Rendimento da soja sustenta esperança do agronegócio

Mesmo com o El Niño, safra deve ser grande no Rio Grande do Sul, no País e no continente

Por Claudio Medaglia

Enquanto o Brasil colheu uma safra recorde da oleaginosa no ciclo passado, o Rio Grande do Sul foi assolado por mais um período de estiagem
Sob o impacto das chuvas que têm ocorrido em volume acima do ideal para o período, o agronegócio gaúcho deverá ter um 2024 desafiador. Com estimativa de forte quebra na safra de milho e a consolidação dos prejuízos no trigo, a melhor expectativa recai sobre a soja, cultura que pode, ainda, oferecer um rendimento próximo ao planejado. A oferta ajustada sustenta preços mais atrativos ao produtor, mas sem euforia, projetam analistas do mercado agropecuário.

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Quebra histórica no trigo desafia resiliência dos produtores

Cultivo do trigo foi prejudicado pelo excesso de chuva registrado no Estado
Considerada uma das piores safras dos últimos 25 anos, a produção de trigo volta a ficar ameaçada. A performance desastrosa da colheita que está sendo finalizada, na comparação com os dois períodos anteriores de volume e qualidade dos grãos, coloca à prova a resiliência dos produtores para as próximas semeaduras.
Com potencial inicial estimado em 5,4 milhões de toneladas, a colheita do cereal está sendo concluída no Rio Grande do Sul em cerca de 3,3 milhões de toneladas. E, desse total, entre 70% e 75% são grãos que não terão qualidade suficiente para serem utilizados pelas moageiras, e acabarão destinados para ração animal. "Então, isso traz uma realidade. Depois de dois anos em que o RS vendeu muito trigo no mercado internacional, voltaremos a importar. Isso porque, com exceção de algumas regiões mais a Oeste, nas Missões, que conseguiram colher algum trigo bom, no resto a qualidade foi lá para baixo, porque choveu muito", diz Élcio Bento, analista da cultura na empresa Safras & Mercado.
Segundo ele, os preços recuperaram até onde poderiam ir e, agora já estão no momento em que, se subirem muito, importar será mais vantajoso para as indústrias. Não há espaço para aumentar preços, que irão ficar inferiores ao passado e em uma situação também de menor produção. "Temos preços que não podem subir muito mais porque já estão equiparados com o produto que virá da Argentina. Então, a safra é bastante complicada em termos climáticos. Tivemos muito trigo prejudicado pelo excesso de chuva. Em termos de preços, está, ainda, acima da média, mas bem abaixo do ano passado", avalia Bento.
O analista da Safras vê risco de redução na área de plantio para a próxima safra, por conta do desestímulo aos produtores em função da memória recente de perdas. "É difícil falar em termos de produção, mas, ao que tudo indica, o produtor vai estar menos animado para voltar a plantar depois de ter perdido uma safra com a deste ano".
A percepção coincide com a análise do sócio proprietário da Solo Corretora de Cereais, de Ijuí, Índio Brasil. Com baixa produtividade e qualidade nesta safra de trigo, os preços desabam e desanimam os triticultores. "Infelizmente, a expectativa para o futuro será de redução de área de cultivo. É inevitável o desestimulo", finaliza.