Ana Esteves
O Rio Grande do Sul recuperou a capacidade de olhar para o futuro, a opinião é do presidente da Invest-RS Rafael Prikladnicki que, nesta entrevista exclusiva para o Jornal do Comércio, fala sobre a participação da agência na 48ª Expointer com foco em atrair novos players interessados em investir no setor primário gaúcho.
Lançamento da Expointer em São Paulo, qual o objetivo de isso e se vocês já tinham alguma sinalização assim de interesse de investidores aqui no estado?
O Estado tem um escritório físico e permanente da Invest-RS em São Paulo que é o centro econômico financeiro da América Latina e nunca tinham feito o movimento de lançar a Expointer, uma das principais feiras do agronegócio do Estado, na capital paulista e faz todo sentido lançar, pois um dos objetivos da feira é fazer negócios. Foi muito bem sucedido, pois conseguimos reunir players importantes para conhecer um pouco mais do que vem por aí.
E deve acontecer o oposto, agora, pretensos investidores visitarem a Expointer para prospectar novos negócios?
A feira tem seus espaços pré-definidos para negócios, isso não muda. O que talvez mude é que pode surgir interesse de expositores, ou investidores, que não tinham sido mapeados previamente, justamente por não terem esse canal que abrimos com a ida a São Paulo. Como é o caso do México que sinalizou interesse em ter um estande na feira, a partir desse contato via lançamento em São Paulo, mas não temos mais informações sobre qual área de interesse para investir.
E que ações a Invest-RS deve desenvolver durante a Expointer?
Recentemente, lançamos junto com a Secretaria do Desenvolvimento Econômico, as iniciativas do Empreender-RS e a ideia é que, durante a Expointer, a gente faça algumas ações dentro desse guarda-chuva do Empreender. A ideia é promover a questão do calendário de feiras do Estado. Nós desenvolvemos o Painel de Dados do Estado do Rio Grande do Sul e agora vamos fazer uma versão focada no agronegócio, a partir da interlocução com Centro de Inteligência de Agro, uma ação que envolve a Secretaria da Agricultura, a Secretaria do Desenvolvimento Rural e a Secretaria de Inovação e Tecnologia. Além disso, estamos prevendo algumas rodadas de negócios com empresas, com as máquinas e equipamentos. Teremos também uma ação do programa de capacitação de municípios, lançado em parceria com a Famurs, já que a Expointer tem ações que envolvem uma presença significativa de prefeitos.
Esse painel de dados do agro, que informações devem constar, ele já está estruturado?
Estamos trabalhando neles. A ideia é pegar um subconjunto dos dados que temos hoje no painel do Estado, fazer um mapeamento em conjunto com os centros de inteligência do agro. Dados demográficos, localização das produções, informações relevantes que possam ser usadas para investimentos na área do agro.
Pensando em termos de investimentos no agronegócio gaúcho, quais seriam os principais atrativos para pretensos investidores, que potenciais vocês enxergam, tanto na área de pecuária como de agricultura?
Primeiro a qualidade, a questão da tradição, do cuidado que a gente tem, de forma geral, na pecuária de corte, avicultura, suinocultura. Na agricultura do Sul, temos uma produção de bastante excelência, com uma cadeia produtiva bem estruturada no Estado. O Rio Grande do Sul tem uma economia bastante robusta e diversificada, o que nos dá reconhecimento
Tem se falado muito no agro da questão dos problemas climáticos, que enfim, é uma realidade. Isso não chega a ser um empecilho, para quem deseja investir no Estado, assim como o empecilho fiscal?
