José Eloir Denardin defende a agricultura sustentável no Estado

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Com reflexos diretos no meio ambiente e na capacidade do solo em fornecer nutrientes e água para as diferentes culturas – o que diminui os riscos de déficit hídrico – a adoção de práticas conservacionistas para o manejo de solos agrícolas tem sido uma obsessão dos estudiosos da ciência da conservação do solo.
É o caso do pesquisador José Eloir Denardin, da Embrapa Trigo, de Passo Fundo, que desde 1976 trabalha nessa área. Quando iniciou as suas atividades profissionais, predominava no Estado a sucessão de culturas trigo/soja e o solo era submetido à aração e gradagens, em sequência à queima da palha da cultura recém-colhida.
As práticas conservacionistas em uso se limitavam à semeadura em contorno e aos terraços agrícolas, obras hidráulicas destinadas ao manejo de enxurradas em pendentes longas. Na época, embora o Plantio Direto (PD) já tivesse sido introduzido no Brasil e a pesquisa já o apontasse como prática conservacionista eficiente para controlar a erosão, sua adoção esbarrava na carência de tecnologias. Foi então que a busca pela disponibilização de ferramentas que permitissem uma evolução se tornaram o foco dos trabalhos do pesquisador.
Denardin possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mestrado em Hidrologia Aplicada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e doutorado em Agronomia (Solos e Nutrição de Plantas) pela Universidade de São Paulo (USP-Esalq).
Sua trajetória de pesquisa foi centrada na erradicação da queima dos restos de cultura e na redução da intensidade do preparo do solo. O segundo marco que estabeleceu em benefício da agricultura conservacionista foi a mudança na abordagem do PD, que havia sido importado de regiões de clima temperado/frio, como EUA e Inglaterra, e baseado no preparo de solo apenas na linha de semeadura e na manutenção da palha na superfície.
Estas práticas eram consideradas insuficientes ao longo do tempo, nas regiões de clima tropical e subtropical, como as predominantes no Brasil. “Nestas regiões, era necessário entender o plano diretor não como uma prática conservacionista isolada, mas como um sistema de manejo, constituído pela interação de um complexo de práticas conservacionistas”, explica Denardin.  Ou seja, era preciso ir além do simples abandono do preparo do solo e da manutenção da palha na superfície do solo.
O PD passou a ser identificado por Sistema Plantio Direto (SPD), uma inovação tecnológica resultante do processo de adequação da tecnologia importada de uma região com características adversas das do Brasil. O complexo de tecnologias envolvido incorporou, além do preparo de solo restrito à linha de semeadura e a manutenção da palha na superfície do solo, a diversificação de culturas, a redução ou supressão do tempo entre a colheita e a semeadura da próxima cultura e a produção de material orgânico em quantidade, qualidade e frequência requerida pela biologia do solo e a cobertura permanente do solo.
Na década de 1990, o pesquisador passou a coordenar o projeto viabilização do SPD no Rio Grande do Sul — Projeto Metas. Os efeitos desta ação resultaram em profundas alterações no sistema de produção agropecuária do Estado. A cultura de milho passou a dividir espaço com a da soja; a aveia preta assumiu importância econômica ao atuar ora como forrageira, na integração lavoura-pecuária, ora como planta de cobertura de solo.

Diversificação da cultura é desafio para produtores

O Rio Grande do Sul precisa diversificar a sua agricultura, defende o pesquisador da Embrapa Trigo, José Eloir Denardin. Cerca de 70% da área cultivada com culturas anuais no Estado recebe soja e milho na safra de verão e aveia preta e azevém espontâneos (guachos) no inverno. Esse modelo de produção, explica, vem promovendo degradação física do solo e, consequentemente, degradação da fertilidade do solo. “Esta prática não adiciona ao solo material orgânico em quantidade, qualidade e frequência compatível com a demanda da biologia do solo para manter sua estrutura adequada à expansão do sistema radicular das plantas”, diz.
Em decorrência, a capacidade das plantas para extrair do solo os nutrientes necessários, se torna limitada e as plantas ficam debilitadas, passando a ser mais sensíveis ao estresse hídrico.  Este cenário explica, por exemplo, a elevada frequência de safras com estiagem no Estado. “Isso não decorre do aumento da frequência de veranicos e, sim, porque a estrutura do solo piorou”, constata. Denardin defende ainda a adoção de modelos de produção com, pelo menos, duas e até três safras por ano agrícola, envolvendo culturas de inverno e de verão.