Aod adverte para troca de indexador de dívida estados

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Há mais de três anos, o ex-secretário da Fazenda e hoje sócio-diretor do BTG Pactual Aod Cunha não trabalha por aqui, mas o Estado não saiu da vida dele. Ao apontar a área fiscal como um dos componentes da política econômica mais urgentes a serem resolvidos pela futura presidente (Dilma Rousseff ou Marina Silva, como sugerem as pesquisas), Aod cogitou que não seria o melhor momento para mudar o indexador de correção das dívidas estaduais, tão acalentada pelo atual governador e candidato à reeleição, Tarso Genro (PT).
O acerto do tripé da política macroeconômica (juros, inflação e câmbio) e setor fiscal sob controle foi consenso entre convidados do Fórum de Finanças por Melhores Ambientes, promovido pela Amcham-Porto Alegre ontem na Capital, que focou razões para a perda e reconquista das confiança de empresas e outros agentes na atividade do País.
“Nunca na história recente se pôs em evidência o debate do futuro da economia e expectativa sobre a macroeconomia, o que dependerá de muita capacidade de gestão política após a eleição”, sinalizou Aod. A troca de indexador é elencado pelo atual governo gaúcho como basilar para desafogar a capacidade de investimento, via menor despesa com a dívida pública estadual, que ultrapassa R$ 44 bilhões. “Tenho dúvida se deve ocorrer”, comentou o ex-secretário sobre a votação (com tendência de aprovação) no Congresso Nacional para troca de indexador. A preocupação se justifica, advertiu, pelo provável impacto que a medida acarretará às contas do governo federal.
Uma das razões alegadas pelo atual governo para adiar a apreciação do projeto de lei que troca de índice (sai IGP-DI mais 6% ao ano e entra IPCA mais 4% ao ano) no primeiro semestre havia sido a repercussão para o mercado de um alívio no serviço da dívida (menor despesa com a atualização do passivo) que abriria caminho a mais gastos. Ou seja, mais endividamento. “Quero ver a forma como será anunciada e as regras para aplicar a mudança”, preveniu Aod, lembrando que a União terá de indicar como compensará o efeito para o caixa. “E mais espaço para endividamento será usado pelos estados para novos financiamentos ou para gastos correntes? É outra questão”, completa.
Provocado sobre o recorrente tema da dívida e das finanças estaduais, que chefiou entre 2007 e 2009 (mandato da tucana Yeda Crusius), Aod reagiu com leve sorriso. Ontem, também foi abordado por conhecidos na plateia do Teatro do CIEE como “quem acertou a gestão financeira do Estado”. O sócio-diretor do BTG, que capitaneou no mandato de Yeda a linha dura do déficit zero, respondeu discretamente aos elogios. Aod negociou os primeiros empréstimos de organismos financeiros internacionais para pagar dívidas mais caras, reduzindo o custo. A gestão de Odir Tonollier, na Fazenda, seguiu a fórmula de contrair aportes para diminuir despesas com os serviços de juros e correção.
O jornalista e chefe do escritório brasileiro do jornal britânico Financial Times, Joe Leahy, amplificou o peso dos elementos norteadores da política econômica lembrando que o Brasil “tinha a Copa do Mundo, agora tem a Copa da Eleição”. “A eleição pode provar se realmente existe consenso de que o crescimento é mais importante para o País”, provocou Leahy, opinando ainda que o próximo governo não terá muito tempo para retomar a confiança. “Precisará agir rápido, deixando claro o que vai fazer.”

Confiança em baixa no Brasil, mas acima da Alemanha

No ranking do índice geral de confiança elaborado pela Edelman Significa em 2014, o Brasil fica em 12° lugar e está à frente da Alemanha (13°), Reino Unido (15°) e Estados Unidos (19°). Em 2010 e 2011, quando o mundo rico afundava e o Brasil crescia, o diretor de pesquisa da empresa, Rodolfo Araújo, palestrante do Fórum de Finanças, organizado ontem pela AmchamBrasil-Porto Alegre, lembrou que o País figurou na primeira colocação, que em 2014 está com os Emirados Árabes.
O indicador avalia a confiança nas empresas, nas mídias, nas Organizações Não Governamentais (ONGs) e no governo. Araújo informou que a percepção das pessoas sobre as quatro instituições aponta índice de 70 para empresas, 63 para mídia, 62 para ONGs e 34 para governo. “Em 2011, a relação da sociedade sobre os governantes alcançava 83”, contrastou. O diretor de pesquisa também elencou o que os 1,2 mil participantes do levantamento no País apontaram expectativas sobre a conduta de quem está nos postos de gestão pública em relação a empresas.