Na Celac, Lula defende diálogo extrarregional com China e UE

Encontro marca o retorno do Brasil ao fórum formado por 33 países

Por JC

Para Lula, integração regional não impede aproximação com outros blocos
Ao mesmo tempo que em que reiterou sua disposição em aprofundar a integração com países da América Latina, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saiu em defesa de um diálogo extrarregional com China, União Europeia, Ásia e União Africana. As declarações foram feitas ontem em discurso na VII Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que acontece em Buenos Aires. O encontro marca o retorno do Brasil ao fórum de 33 países, o que, para o presidente, traz uma sensação de "reencontro consigo mesmo".

Em uma decisão de ajuste de rota na política externa, Lula determinou em 5 de janeiro o retorno do Brasil à Celac, três anos após o País deixar o órgão por determinação do ex-presidente Jair Bolsonaro. No discurso feito aos líderes presentes, o petista chamou a decisão de inexplicável.

"É com muita alegria e satisfação muito especiais que o Brasil está de volta à região e pronto para trabalhar lado a lado com todos vocês, com um sentido muito forte de solidariedade e proximidade", disse Lula na Celac. "Esse espírito - de solidariedade, diálogo e cooperação - em uma região do tamanho e da importância da América Latina e do Caribe não poderia ser mais atual e necessário", acrescentou.

O aprofundamento da integração regional, destacou Lula, não impede diálogos com outros blocos econômicos. "Julgamos essenciais o desenvolvimento e o aprofundamento dos diálogos com sócios extra regionais, como a União Europeia, a China, a Índia, a ASIAN e, muito especialmente, a União Africana", afirmou o presidente, no momento em que tenta barrar um acordo comercial unilateral entre Uruguai e China. "Estaremos associados aos nossos vizinhos bilateralmente, no Mercosul Unasul e Celac", seguiu.

Em defesa de um desenvolvimento sustentável que combata as desigualdades sociais, Lula afirmou que o mundo de hoje demonstra o valor da integração. "Nada deve nos separar, já que tudo nos aproxima", salientou Lula. "Contamos com capacidades para participar, de forma vantajosa, da transição energética global", disse, sobre o Brasil. "É crítico que valorizemos a nossa Organização do Tratado de Cooperação Amazônica".
Presidente de turno da Celac, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, defendeu seu papel à frente da instituição. Ele destacou que assumiu um compromisso de incorporar também as necessidades do Caribe na Celac, e disse que em várias ocasiões em cúpulas globais destacou os impactos das mudanças climáticas sobre essa região. Fernández ainda lembrou que Argentina e México criaram juntos um fundo de assistência ao Caribe, para mitigar os problemas gerados pelas mudanças climáticas.

Em outro momento, Fernández qualificou como "imperdoável" o "bloqueio de mais de seis décadas" vivido por Cuba. E também mencionou o bloqueio contra a Venezuela, acrescentando que "é preciso se posicionar contra isso".

Uruguai destoa, ataca Mercosul e diz que defesa da democracia não é só de esquerda

Se Brasil e Argentina chegaram à Cúpula da Celac em Buenos Aires com discursos alinhados sobre a necessidade de combater o avanço da ultradireita, ficou com o Uruguai de Luis Lacalle Pou a tarefa de desafinar o coro dos contentes.
A jornalistas, o presidente de centro-direita afirmou que é preciso que nações vizinhas deixem que o país "se abra ao mundo" e disse que essa seria sua principal mensagem a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que, depois de passar pela Argentina, vai ao Uruguai.
O uruguaio se referia a acordos de livre comércio que Montevidéu negocia com países como China e Nova Zelândia, algo que vem sendo criticado por outros membros do Mercosul. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, por exemplo, já sugeriu que tirar uma ideia como essas do papel significaria a destruição do bloco.
Lacalle Pou criticou o que chama de protecionismo do Mercosul e pediu que líderes da região parem de "reclamar para dentro" e compreendam que é preciso avançar na integração global.
Além de recados ao governo brasileiro, sobraram também indiretas ao governo de Alberto Fernández na Argentina. O líder uruguaio disse, por exemplo, que "não é necessário ser de esquerda para defender a democracia", contrariando mensagens ecoadas pelo peronista e também por Lula em Buenos Aires.
Depois, em referência ao comentário do ministro da Economia argentino, Sergio Massa, para quem o Uruguai é um "irmão menor" a quem Brasil e Argentina deveriam "cuidar", Lacalle Pou riu e respondeu "Disneylândia", uma maneira de definir a declaração como infantil.