltam a encontrar na Expointer um espaço de vitrine e de negócios.
"É um segmento que projeta qualidade, mas também encanta pela diversidade. A ausência foi sentida por todos. Agora, voltamos a ter essa janela aberta para mostrar ao público urbano o quanto há de tecnologia e cuidado nesse setor", afirma André Machado Schmitz, presidente da Associação Brasileira de Criadores e Preservadores de Aves de Raças Puras e Ornamentais (APCA), que há duas décadas se dedica à atividade no criatório Sidelina, no Alegrete.