‘Gigante' de Guaíba será’ ligada no domingo

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"Vai ter brinde, sim, mas com água mineral com gás", avisa o diretor-presidente da Celulose Riograndense, Walter Lídio Nunes, sobre o instante que marcará a partida da planta 2 do complexo situado às margens do Lago Guaíba, no município vizinho a Porto Alegre. O comedimento, que deixará de lado uma típica espumante de preferência de alguma vinícola local, é explicado pelo executivo pela concentração e disciplina dos momentos que antecedem a partida da "gigante", como chamam carinhosamente Nunes e seus subordinados. O apelido faz jus à capacidade produtiva a ser ativada neste domingo e que consumiu investimento de R$ 5 bilhões, considerado o maior aporte na economia gaúcha em mais de três décadas.
"Não foi fácil chegar até aqui", admite o executivo, garantindo que vai haver espaço para alguns minutos de comemoração sóbria após o botão ser acionado, o que deve ocorrer no começo da tarde. "Não definimos a hora exata ainda."? O novo parque industrial, que foi montado integrado ao antigo, fundado em 1972, ainda como Borregaard, aportará 1,3 milhão de toneladas de celulose obtida de eucalipto (fibra curta), elevando a 1,8 milhão a atividade produtiva instalada. A nova marca deve ser atingida após seis meses de curva de aprendizado do complexo, conforme assinala Nunes.
A partir de dezembro deste ano, o diretor-presidente do complexo, que pertence à chilena CMPC desde 2009, espera alcançar a média total diária de processamento. Nunes observa que os últimos dias, horas e minutos impuseram, e ainda impõem, dedicação total de executivos ao pessoal de chão de produção. "Não tivemos feriados este ano ainda e vamos trabalhar direto até o próximo domingo", projeta o executivo, que acrescentará, no fim de semana, ao seu currículo a quinta planta de celulose colocada em marcha. "Ainda estamos fazendo ajustes", revela o comandante da operação.
No domingo, o processo de acionamento da planta 2, que quadruplicará a capacidade, será feito a partir da sala de controle, muito parecida com as centrais de monitoramento de trânsito, dotada de telas de vídeos e computadores que vigiam tudo - os 167 mil hectares de florestas em 323 mil hectares em 720 mil propriedades, o fluxo diário de 450 viagens de caminhão com madeira e o processo de processamento na área industrial. Também há o despacho do produto final por meio de barcaças, na nova área de embarque à beira do Guaíba. As embarcações são monitoradas em tempo real pelos operadores da Navegação Aliança, conectados à sala de controle.
"A produção começa quando, de fato, acionarmos o transportador que levará os cavacos de madeira em trilhos aéreos até o digestor, um grande vaso com 60 metros de altura", descreve Nunes. "Ali começa o cozimento, com adição dos primeiros químicos", segue o diretor-presidente, que projeta, para a terça-feira, 5, a primeira fornada de celulose do novo complexo. Neste momento, admite Nunes, poderá ter finalmente o estouro da espumante e com a presença de acionistas chilenos, que estarão no complexo para presenciar o momento histórico, reforça o executivo.

Da mobilização às divisas externas das exportações

No dia 3 de maio, completam-se 11 anos do projeto que tira o Estado da posição de mero coadjuvante na indústria de celulose para torná-lo um dos principais players no cenário brasileiro.
Segundo a Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), ligada à Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), a produção do setor que alcançou 16,4 milhões em toneladas em 2014, 14 milhões de fibra curta (eucalipto). O complexo gaúcho responderia por 14% do volume de fibra curta, hoje é de pouco mais de 3%. "Costumo dizer que este projeto teve uma licença social, foram mais de 500 reuniões desde 2004, ouvimos igreja católica, centro de umbanda, tudo que imaginares, para validar a vontade de ter a planta aqui", recorda o diretor-presidente da Celulose Riograndense, Walter Lídio Nunes.
A condição local, de crescimento rápido de florestas e possibilidade logística definiu a opção gaúcha. A proximidade da base florestal e escoamento por hidrovia - do berço em Guaíba saem barcaças pela Lagoa dos Patos até o porto público no porto do Rio Grande - acrescentam mais pontos ao que Nunes considera a planta com melhor produtividade no País. O presidente da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), João Fernando Borges, cita que estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) estima que um complexo pode gerar até 30 mil postos de trabalho (diretos e indiretos). "Teremos agora uma grande planta. O impacto se dará em toda a cadeia. Vai ser mais demanda por madeira, mais transporte e logística, mais químicos e mais serviços", dimensiona Borges.
Como mais de 95% do produto gerado em Guaíba é enviado ao Exterior, a Celulose Riograndense ampliará a fronteira da receita com exportações. Uma boa notícia, segundo o economista Guilherme Risco, da Fundação de Economia e Estatística (FEE), considerando a trajetória mais fraca nas divisas desde 2014. Também a crise no polo naval reduziu as chances de plataformas de petróleo turbinarem o faturamento no exterior. A produção reforçará a presença em mercados como China (principal), Estados Unidos e países europeus.
Por isso, a CMPC aposta na manutenção dos preços, atualmente, cotados em US$ 700,00 por tonelada, que varia de acordo com o mercado. Risco também analisou as vendas de celulose de 2005 a 2014, com média de 330 mil toneladas por ano ou US$ 142 milhões.
"Se as exportações também quadruplicarem, como a capacidade do complexo, poderá sim ter um bom impacto. Um ponto importante é que boa parte dos embarques vai para a China, que ainda continua com um bom crescimento e deve continuar demandando esse produto", ressalta o economista. As exportações de celulose para o país asiático quase dobraram de 2005 a março de 2015, acrescentou.