Empresas tentam vender Brasil como potência ambiental em NY

O diretor da gestora de ativos ambientais Reservas Votorantim, David Canassa, ficou surpreso como avanço da agenda verde nas empresas brasileiras. "Há cinco anos, isso era impensável

Por Agência Estado

(FILES) In this file photo taken on March 15, 2020 a boat speeds on the Jurura river in the municipality of Carauari, in the heart of the Brazilian Amazon Forest. - The Amazon, the world's biggest rainforest -the so-called "lungs of the Earth- in which humanity is counting on to inhale our pollution, is now emitting more carbon than it absorbs. The destruction has accelerated -especially in Brazil- where far-right President Jair Bolsonaro pushes to open protected lands and indigenous reservations to agribusiness and mining. (Photo by Florence GOISNARD / AFP)
O setor privado brasileiro quer marcar território na semana de debates sobre o clima em Nova York, que acontece todo ano no mês de setembro, em paralelo à Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). O objetivo é vender o Brasil no exterior, em um esforço para posicionar o País como uma potência verde, assumindo o protagonismo dessa agenda, na contramão da gestão Bolsonaro, criticada internacionalmente pela ausência de políticas ambientais.
Para isso, o Brazil Climate Summit, realizado nos dias 15 e 16, na Universidade de Columbia, às vésperas da semana do clima em Nova York, o maior evento com a temática clima do mundo e que ocorre nesta semana, deve passar a ser um fórum permanente na Big Apple. "O evento não pode parar aqui. Independente do governo, queremos tomar a rédea", afirma a cofundadora da EB Capital e uma das idealizadoras do evento, Luciana Antonini Ribeiro.
Segundo ela, que evita falar em política, para não "contaminar" a iniciativa, a proposta do evento, que começou a ser gestado no meio da pandemia, foi criar uma ponte entre vários agentes, indo além do público já voltado à sustentabilidade.
O fórum atraiu cerca de 600 pessoas durante dois dias na Universidade de Columbia, incluindo alunos e ex-alunos da instituição, especialistas na agenda verde, executivos de empresas, de bancos e investidores internacionais.
O diretor da gestora de ativos ambientais Reservas Votorantim, David Canassa, ficou surpreso como avanço da agenda verde nas empresas brasileiras. "Há cinco anos, isso era impensável. À medida que você vê iniciativas adotadas por empresas de capital aberto, isso toma outra proporção, porque os investidores começam a cobrar", diz, ponderando que tal avanço se deu apesar da pandemia, que "poderia ter colocado tudo embaixo do tapete".
'Crédito verde' cresce nos setores público e privado
Entre os temas debatidos no evento Brazil Climate Summit esteve a necessidade de estruturas financeiras para apoiar uma agenda verde no Brasil. O diretor de mercados de dívida para a América Latina do Bank of America, Max Volkov, mostrou um cenário do mercado brasileiro. Segundo ele, há um estoque de US$ 19 bilhões de emissões de dívida externa no País com perfil ESG, sigla para questões ambientais, sociais e de governança.
Em paralelo a opções tradicionais, novas estruturas começam a surgir. O Banco do Brasil prepara o lançamento das suas primeiras emissões de créditos de carbono. A estreia será com quatro operações no valor de R$ 25 milhões. Mas o potencial é maior. O BB já mapeou 80 transações em seu portfólio de agronegócio.
"Nós juntamos as duas pontas, o lado que tem excesso de crédito de carbono e o outro que precisa compensar. Mapeamos todo esse excedente e vamos lançar as primeiras quatro emissões no fim do mês", afirmou o presidente do BB, Fausto Ribeiro, em entrevista ao Estadão/Broadcast.
Na outra ponta, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está atuando para impulsionar o segmento. Nesse sentido, organizou dois editais para a compra de crédito de carbono, em um total de R$ 110 milhões. "O Brasil é uma potência em soluções baseadas na natureza. Temos nossas florestas, uma solução que está na mão", afirmou o diretor de crédito produtivo e socioambiental do banco de fomento, Bruno Aranha.
Avanço lento
O debate sobre o sistema de créditos de carbono está longe de ser novo. O modelo foi criado a partir do Protocolo de Kyoto, em 1997. No Brasil, esse mercado atingiu a casa dos US$ 2 bilhões no ano passado e tem crescido a uma taxa anual de 30%, segundo especialistas que participaram do Brazil Climate Summit. A expectativa é que o segmento possa alcançar US$ 50 bilhões até 2030, aponta a consultoria global McKinsey.