Uruguai esnoba Mercosul e anuncia entrada em tratado

Pelas regras atuais, os países que integram o Mercosul não podem fazer acordos comerciais unilaterais com outros parceiros

Por JC

Uruguay’s President Luis Lacalle Pou addresses the 76th session UN General Assembly on September 22, 2021, in New York. (Photo by JOHN ANGELILLO / various sources / AFP)
O Uruguai apresentou formalmente nesta semana pedido de ingresso no CPTPP (Acordo Amplo e Progressista de Associação Transpacífica), formado por 11 países da Ásia e da América, entre eles, Chile e Peru. O pedido ocorre após Brasil, Argentina e Paraguai apresentarem um texto conjunto ameaçando o Uruguai de "adotar as eventuais medidas que julguem necessárias para defender seus interesses nos âmbitos jurídico e comercial" caso o país seguisse em frente com a adesão ao acordo.
Advertências parecidas foram enviadas com relação a um estudo que vem sendo realizado para permitir um acordo de livre-comércio entre China e Uruguai.
A apresentação oficial foi entregue pelo chanceler uruguaio, Francisco Bustillo, ao ministro de Comércio e Crescimento das Exportações da Nova Zelândia, Damien O'Connor, durante visita à Oceania.
Em suas redes sociais, o presidente uruguaio Luis Lacalle Pou aplaudiu o avanço. "O ministro Francisco Bustillo acaba de apresentar formalmente a solicitação de ingresso ao CPTPP. Mais oportunidades para nosso país e nossa gente. Um Uruguai aberto ao mundo. Confiamos nos uruguaios e em seu potencial."
Em resposta aos parceiros do Mercosul, Lacalle Pou afirmou que seu governo se sente com todo o direito de avançar no ingresso ao CPTPP, apesar das advertências de seus sócios, e apelou para o direito internacional. Retrucou com a decisão tomada por Argentina e Brasil, de reduzir taxas entre os dois países, da qual não participaram Uruguai e Paraguai.
Se for aceito nessa área de livre-comércio, o Uruguai terá acesso livre aos mercados de Austrália, Brunei, Canadá, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Singapura, Chile e Vietnã. Pelas regras atuais, os países que integram o Mercosul não podem fazer acordos comerciais unilaterais com outros parceiros. No entanto, há brechas no estatuto do bloco que permitem essas movimentações uruguaias.
A poucos dias da última reunião do Mercosul do ano, em Montevidéu, o assunto alimentou as conversas sobre como será o encontro.
O Brasil, ao que tudo indica, não será representado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Já o argentino Alberto Fernández estará presente apenas por algumas horas, segundo fontes oficiais - o encontro do bloco ocorre no mesmo dia em que deve sair a sentença da vice-presidente Cristina Kirchner, acusada de liderar um esquema de desvio de verbas públicas.
A ideia de flexibilizar o Mercosul era defendida por Brasil, Argentina (quando governada por Mauricio Macri), Uruguai e Paraguai. Já sob Fernández, o país isolou-se na defesa de um bloco mais fechado.
Em entrevista recente à Folha, o chanceler argentino Santiago Cafiero afirmou que o Mercosul não tem como "impedir que cada país siga seus rumos, mas em casos de interesse comum, o único pedido é que façam estender esses acordos aos demais países-membros".
O encontro em Montevidéu também será de expectativa sobre os rumos que tomará o Brasil após a posse de Luis Inácio Lula da Silva.