Tradição, planejamento, juventude e talento definem seleções

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É curioso analisar a definição das seleções classificadas para as semifinais da Copa do Mundo do Brasil e verificar as equipes que chegaram a esta fase nas edições anteriores da competição.
A Alemanha chega pela quarta vez seguida entre as quatro melhores (2002, 2006, 2010 e 2014). No total, esta será a 13ª vez em que os alemães chegam às semifinais do Mundial. Já o Brasil, não conseguia uma vaga para esta etapa desde 2002. A seleção canarinho chega à sua 11ª semifinal. Esta será a quinta vez em que a Holanda chega às semifinais. No retrospecto mais recente, nos últimos seis Mundiais, os holandeses chegaram entre os quatro melhores em duas oportunidades (1998 e 2010). A Argentina, por sua vez, não conseguia ficar entre os quatro melhores em uma Copa desde 1990. Com a conquista da vaga no atual torneio, os argentinos chegam à sua quinta semifinal.
Ao todo, os semifinalistas de 2014 somam 10 títulos (cinco do Brasil, três da Alemanha e dois da Argentina). Nunca uma semifinal de Copa do Mundo deixou de contar com, ao menos, um dos quatro que ainda sonham com a taça deste ano. Em duas ocasiões, três deles estiveram juntos nesta fase: 1974 (Alemanha, Brasil e Holanda), e 1978 (Argentina, Brasil e Holanda).

Alemanha: a força da organização

Cinco jogadores do grupo da seleção alemã terceira colocada em 2006 jogam no time de 2014 (Lahm, Schweinsteiger, Mertesacker, Podolski e Klose). No time de 2010, já estavam presentes 11 dos 23 jogadores que estão no Brasil (Lahm, Schweinsteiger, Mertesacker, Podolski, Klose, Kroos, Özil, Khedira, Boateng, Müller e Neuer). Destes 11, ao menos sete são titulares em 2014. A criação de uma base formada por jovens talentosos e que ganhou experiência no Mundial da África do Sul explica, em parte, a presença, mais uma vez, dos alemães entre os quatro melhores do mundo e com reais condições de disputar o título. Outro ponto importante está na força do futebol local. Oito dos 11 jogadores que começaram o jogo contra a França, pelas quartas de final, jogam na Alemanha. Dos 23 convocados, 16 jogam em clubes do país.

Brasil: sem base, mas com o peso da história

O Brasil joga com a pressão de ser o dono da casa. O time vem oscilando no torneio, e tem gerado a desconfiança da torcida e de críticos. A boa atuação frente a Colômbia, porém, parece ter dado ânimo novo. O grupo que participou da Copa de quatro anos atrás foi totalmente reformulado. Apenas cinco jogadores de 2010 estão entre os escolhidos de Luiz Felipe Scolari (Julio Cesar, Daniel Alves, Maicon, Thiago Silva e Ramires). Durante a preparação para o torneio de 2014, nenhuma base foi formada e o atual elenco ganhou forma somente no ano passado. A convocação de Felipão não gerou muitas controvérsias. Em suma, os melhores são estes que aí estão, com uma ou outra discordância. Agora, sem poder contar com Neymar, cortado por uma fratura em uma vértebra, a força coletiva ganha mais importância. As cinco estrelas sobre o escudo costumam pesar. O ambiente de apoio criado em torno da seleção no Mundial disputado no País e o sentimento de união do grupo de jogadores causado pelo corte do atacante, podem ser os diferenciais em favor dos anfitriões.

Argentina: a confiança no talento

A Argentina chegou ao Brasil como forte candidata ao título. O favoritismo não é à toa. Com jogadores de muito talento, tendo Messi como o maior expoente, a seleção sul-americana atemoriza a todos. A todos mesmo. Se do meio para frente o time de Alejandro Sabella preocupa qualquer adversário com Di María, Agüero, Higuaín, Lavezzi e Palácio fazendo companhia ao quatro vezes eleito melhor do mundo, do meio para trás, a preocupação é da torcida que há 21 anos não comemora título algum de sua seleção (a última conquista da Argentina foi a Copa América de 1993). Com uma defesa frágil e com atuações instáveis, o time vem avançando, mas sem atuações convincentes. O corte de Di María, por lesão muscular, enfraquecerá a força de ataque do país vizinho, na medida em que que ele vinha sendo, junto com Messi, um dos destaques da equipe. Por enquanto, aliás, Messi vai levando os hermanos com ele. A sorte também parece estar ao lado dos albicelestes. Mas, até quando isso vai bastar?

Holanda: renovada e experiente

A seleção da Holanda, finalista em 2010, não era apontada como favorita ou até mesmo candidata ao título antes do início do Mundial. Com sete atletas do grupo vice-campeão há quatro anos (Vorm, De Jong, Kuyt, Huntelaar, Sneijder Robben e Van Persie), sendo que somente três deles são titulares absolutos e um foi desligado por lesão (De Jong), a Laranja Mecânica apresentou um time muito renovado no Brasil. A juventude do meio campo e da defesa deu vitalidade aos setores. O multicampeão técnico Louis van Gaal aposta em um futebol de contra-ataques em velocidade e pouca posse de bola para surpreender seus adversários. O jovem grupo já mostrou que pode mais do que apresentou nas últimas partidas, mas, talvez, ainda careça de experiência para pintar pela primeira vez o mundo de laranja. A aposta, mais uma vez, está na velocidade e nos dribles de Robben e no oportunismo de Van Persie, contra uma ainda pouco testada defesa argentina.