Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 25 de Agosto de 2025 às 07:47

Dedicação à pesquisa sobre pós-colheita rende prêmio a agrônomo gaúcho

Maurício de Oliveira, da Ufpel

Maurício de Oliveira, da Ufpel

/Arquivo pessoal/Divulgação/JC
Compartilhe:
Caren Mello
Caren Mello
Grande parte da população não imagina como são complexos os processos para que se tenha alimentos saudáveis e terra fértil que propicie abundância, além de toda a logística para que eles cheguem à mesa. Otimização dos processos e diminuição de custos, sem prejudicar os atributos do alimento, são objetos de pesquisas há décadas.
Grande parte da população não imagina como são complexos os processos para que se tenha alimentos saudáveis e terra fértil que propicie abundância, além de toda a logística para que eles cheguem à mesa. Otimização dos processos e diminuição de custos, sem prejudicar os atributos do alimento, são objetos de pesquisas há décadas.
A busca por técnicas que melhorem a produção, que tornem os processos mais eficientes e que reduzam custos para o consumidor é um avanço que vem sendo perseguido pelo engenheiro agrônomo Maurício de Oliveira, pesquisador e professor na Universidade Federal de Pelotas (Ufpel).
Com mais de 20 anos de experiência em pós-colheita de grãos, Oliveira tem mestrado, doutorado e pós-doutorado na área de Ciência e Tecnologia Agroindustrial. Participou como pesquisador visitante no Rothamsted Research (Reino Unido), o centro de pesquisa agrícola mais antigo do mundo.
Atualmente, integra o Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, coordena o Labgrãos/UFPel e dirige a Unidade Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) InovaAgro-UFPel, onde desenvolve projetos voltados à qualidade, redução de perdas e sustentabilidade na cadeia de grãos, com ênfase em arroz, soja, milho e trigo. Ao longo da carreira, já orientou mais de 120 trabalhos de graduação, mestrado e doutorado, além de ter publicado mais de 100 livros.  
A conquista desse currículo começou com o apreço especial, ainda criança, pelo campo, no município de Palmitinho, no norte do Estado. Na cidade com a economia voltada à produção agrícola, cresceu acompanhando os avós, produtores rurais.
Decidiu fazer o curso de técnico agrícola em Frederico Westphalen, o que o fez seguir, naturalmente, para a área de agronomia. A vocação levou o jovem a procurar outra formação, desta vez em Pelotas, onde começou a trabalhar na área de agroindústria. Da iniciação científica, pulou para o Mestrado, o Doutorado e docência, em paralelo à pesquisa. Como pesquisador, a dedicação foi toda desenvolvida com foco na pós-colheita de grãos, controle de qualidade e industrialização, sempre com tecnologias inovadoras.
Conforme o agrônomo, o Estado produz muito e muito bem. “Mas acabamos por perder na pós-colheita. Nosso índice anual médio é de 15% de perdas em toda safra”, alerta. O pesquisador cita o excesso de umidade, isto é, níveis superiores ao recomendado tecnicamente. Além disso, operações de secagem mal feitas, por atraso da coleta ou por genótipos (os genótipos mais modernos têm se mostrado mais instáveis), são fatores de perda de grãos. “Não nos adaptamos, fomos simplesmente fazendo o mesmo que fazíamos há 30 anos. Por isso, os índices acabaram aumentando”, aponta. 
O clima bem desfavorável, com muita instabilidade, em geral, mais quente, com mais chuvas na época de colheita, eleva o número de fungos, maior contaminação dos grãos, e, por consequência, maiores perdas. Para reverter essas condições desfavoráveis na pós-colheita, o pesquisador desenvolveu uma tecnologia baseada em luz.
A luminosidade é capaz de descontaminar os grãos, e, com a descontaminação, diminui a carga microbiana antes de armazená-los. Também é possível trabalhar com ozônio e suas novas tecnologias de uso para controle de insetos e de fungos, além da degradação de toxinas.
Os trabalhos de Oliveira resultaram em 13 patentes registradas, e, até o final do ano, virão outras quatro, todas com foco em inovação. “Tivemos na Embrapii um projeto aprovado de R$ 125 milhões para esse tipo de desenvolvimento de tecnologia rural. Não só na área de grãos, mas em todas as áreas de conhecimento e agronomia”, conta.
As patentes podem ser adquiridas ou usadas por outras empresas, mediante royalties para a instituição pública quando há transferência de tecnologia e exploração comercial. O uso de luz para descontaminação de grãos, por exemplo, está sendo transferido, atualmente, para uma empresa de São Paulo, a M2D1, voltada à biossegurança agrícola e de saúde humana.
Com a tecnologia desenvolvida, o pesquisador explica que já é possível o uso em escalas maiores, uma vez que os resultados foram muito positivos. “Conseguimos uma descontaminação que passa de 80% de fungos. É muito promissor porque vai levar a menores perdas de grãos, tornar os produtos mais seguros do ponto de vista microbiológico e, também, de contaminantes. É um diferencial muito importante em época de crise climática”, observa, lembrando da enorme insegurança pela qual passam produtores de todas as localidades. 
O grupo de pesquisa coordenado pelo agrônomo vem desenvolvendo uma série de algoritmos que empregam a Inteligência Artificial em automação para criar modelos que fazem previsões de acordo com as condições climáticas e suas variações. Assim, é possível avaliar, com antecedência, os riscos a que estarão sujeitos os grãos, caso eles não sejam armazenados de formas diferentes. Ou, ainda, antecipar o período da colheita, antes da intercorrência climática, para que se minimizem as possíveis perdas.

Notícias relacionadas