Difícil te responder numa ligação curta. O que a gente tem feito é mapear quais são os possíveis desafios que o Estado tem nessa área e uma das coisas que a gente tem procurado ajudar, é, por exemplo, na área de irrigação. Estamos montando, junto com a Secretaria da Agricultura, uma missão para o Nebraska, nos Estados Unidos, local de referência em tecnologias para irrigação. A ideia é fazer uma ação nesse sentido, justamente para que a gente possa oferecer soluções para esses desafios. Mas, nas conversas que temos com quem quer investir na área, sentimos que os desafios que aparecem estão presentes em qualquer investimento na área. O Estado, apesar de ter sofrido com os episódios climáticos, se reconstruiu e tem se mostrado como um exemplo de resiliência. Não falo só do agro, mas de forma geral isso tem sido destacado como exemplo: sim, nós tivemos um desastre climático, mas a forma como a gente está se se reconstruindo e ainda melhor, temos nos destacado e isso passa confiança para quem quer investir no Estado.
A Invest-RS começou a operar em dezembro de 2024. De lá pra cá, como tem sido os resultados em termos de novos investimentos no Estado?
Quando fechamos seis meses, fizemos um balanço, apresentamos uma carteira de 32 projetos que estávamos acompanhando, uma carteira com investimento potencial de R$ 5,5 bilhões de reais, com mais de 4 mil empregos previstos se os investimentos fossem concretizados. O trabalho inicial foi de definir os processos da agência. Sempre lembro que a agência é uma empresa que não existia no Estado, então, ao mesmo tempo em que tivemos que criar uma operação que não existia, passamos também a trabalhar em paralelo com a atividade final que é promover o Estado e atrair investimentos. O balanço que eu faço é absolutamente positivo, pela quantidade de ações que fizemos de promoção do Estado, de articulação com parceiros. A gente conseguiu consolidar alguns investimentos, como a Tellescom Semicondutores que entrou com investimento de R$ 1 bilhão em Cachoeirinha. Recentemente, anunciamos a instalação da primeira planta do mundo de produção de combustível de aviação a partir de glicerina, que é de uma a empresa americana chamada Cemvita, que eles querem fazer isso em parceria com a Be8. Nesse pouco tempo, conseguimos atrair alguns projetos, criar projetos novos, mas principalmente acelerar uma agenda de presença do Estado no mundo.
A agência tem foco em alguns países? E como vocês receberam a questão do Tarifaço imposto pelo governo dos Estados Unidos a produtos importados do Brasil?
O foco não tem sido tanto em países, mas nos setores do plano de desenvolvimento econômico, que foi lançado pelo Estado, junto com o anúncio da criação da Invest-RS, e que estabelece 12 setores de atuação principais. A partir da desse foco, a gente tem olhado onde é que estão as feiras, as missões, as oportunidades, as empresas e buscado, então, participar desses eventos. Saber onde a gente pode levar o arroz, a carne do Rio Grande do Sul, onde estão os potenciais investidores em tecnologia. Outro exemplo: recentemente, a Embratur apresentou o resultado de um estudo que identificou o potencial do Brasil de atrair turistas internacionais. E os quatro países com maior potencial para o Estado foram Itália, Portugal, Argentina e Estados Unidos. Sobre o tarifaço, o que a Invest-RS tem feito é trabalhar para estruturar um projeto de ampliação de mercados, isso Já era uma necessidade e agora se monstra ainda mais urgente diversificar mercados para exportação.
Sobre a fala de uma economista que disse que o Rio Grande do Sul vai “ficar para trás”. Como tu respondes a essa afirmação?
O que a Zeina faz não é um alerta apenas para o Rio Grande do Sul, mas para o Brasil, diante dos desafios fiscais, dos desafios do orçamento. Eu tive a oportunidade de conversar com a ela justamente para oferecer essa visão de que o Rio Grande do Sul está olhando para frente, a própria criação da Invest-RS é o exemplo de que o Estado consegue pensar no futuro, coisa que não conseguia no passado. Todas as reformas feitas aqui, nos últimos anos, não são resultados que se vê no curto prazo. A criação de um plano de desenvolvimento e da própria agência de desenvolvimento mostra que o Estado recuperou a capacidade de pensar no futuro.