Dólar abre em alta com ajuste fiscal na mira

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O dólar abriu em alta frente o real, pressionado por uma piora da percepção sobre o País e o viés positivo da moeda norte-americana frente o euro e divisas de países emergentes e ligadas a commodities em meio à espera pelos dados de emprego privado nos Estados Unidos. Os sinais de maior dificuldade e possível atraso para a aprovação do ajuste fiscal pretendido pelo governo no Congresso Nacional deterioram as expectativas nos mercados. Também pesa a desconfiança de que o governo poderá suspender ou alterar as condições do programa de swap cambial a partir de 1º de abril.

O dólar à vista abriu em forte alta, de 1,37%, cotado a R$ 2,9590 e, em seguida, registrou mínimas até R$ 2,9520 (+1,13%). Há pouco, registrou máxima a R$ 2,9640 (+1,54%). Na BM&FBovespa, às 9h39min, o dólar para abril de 2015 estava em alta de 0,98%, a R$ 2,9850, após iniciar a sessão cotado a R$ 2,9930 (+1,25%). Esse contrato já oscilou de R$ 2,9750 (+0,64%) a R$ 2,9945 (+1,30%).

A apresentação, na terça-feira (3), da Lista de Janot ao Supremo Tribunal Federal, que incluiria os nomes dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, entre os políticos supostamente envolvidos nos esquemas de corrupção investigados pela Operação Lava Jato da Polícia Federal, já desencadeou reações negativas em Brasília, que elevam a cautela nos mercados. Calheiros não foi ao jantar oferecido ao PMDB pela presidente Dilma Rousseff na segunda-feira (2), à noite e, ontem, o presidente do Senado também devolveu ao Executivo a medida provisória que reverte a desoneração da folha de pagamento das empresas.

O governo foi rápido e já enviou ontem mesmo ao Senado um projeto de lei, com urgência constitucional, com o mesmo teor da MP. No entanto, a apreciação dessa matéria deve ser mais lenta e tende a retardar a adoção das medidas de ajuste fiscal, o que pode comprometer o cumprimento da meta de ajuste de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. 

O risco político é um dos pontos que serão avaliados, juntamente com as incertezas na economia, pelas agência de classificação de risco. Os representantes da agência Standard & Poor's desembarcam nesta quarta-feira, 4, em Brasília e já têm agendados vários encontros com integrantes da equipe econômica, nos ministérios da Fazenda e do Planejamento. Ontem, a agência Fitch Ratings, que deve chegar ao País no dia 16, avaliou em relatório que cortar despesas neste ano será algo "desafiador" para os Estados brasileiros do ponto de vista político e após gastarem em excesso em 2014 com as eleições. A Fitch previu ainda que as margens operacionais de muitos Estados vão se deteriorar no curto prazo.

Os compromissos ao longo do dia do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e da presidente Dilma Rousseff, serão monitorados e podem desencadear reações nos mercados. Levy cumpre agenda pela manhã em São Paulo e, às 12h30, participa de evento promovido pelo Bank of America, no Hotel Grand Hyatt, em São Paulo. Há expectativas de que ele se reúna à noite com a bancada do PT, na Câmara. Já a presidente Dilma tem reunião, às 10h, com líderes dos partidos da base aliada no Senado no Palácio do Planalto e, às 11h30, recebe os líderes da base na Câmara.

Na agenda interna, o IBGE informou que a produção industrial subiu 2,0% em janeiro ante dezembro, na série com ajuste sazonal. O resultado ficou dentro das expectativas dos analistas ouvidos pelo AE Projeções, que iam de queda de 0,60% a crescimento de 3,60%, e acima da mediana estimada, positiva em 1,30%. Em relação a janeiro de 2014, a produção da indústria brasileira caiu 5,2%. Nesta comparação, as estimativas iam de retração de 2,70% a 6,80%, com mediana negativa de 5,00%. Em 12 meses até janeiro, a produção industrial nacional acumula queda de 3,5%.