Há quase cinco décadas na Universidade Federal do Rio Grande (Furg), como estudante, docente e atualmente diretor da Escola de Química e Alimentos, o professor Luiz Antonio de Almeida Pinto é um verdadeiro apaixonado pela academia, com uma trajetória dedicada ao desenvolvimento de soluções inovadoras para o tratamento e valorização de resíduos.
Seu trabalho tem como eixo central a busca por alternativas sustentáveis para o tratamento de resíduos. Na agroindústria, por exemplo, são reaproveitados resíduos como palha de arroz, bagaço de milho, soja, bagaço de azeitona e caroços de pêssego. E, considerando a grande atividade de pesca em Rio Grande, o pesquisador também realiza reaproveitamento de cascas de camarão e caranguejo, além de cabeças, vísceras e ossos de pescados.
Esses materiais, que seriam descartados, podem ter diferentes fins. De alguns itens são produzidos quitina e quitosana, que, por sua vez, são transformados em matérias-primas como pó, esponjas e hidrogéis. A quitosana também pode ser misturada com outros biomateriais, como amido e gelatina - produzida a partir dos ossos e peles dos peixes -, para criar novos compostos e estruturas, além de contribuir para a redução do descarte inadequado no meio ambiente. As aplicações práticas são diversas. Materiais à base de quitina e quitosana são utilizados como biossorventes para tratar efluentes, eficazes na remoção de íons metálicos, corantes orgânicos e produtos químicos tóxicos - atuação na qual Pinto é pioneiro.
A principal meta desse trabalho é transformar resíduos em produtos de maior valor agregado, evitando o descarte no ambiente e criando uma economia circular. Essa abordagem não visa apenas o tratamento ambiental, mas o desenvolvimento de novos produtos e processos.
Atualmente, Pinto orienta 18 alunos de pós-graduação em três programas diferentes, e trabalha com outros professores em seus laboratórios, formando um grupo de trabalho de mais de 50 pessoas, entre alunos de pós-graduação e graduação. “Todo mundo que está nessa unidade já foi meu aluno. Todos aqui que estudaram Engenharia Química e de Alimentos na Furg foram meus alunos, então eu já me sinto como um paizão de todo mundo”, brinca o professor.
Durante os 10 anos que atuou como coordenador de pós-graduação na Furg, no final dos anos 1980, foi responsável por dividir as engenharias Química, Mecânica e Civil. Pinto também destaca que foi um dos fundadores de dois cursos na universidade. Em 1996, fundou a pós-graduação de Ciência de Alimentos, que hoje possui conceito 7 no CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), indicando excelência internacional. O professor destaca, ainda, que esse é um dos quatro cursos com conceito 7 no Brasil, ao lado da Unicamp e UFSC. Mais recentemente, em 2006, também fez parte da criação do curso de Química Tecnológica e Ambiental, que, como o próprio nome já indica, une tecnologia com questões ambientais.
Ao longo da sua trajetória, publicou mais de 200 artigos em periódicos nacionais e internacionais, além de depositar 21 patentes. E na opinião do pesquisador, esse é o caminho para a união de academia e indústria. “Nós, quando começamos qualquer tipo de trabalho, já temos o viés de pensar no setor produtivo. Agora, avançamos em cima de patentes. Até 2018 eu não tinha nenhuma patente, de lá para cá eu sou a pessoa que mais tem patentes aqui na Furg. Tudo que fazemos, que na maioria é aplicado ao setor produtivo, termina sendo patenteado para proteger o nosso conhecimento”, explica o professor.
A grande maioria dos programas e a própria universidade, comenta Pinto, incentivam essa cultura, por vezes optando até por postergar a publicação de artigos de trabalhos de defesa de mestrado e doutorado até que a patente seja depositada e protegida.
Mas nem sempre foi possível fazer dessa forma, admite Pinto. “Nós não tínhamos estrutura para fazer isso. Você tinha uma opção de escolha, porque a pós-graduação, a academia, depende de produção acadêmica, de artigos científicos, de interação, é isso que faz com que os cursos cresçam. E, para produzir, você precisa de tempo, e eu era sozinho”, reflete.
Hoje, o cenário é outro. O professor reforça que, atualmente, o trabalho em equipe e a colaboração fazem parte da rotina do curso e da universidade, o que resulta em reconhecimentos e premiações.