Academias de ginástica movimentam US$ 2,45 bilhões por ano

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A população brasileira está mais leve. Dados do Ministério da Saúde apontam que, pela primeira vez em oito anos, os índices de sobrepeso e obesidade diminuíram no País, de 51%, em 2012, para 50,8%, no ano passado. Coincidência ou não, houve um expansão de 29% no número de academias de ginástica. Um levantamento recente do Sebrae mostra que 4.948 novos estabelecimentos surgiram nos últimos três anos no País. O faturamento anual do setor, responsável por 317 mil empregos diretos, chegou a US$ 2,45 bilhões em 2013.
O Rio Grande do Sul corresponde a 10% do mercado nacional, com 2.302 unidades. Desde maio de 2013, Diego Araújo é um dos “satisfeitos” proprietários da Ativi, academia no Centro de Canoas - uma entre as 900 da Região Metropolitana. Com a disposição do pai para investir e ajudar na administração, juntos chegaram à ideia de negócio. Uniram o útil ao agradável. “Notamos que, na região, havia apenas uma academia em um shopping no Centro da cidade. Como eu já estagiava na área, ficou mais fácil”, diz Diego, hoje formado em Educação Física.
De acordo com ele, é muito difícil que as pessoas se desloquem muito para chegar ao local de treino. O cliente costuma buscar opções perto de casa ou do trabalho. Na Ativi, estima que apenas cinco dos 200 matriculados façam movimento oposto.
Diego e o pai, Carlos Araújo, apostam na fidelização do cliente e na informatização das planilhas de treinamento. Apesar de admitir um lucro maior com pacotes anuais, o jovem de 23 anos tenta orientar cada caso conforme os objetivos individuais. “Incentivamos os alunos a fazer planos mais curtos, de três, quatros meses, para que o aproveitamento seja maior”, explica. “Se estiver satisfeito, ele vai permanecer”. O índice de renovação no primeiro ano ficou em torno dos 80%, indica Diego. Outro diferencial: as velhas fichas de papel foram aposentadas. Um software recém-adquirido permite que o desempenho seja monitorado em um dos três computadores dispostos nos 300 m2 da propriedade alugada. 
A Ativi começou com três esteiras, agora já são sete. A ampliação de material, garante Diego, respeita a acessibilidade às máquinas. Ninguém gosta de enfrentar fila. “Avaliamos os investimentos de acordo com a demanda, mas respeitamos o nosso espaço físico”, afirma. O movimento no setor é sazonal, e a taxa de desistência alta, “algo cultural”, segundo o jovem. “Existem picos de público. Com o fim do inverno, a procura começa a ser maior por causa do ‘Projeto Verão’”, explica.
Apesar das esperadas baixas, índices sugerem que abrir uma academia de ginástica pode ser um negócio seguro. O segmento pouco sofre com a volatilidade da economia e ainda recebe estímulos de uma ordem sociocultural cada vez mais estabelecida: o culto ao corpo e a autopromoção. Mídias sociais como Facebook e Instagram estão lotadas de exibicionistas. Frases como “No pain no gain” (Sem dor não há ganho) pululam na rede. Diego admite que a maioria das pessoas vislumbra fins estéticos ao firmar contratos, normalmente ganho de massa muscular ou emagrecimento. “É uma pena”, acrescenta o profissional. “Musculação é bom, mas não traz um condicionamento completo, o ideal é alterar com um trabalho funcional aeróbico, por exemplo.”
Os desafios para o futuro passam mais pelos investimentos em formação e infraestrutura do que em uma completa reestruturação do modelo de negócio. Entre as atividades de instrutor, os treinos diários de handball e as três sessões semanais de musculação, Diego ainda encara a graduação em Quiropraxia, na Feevale. Mais um serviço a oferecer.

Sobrevivência no mercado competitivo requer cada vez mais especialização e renovação

São 21.760 de empresas no ramo da ginástica no País, uma para cada 9,1 mil habitantes. A Associação Brasileira de Academias (Acad), no entanto, calcula que menos de 5% da população frequente esses locais. Com a expressiva expansão, impulsionada também pelo crescimento da classe C, veio junto a concorrência, e a necessidade do profissional em investir em renovação e qualificação.
Ricardo Paranhos tem experiência de 20 anos na área. Quando começou, em 1994, teve que enfrentar os “donos do mercado”. Segundo ele, na época, havia uma lógica estabelecida. “Os poucos lugares de Porto Alegre trabalhavam com um esquema de muitas inscrições, segmentadas por grupos, a mensalidades baixas”, explica. Eram centros de “marombeiros”, o que dificultava o acesso da família. Ele e o antigo sócio apostaram em uma tendência que viria a dominar o mercado: atendimento diferenciado e captação de públicos distintos.
Como não tinham razão social - e dinheiro para investir em material personalizado -, incorporaram o nome estampado no primeiro lote de colchonetes adquiridos. A Academia Alternativa desceu o Morro Santana e se expandiu. Hoje, são três unidades em Porto Alegre, com mais de 1.200 matrículas. Paranhos trabalha com a ideia de “tribos”. Ele indica que cada região concentra perfis diferentes. “O importante é estar um local com grande fluxo de pessoas e oferecer opções aos alunos”, diz. Há um movimento empresarial que converge para investimentos em zonas de alto fluxo de veículos. “Ao invés de ficar parado no trânsito no horário de pico, a pessoa para, treina e vai embora quando o movimento já é menor”, ressalta.
“Academias que têm como ponto forte a musculação tendem a acabar”, aponta Paranhos. O segmento vive um quarto estágio, chamado por especialistas de fun (diversão, na tradução do inglês). Como a palavra sugere, hoje a tendência é unir esforço físico com atividades de lazer. Honrando o nome, a academia de Paranhos oferece 20 alternativas de treino. Entre os mais populares estão o TRX (treino funcional em suspensão por cordas), Zumba Dance (mistura de dança e ginástica) e o Kangoo Jumps (treino aeróbico com pula-pula nos pés).
Para Paranhos, o que o consumidor quer é simples: qualidade. “A busca é por bons equipamentos, limpos e que funcionem, e bom atendimento”. As maiores dificuldades estão nas formas de transparecer as inovações práticas e estruturais. Paranhos tem os contatos de 90% de seus alunos no Facebook. Chama de Centro de Atendimento VIP. Lá, anuncia possíveis alterações nos horários de aulas, eventos etc. “A questão é que a geração Y procura novidade, e a maioria dos estabelecimentos não está preparada para isso”. A faixa etária dominante na Alternativa está entre 25 e 40 anos.
Apesar de os números revelarem o crescimento, Paranhos olha com desconfiança para o futuro próximo. “Existe uma guerra de preços”, declara. Ele cita as grandes franquias nacionais como maiores ameaças à manutenção de pequenos e médios negócios, que respondem por cerca de 99,75% do setor. Essas academias trabalham com sistemas de cadastro e pagamentos on-line e oferecem contratos tentadores, não raro abaixo de R$ 60,00 mensais.
Ana Paula Rezende, da coordenação de serviços do Sebrae, indica que o risco de retração do setor é semelhante a de outros segmentos da linha de serviços. “É preciso trabalhar um bom plano de negócios que priorize a viabilidade do projeto, a qualidade do serviço e o bom atendimento”, afirma. Além de um forte modelo de gestão, a sobrevivência depende de especialização e renovação constante. É no que Paranhos aposta. Em novembro, ele embarca para Orlando, na Florida, para acompanhar um encontro que traz as maiores novidades em TRX, prática em que é instrutor, e um dos carros-chefe de seu negócio.