Metalúrgicas demitem 5 mil no ano

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A atividade metalúrgica fechou 5.065 empregos formais em Caxias do Sul neste ano, reduzindo o estoque de vagas para 46,4 mil e recuando para patamares de 2006. Ao longo do ano, foram 10 meses de saldo negativo dentre admissões e demissões, com destaque para novembro, que apresentou o pior desempenho, com o fechamento de 1.050 postos de trabalho. Tomando por base o pico do estoque de empregos, em novembro de 2011, a diminuição alcança 8,8 mil empregos.
Chamou atenção dos dirigentes do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul o grande número de dispensas nas pequenas e médias empresas, em sua maioria fornecedoras das principais indústrias da cidade. Para Getulio Fonseca, presidente da entidade, as demissões devem ter continuidade pelos próximos seis meses, período em que a economia continuará estagnada. “Esperamos a retomada no segundo semestre a partir de efeitos positivos que virão das medidas de ajuste fiscal que o governo pretende implementar.”
Mesmo que a economia mostre sinais de recuperação, os níveis de emprego dificilmente voltarão aos patamares dos últimos três anos. De acordo com o presidente, as empresas continuarão investindo em automação e na capacitação do seu quadro funcional em busca de produtividade. “Só com inovação e competitividade é que conseguiremos superar as crises.”
A preocupação maior é com a capacidade de sobrevivência das empresas menores, essenciais para o funcionamento da cadeia produtiva. Segundo Fonseca, estas organizações estão com estoques elevados de matérias-primas, níveis altos de ociosidade e dificuldades com capital de giro. “Ou estas empresas reduzem ainda mais os quadros ou serão obrigadas a pedir falência.”
A redução no quadro de funcionários tem relação direta com a queda de 14,5% no faturamento das empresas do setor neste ano na comparação com 2013. O valor total somou R$ 17,3 bilhões, o segundo pior resultado desde 2008, atrás apenas de 2009, pico da crise internacional, quando o faturamento somou R$ 16,2 bilhões.
A projeção das lideranças do setor metalúrgico é que o ano que vem se comporte de forma muito similar a 2014, com baixo crescimento e demanda retraída. O exercício é definido, pelo economista Rogério Gava, como de transição para que a economia retome a curva de crescimento em 2016 e 2017, desde que surtam efeito as medidas que a nova equipe econômica pretende adotar.
Para o economista, haverá reajustes dos preços administrados, como os de derivados do petróleo, energia elétrica e tarifas do transporte público, e aumento de impostos, como a retomada da cobrança da Cide (aplicada sobre os combustíveis) e a redução das desonerações sobre automóveis e eletroeletrônicos. Ele também acredita que a nova equipe de governo reduzirá os investimentos e o crédito para os bancos públicos, ações que visam garantir superávit primário de 1,2% no ano que vem. Gava ainda projeta inflação e taxa Selic em alta, e real desvalorizado.
Esta última medida pode trazer benefícios ao setor, embora Getúlio Fonseca atente para o fato de que os principais concorrentes do Brasil no exterior também irão valorizar o dólar. “A saída será investir em novos mercados, principalmente no continente africano, mas já visados por Estados Unidos e Alemanha.”

Produção e emprego caem em novembro

Produção, emprego e utilização da capacidade instalada na indústria brasileira recuaram em novembro, confirmando o desaquecimento da atividade, aponta a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Conforme dados da Sondagem Industrial, divulgados ontem, o indicador de produção ficou em 45,4 pontos este mês (50,8 pontos, em outubro).
O estudo adverte que é comum que o índice de produção registre valores abaixo dos 50 pontos em novembro, devido ao fim das encomendas de final de ano. No entanto, o indicador deste mês revela uma queda mais intensa, que o usual, pois se trata do menor valor da série mensal para meses de novembro. A série foi iniciada em 2010.
O trabalho traz dados de indicadores relativos à evolução mensal da indústria (produção, número de empregados, utilização da capacidade instalada (UCI), UCI efetiva em relação à usual, evolução dos estoques e estoque efetivo em relação ao planejado) e de expectativas para os próximos seis meses (demanda, quantidade exportada, número de empregados e compras de matérias-primas).
Em novembro, todos os indicadores vinculados à produção são inferiores aos registrados em outubro. De acordo com a metodologia da pesquisa, os valores variam de zero a 100. Números abaixo de 50 indicam queda do indicador. 
Em novembro, o indicador sobre produção marcou 45,4 pontos, apontando queda da produção. O indicador de número de empregados ficou em 46,4 pontos, revelando recuo mais intenso dos postos de trabalho. A UCI chegou a 73%, em estabilidade em relação a outubro (74% em novembro de 2013).
A UCI efetiva em relação à usual ficou em 41,5 pontos; o indicador de evolução dos estoques marcou 50 pontos (estabilidade). O estoque efetivo em relação ao planejado marcou 51,5 pontos, revelando excesso de estoques indesejados.

Indústrias calçadistas fecham 2014 com indicadores negativos e quadro de recessão

As expectativas geradas pelas eleições e as constantes oscilações no mercado causadas pelas incertezas quanto ao novo governo, somadas à realização da Copa do Mundo no Brasil, que serviu como um “evento concorrente do segmento” desenharam um quadro de recessão para o setor calçadista. Ao longo de 2014, foram registradas quedas em todos os indicadores setoriais apurados. Conforme dados mais recentes do IBGE, a produção de calçados, de janeiro a outubro caiu 4,7%, enquanto o varejo do segmento encolheu 0,9%. “Tivemos um primeiro semestre mais estável e um segundo semestre, com a realização da Copa, muito ruim”, explica o presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein.
Segundo o dirigente, a queda na demanda interna por calçados foi tão grande que até as importações registraram queda de 3,1% no acumulado de janeiro a novembro com relação a igual período de 2013. Para Klein, a Copa acabou alavancando negócios nos setores de serviços, entretenimento e de linha branca em detrimento de outros.
O quadro de queda no varejo interno, antes o grande sustentáculo do setor calçadista brasileiro, trouxe um dano importante para a atividade, que viu, além da produção, o nível de emprego despencar 8%, conforme o IBGE. “Devemos encerrar o ano com 20 mil postos de trabalho a menos”, lamenta Klein, para quem o modelo de crescimento sustentado no consumo acabou e deve ser revisto pelo governo.
A demanda internacional por calçados brasileiros também caiu ao longo do ano. No acumulado, o embarque de 114,7 milhões de pares gerou receita de US$ 948 milhões, queda de 3,9% ante 2013. “Tivemos muitos problemas com os embarques para a Argentina, nosso segundo principal mercado. Depois tivemos os problemas recorrentes, do Custo Brasil, somados nesta feita às bruscas oscilações cambiais e a instabilidades políticas e econômicas em nossos principais mercados”, avalia.
Para o executivo, porém, a expectativa para 2015 é de crescimento nos embarques. “A nossa expectativa mais positiva é embasada na recuperação das principais economias, com exceção da Argentina, que para nós é um quadro consolidado, e no dólar mais valorizado. Vamos aguardar para saber em qual patamar ele vai estabilizar para podermos traçar um quadro mais concreto nas exportações no próximo ano”, projeta Klein.