Padilha revê posição sobre expansão do Salgado Filho

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No dia 16 desse mês, em reunião com o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha, alegou que, atualmente, o Rio Grande do Sul não movimenta carga suficiente para justificar a expansão da pista do aeroporto Salgado Filho. No entanto, um incidente ocorrido logo após esse encontro, no dia 19, teria feito o dirigente mudar a sua postura quanto à ampliação da estrutura. Na manhã daquele dia, um avião comercial da companhia Azul Linhas Aéreas, que deveria aterrissar na Capital, teve que fazer um pouso de emergência na Base Aérea de Canoas.
Em nota assinada pelo próprio Padilha e divulgada nesta quinta-feira, o ministro declara que “cientificado do incidente com a aeronave da Azul, a Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República encaminhou, imediatamente, à Infraero o Ofício n. 33/2015/SAC-PR, solicitando que seu Conselho de Administração avaliasse a conveniência e oportunidade de ser dado andamento ao projeto de ampliação da pista do Salgado Filho, levando em conta não a alegada, mas incomprovada, demanda de carga, até então fator determinante, mas sim e especialmente a indispensável segurança de voo”.
O comunicado admite que a Infraero esperava pela carga para ampliar a pista. Como a principal variável levada à consideração do Conselho de Administração da Infraero para definir o momento de início das obras de expansão da pista foi a alegada necessidade decorrente do aumento de cargas aéreas a serem movimentadas no aeroporto, isso afetou a rapidez das ações. Conforme a Secretaria de Aviação Civil, as operações com cargas no aeroporto permanecem em torno de 35 mil toneladas ao ano há mais de cinco anos, e a Infraero passou a sustentar que “as obras de ampliação da pista seriam iniciadas se e quando fossem necessárias”. A justificativa é que atualmente a estrutura opera com cargas e passageiros, com grande folga, utilizando apenas 54% de sua capacidade.
Ainda de acordo com a nota, citando como fonte a Infraero, a ampliação e operação da pista só serão possíveis quando da plena e efetiva posse da União de toda a área do sítio aeroportuário. Além disso, terá que ser alicerçada em um complexo sistema de estacas, fixadas a uma profundidade média de 25 metros, que suportará uma plataforma em concreto destinada a servir de base para a construção dos 920 metros adicionais de pista. Dada à inconsistência do solo, essa iniciativa tem um custo estimado em mais de R$ 650 milhões.
Com as obras de expansão, a pista do Salgado Filho passaria a ter uma extensão de 3,2 mil metros. Também está previsto dentro do empreendimento o aumento do terminal de passageiros 1, que se encontra em desenvolvimento, com conclusão prevista para janeiro de 2017, elevando a área hoje disponível de 41.502 metros quadrados para 60,3 mil metros quadrados. Soma-se a isso a ampliação do pátio de aeronaves e pistas de táxi, com término previsto para março de 2015, e a construção de um novo terminal de cargas, com área de 18 mil metros quadrados, com finalização prevista para setembro de 2016.
Outras melhorias seriam as construções de um novo edifício-garagem a ser executado em parceria com o setor privado, com previsão de lançamento do edital em junho de 2015, e de um hotel com, no mínimo, 200 apartamentos, também em parceria com o setor privado, com expectativa do fim das obras em abril de 2016.

Comitê celebra decisão do ministro

Por Marina Schmidt
A notícia de que a pista do aeroporto Salgado Filho será ampliada foi recebida sob aplausos no recém instalado Comitê do Aeroporto Salgado Filho. Na tarde de ontem, quando a reconsideração do ministro da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República, Eliseu Padilha, foi emitida – e imediatamente repercutida pela imprensa –, o grupo formado por integrantes de entidades da sociedade civil estava reunido para a primeira reunião, realizada na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS), em Porto Alegre.
O encontro começou destacando a importância da expansão da pista e teve a argumentação técnica principal apresentada pelo engenheiro civil Fernando Cavalcanti Bizarro, que refutou argumentos defendidos anteriormente por Padilha, que na semana passada afirmou que a ampliação da pista do aeroporto era desnecessária neste momento. “Nos últimos 15 anos, perdemos bilhões de reais em tributos e negócios que deixaram de ser realizados por falta de transporte aéreo adequado”, disse.
A defesa encontrou consonância entre os demais presentes, como o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística (Setcergs), Afrânio Rogério Kieling, que criticou a declaração do ministro de que o Estado não movimenta carga aérea suficiente para justificar a ampliação da pista. Kieling disse que, atualmente, a carga exportada segue por via rodoviária até outros aeroportos, como de Viracopos, em Campinas, distante em centenas de quilômetros da Capital.
Um outro argumento muito forte usado para justificar a intervenção foi o incidente envolvendo o pouso emergencial feito por um avião da Azul na segunda-feira. A aeronave vinha de Confins, Minas Gerais, com destino a Porto Alegre, mas por problemas técnicos acabou pousando na Base Aérea de Canoas, que tem 471 metros a mais de pista. Segundo passageiros, o problema enfrentado – não confirmado pela assessoria de imprensa da companhia – era de frenagem. Além de gastar combustível no ar, o piloto, segundo os presentes, utilizou toda a extensão da pista em Canoas.
“Temos esse fato recente do pouso da Azul que comprova a necessidade de ampliação da pista”, sustentou a presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB/RS, conselheira seccional Teresa Moesch. Foi justamente ela que, pouco tempo depois, interrompeu os debates para anunciar que o ministro Padilha havia solicitado a ampliação da pista do Salgado Filho. Os aplausos e a comemoração que se seguiu provaram que o grupo formado já tinha um foco bem-definido: a garantia de operação do aeroporto internacional na Capital, com capacidade ampliada para receber aeronaves maiores, embora o discurso seja o de ampliação do debate sobre um tema que vem se estendendo há mais de uma década e meia e que, cada dia que passa, parece encontrar menos consenso entre entes do poder público e da sociedade civil.

Crea-RS considera expansão um risco

O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul (Crea-RS) vê a ampliação como um risco, já que a pista atualmente instalada não suportaria aviões com mais de 120 toneladas. “Um grande avião cargueiro tem 300 toneladas”, pontuou o presidente do Crea-RS, engenheiro civil Melvis Barrios Junior, acrescentando que a aterrissagem cotidiana de aeronaves de grande porte pode levar à degradação da pista. “Recuperar a pista atual custaria R$ 500 milhões ou R$ 600 milhões.”
Barrios diz que a presença do aeroporto na Capital deprecia áreas urbanas da cidade, o mesmo ocorre nas proximidades da Base Aérea de Canoas. Somados, os dois terrenos têm 1,2 mil hectares – área que, segundo o dirigente, comportaria novas construções, com a obrigação de que 200 hectares fossem utilizados para construção de parques e áreas verdes e que valeria R$ 10 bilhões. “Com esse dinheiro, o poder público fazia um novo aeroporto sem gastar R$ 1,00”, justificou, ressaltando que o objetivo da entidade é alertar para os riscos técnicos e defender que sejam feitos debates mais abrangentes sobre o assunto. “É um tema que afeta 10 milhões de pessoas.”
Outras vozes dissonantes no encontro vieram de produtores rurais de Portão, desta vez contra a instalação do novo aeroporto na cidade, que alertaram para problemas ambientais decorrentes do projeto e sinalizaram para a intenção das famílias de agricultores da região que querem permanecer no local. “Nós protegemos nossas figueiras centenárias, nossos mananciais e nosso gado. Eu tenho uma propriedade rural e não quero a indenização. Eu sou da roça e quero ficar na roça”, destacou o produtor rural Marino Costa.