Fórum da Soja debate cenários econômicos e sustentabilidade

Evento organizado pelo 33º ano pela FecoAgro/RS integra programação da Expodireto

Por JC

Nepomuceno destacou o manejo adequados dos produtores
Claudio Medaglia, de Não-Me-Toque
A agricultura brasileira é solução, e não problema. A fala do chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Lima Nepomuceno, nesta terça-feira (7), na 23ª Expodireto Cotrijal, procurou destacar o manejo acertado dos produtores nacionais, com ênfase no sequestro de carbono, um dos temas do presente, com olhar no futuro.
“Nós somos o único país hoje, no planeta, que consegue fazer fotossíntese, pegar o CO2 na atmosfera 365 dias por ano, produzir alimento, fibra e biocombustível. Folha, talo e raiz que sobram é carbono que volta para o solo, sequestro de carbono” afirmou.
Durante o 33º Fórum Nacional da Soja, promovido pela Federação das Cooperativas Agropecuárias do estado (FecoAgro/RS) e Cotrijal, com patrocínio da CCGL, o palestrante apresentou o programa Soja Baixo Carbono, criado pela Embrapa Soja justamente para mostrar em números que o plantio direto, se bem feito, dependendo do sistema usado, com rotação de cultura, pode sequestrar de 3 a 7 toneladas de CO2/ano.
“O Brasil não usa, ao menos na produção de soja, nitrogênio com origem fóssil. A gente usa fixação biológica de nitrogênio. Então, se pegarmos os mais de 40 milhões de hectares plantados no ano passado, sem usar nitrogênio químico, fazendo a fixação biológica, já deixamos de colocar na atmosfera 200 milhões de toneladas de CO2 equivalente”, afirmou Nepomuceno.
O presidente da Federação das Cooperativas Agrícolas do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), Paulo Pires, destacou a fala do pesquisador e fez uma cobrança aos países mais desenvolvidos.
“Nós não podemos preservar para os ricos, tem que acontecer um equilíbrio. Já que eles não têm preservação, que nos ajudem a conservar”, disse.
A segunda palestra do dia apresentou aos produtores uma boa notícia: com o fim dos embargos por parte da China e o atual cenário bélico entre Rússia e Ucrânia, os insumos estão retomando os patamares de preço. O responsável pelo panorama agrícola da soja foi o sócio-diretor da Agrinvest Commodities, Marcos Araújo. Segundo ele, o canal de fornecimento foi reaberto após fim do embargo das exportações do cloreto de potássio da Rússia e da Bielorrússia, que representam cerca de 50% de todo potássio importado no Brasil.
“Houve um recuo dos preços dos fertilizantes e também dos próprios defensivos agrícolas, como o glifosato da China. O recuo está tão significativo que está dando um grande poder de troca para o sojicultor para a próxima safra”, afirmou.
O consultor detalhou que entre a temporada de 2021 para a safra 2022/23, houve um acréscimo no custo de produção total da soja de 60% e que o recuo pode ficar entre 15% e 20%. “Por mais que o sojicultor esteja olhando os preços da soja para 2024 em torno de R$ 10,00 a R$ 15,00 inferiores ao patamar atual, ele tem que olhar com muito carinho, numa condição climática normal, que o retorno vai ser muito produtivo e dará condições para fazer uma lavoura com bom nível tecnológico”, avaliou.
O economista da BTG Pactual, Álvaro Frasson, disse que a exemplo do que acontece nos Estados Unidos, o Brasil está com um cenário de juros elevados e que o debate sobre metas de inflação ainda é bastante relevante. “O Brasil tem uma possibilidade interessante de melhorar as suas expectativas num prazo de dois a três anos”, estimou.
Para isso, Frasson indicou que será necessário o País focar seus esforços em trazer um arcabouço fiscal positivo, além de uma reforma tributária que modernize o sistema e gere produtividade. O resultado, segundo ele, será aumentar a perspectiva de crescimento e melhora do quadro fiscal. “E, com o Banco Central fazendo seu trabalho, se consegue controlar a inflação em um prazo mais longo”, concluiu.
O diretor-executivo da FecoAgro/RS, Sérgio Feltraco, disse que a lógica do Fórum foi a de estruturar uma abordagem que trouxesse enfoque de tecnologia, tendências, programas de garantia de produtividade e sustentabilidade, experiências de grandes operadores de mercado, precificação da soja e uma abordagem voltada ao novo cenário político e econômico.
“É importante que o produtor tenha um olhar muito sério em cima dos avanços de tecnologia, o que, aliás, é o mote e o que sustenta esta feira. Tem uma colagem muito íntima com as condições de mercado e de comercialização”, destacou o dirigente.