Estudo aponta queda nas bolsas de Nova Iorque nos próximos 5 anos

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As bolsas americanas devem sofrer forte queda nos próximos cinco anos, revertendo a sobrevalorização impulsionada pela política monetária agressiva do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que mantém os juros básicos reais em patamar negativo desde 2008, segundo estudo de dois economistas da consultoria suíça Wellershoff.
O movimento de refluxo na renda variável pode afetar também o mercado brasileiro, o terceiro mais sobrevalorizado entre os emergentes, de acordo com a análise.  As bolsas de Nova Iorque devem recuar até 30% em algum momento dos próximos cinco anos, acreditam os autores do estudo, Joachim Klement e Oliver Dettmann.
No Brasil o efeito deve ser menos intenso, já que a sobrevalorização é menor.  O estudo é um alerta para o mercado diante da situação atípica vivida pelas bolsas ao redor do mundo atualmente. Apesar da crise financeira, cujas consequências ainda afetam as economias desenvolvidas, os fortes estímulos monetários do Fed e do Banco Central Europeu (BCE) têm favorecido o mercado de renda variável porque os retornos da renda fixa estão extremamente baixos.  O índice S&P 500, dos Estados Unidos, bateu recorde histórico nesta semana ao superar 2.000 pontos pela primeira vez, mesmo com a recuperação econômica do país ainda em nível moderado.
O índice, que avançou quase 200% desde a crise, ganhou os últimos 100 pontos em apenas 65 dias, o prazo mais rápido da história. Com a expectativa de que o Fed - que já começou a reduzir os estímulos com cortes mensais de US$ 10 bilhões no programa de compra de ativos desde dezembro - comece um movimento de elevação da taxa básica de juros dos EUA em 2015, o ajuste nas bolsas pode vir em breve.  "A mudança na política de juros pode ser o gatilho para que os investidores questionem a atratividade das ações nos Estados Unidos", explicou o estrategista de investimento e autor do estudo Oliver Dettmann, em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.
Segundo ele, com a mudança dos fundamentos macroeconômicos, "os investidores deveriam começar a se concentrar no risco de desvalorização daqui para frente".  Para o Brasil, os riscos são menores. "Os níveis atuais não são exagerados em comparação com valores históricos", disse Dettmann. No entanto, ele alerta para as consequências de o mercado nacional ser muito dependente das commodities em um momento em que elas não devem repetir o boom visto na última década. "O potencial de crescimento de mercados dependentes desses preços é debatível", acrescenta.
 O economista da Fundação Getúlio Vargas Felippe Serigati concorda que a sobrevalorização do mercado brasileiro oferece menor risco. "Nossos mercados já vêm sendo corrigidos até por outras razões, como fatores políticos", disse. De todo modo, Serigati explica que um ajuste será natural após o corte dos incentivos monetários. "O intuito do afrouxamento monetário é justamente estimular a demanda, mas houve um descolamento dos fundamentos, então é razoável que haja correção."  As recentes quedas dos preços das commodities também contribuem para reduzir o risco brasileiro de uma forte desvalorização. Para Serigati, os mercados mais vulneráveis no país seriam o de câmbio e o setor imobiliário. "A taxa de câmbio vai continuar se valorizando e os imóveis devem sentir o efeito, apesar de também já estarem em ajuste."