Iesa deve ter novo parceiro para polo em Charqueadas

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Enquanto não se consuma o acordo anunciado entre a construtora Andrade Gutierrez e Iesa Óleo e Gás em Charqueadas, um plano B pode estar a caminho. No interior da operação da Iesa e entre fornecedores, ganhou força ontem a aposta de que um novo parceiro pode ser anunciado nesta semana para assumir a entrega de 24 módulos à estatal, encomenda avaliada em R$ 1 bilhão para a produção na área do pré-sal. As conversações teriam sido retomadas ontem, após as eleições, e contam com a Petrobras. A expectativa é indicada como esperança para salvar o polo naval do município. O prefeito Davi Gilmar Souza confirmou ter informação do setor de que a empreiteira Queiroz Galvão possa assumir o contrato.
A Andrade Gutierrez se manifestou apenas por meio da assessoria de imprensa e admitiu que “tem encontrado algumas dificuldades na negociação em relação à situação atual da Iesa, mas que espera que, nas próximas semanas, essas questões sejam resolvidas”. Também por nota, a área de comunicação e marketing da Iesa garantiu que a negociação com a construtora continua. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do município, Jorge Luiz de Carvalho, confirma que, desde a semana passada, aumentam as informações de dentro da operação indicando que o contrato com a construtora não seria mais efetivado e que a indústria da área naval estaria buscando outra alternativa.
Iesa e construtora foram questionadas pelo Jornal do Comércio sobre a desistência, mas não se manifestaram a respeito. Hoje, a Iesa teria ainda cerca de 850 trabalhadores na unidade, que estão sem ter o que fazer ante a falta de materiais, disse Carvalho. “Fala-se agora em deixar funcionários em casa por mais um período”, acrescentou o sindicalista, que estima ainda que cerca de 100 funcionários teriam sido demitidos nos últimos dias. No dia 16, ocorreu a volta à unidade após férias coletivas.
Segundo Carvalho, entre 20 e 30 dispensas ao dia teriam ocorrido desde segunda-feira passada. O dirigente admite, porém, não ter um número preciso. Mesmo demitidos com mais de um ano de contrato, que deveriam fazer a rescisão no sindicato, não estão seguindo a norma legal. A assessoria da empresa confirmou a demissão de 10 trabalhadores na quinta-feira passada, “porque não estavam atendendo às necessidades da empresa”, e afirmou que “não há demissões em massa na unidade”.
Fornecedores que têm pagamentos a receber pelos lotes de módulos estranham o silêncio das últimas semanas. “Onde há fumaça, tem fogo”, reage um executivo próximo à operação. A sinalização é de que pode haver uma solução, garantindo parte do contrato. A Metasa, principal produtora de partes das plataformas para o polo de Charqueadas, entregou os conjuntos das plataformas (Ps) 66 e 67. Segundo o diretor da unidade da Metasa no polo, Douglas Roso, os oito módulos estão na fábrica da Iesa. Outros oito, que compõem as Ps 68 e 69, estão no canteiro da Metasa, no município. “Só estamos aguardando o despacho”, define Roso. Isso significa liberar para a contratante receber. Ainda faltam mais oito partes para integrar as Ps 70 e 71, que estão sendo produzidas na sede da Metasa, em Marau, no Planalto do Estado.
A empresa marauense soma 310 empregados em Charqueadas. Enquanto está indefinida a retomada da atividade da Iesa, a Metasa tem capacidade completamente ocupada com encomendas de outros estaleiros, situados na região Sul e que têm contratos com a Petrobras. Desde julho, a empresa não recebe pagamentos da estatal. A encomenda feita pela Tupi BV, cujos acionistas são Petrobras, BG Group e Petrogal, à Iesa previa 24 módulos, podendo alcançar 32. Devido à demora no cumprimento do contrato, a perspectiva é de que 16 estruturas sejam concretizadas.
A Petrobras cogitou transferir a produção dos oito módulos restantes para a China. Mas os oito já estão em linha na unidade da Metasa em Marau. A alta recente do dólar pode ser desestimular a alocação do contrato no exterior. A crise da Iesa teve ápice com a decretação de recuperação judicial, em setembro, pela Inepar, grupo controlador. A fábrica de Charqueadas foi construída para fabricar módulos de compressão para plataformas replicantes (idênticas).