Mediador confirma o calote da Argentina

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A Argentina não conseguiu fechar um acordo com os credores. Com isso, o país entra em “default iminente”, de acordo com um comunicado do advogado Daniel Pollack, o mediador designado pelo juiz americano Thomas Griesa para as negociações entre o governo argentino e os fundos. Este será o segundo calote internacional da Argentina em 13 anos.
“Infelizmente não foi alcançado um acordo”, disse o comunicado distribuído logo após a reunião de seis horas de Pollack com o ministro da economia da Argentina, Axel Kicillof. O ministro, porém, nega que o país tenha dado o calote.
Em uma disputada entrevista a jornalistas no início da noite de ontem, Kicillof não reconheceu o calote e afirmou em vários momentos que o país vem pagando e vai continuar pagando seus compromissos financeiros.
Ele se referia aos pagamentos aos credores regulares, que participaram das renegociações de dívida feitas em 2005 e 2010. E não aos credores que o governo argentino chama de “fundos abutres”, que não participaram das renegociações e querem receber o valor integral dos títulos da dívida.
Recentemente, disse Kicillof, a Argentina desembolsou US$ 650 milhões para o Clube de Paris. Além disso ele destacou outros recursos depositados em bancos e que o juiz Thomas Griesa impediu a distribuição aos credores regulares. “Me surpreendeu negativamente (o comunicado de Pollack)”, afirmou. “A Argentina não aceitará qualquer acordo que comprometa futuras gerações.” O ministro declarou que “o país fez e continuará fazendo os pagamentos da dívida reestruturada”.
Questionado sobre a decisão da Standard & Poor’s (S&P), que ontem rebaixou a nota do país para “default seletivo”, Kicillof disse que ninguém mais acredita nas agências de classificação de risco, que não alertaram para os riscos das hipotecas na época da crise de 2008.
O ministro afirmou que os fundos norte-americanos não aceitaram as propostas feitas pelo governo. A Argentina buscava adiar a execução da sentença dada em 16 de junho, que determinava o pagamento de US$ 1,3 bilhão aos fundos dos EUA até esta quarta-feira.
Kicillof afirmou que o país fez outra proposta, de uma troca (“swap”) que daria aos “abutres” um lucro de 300%, segundo o ministro. “Mas eles não aceitaram, porque querem mais”, afirmou.
Sem pagar esta dívida, o país foi impedido por Griesa de pagar cerca de US$ 830 milhões aos fundos que aderiram às reestruturações da dívida feitas em 2005 e 2010.
A Argentina havia depositado, por exemplo, US$ 540 milhões no Bank of New York para pagar os credores regulares, que haviam participado das renegociações das dívidas, e o dinheiro ainda está retido na instituição. Kicillof classificou na entrevista de ontem a situação de “insólita e inédita”.
Nos últimos dias, os credores e advogados correram contra o tempo para tentar evitar o calote da Argentina. Ontem, credores com bônus denominados em euro do país entraram com um pedido de emergência para a suspensão da sentença que determina o pagamento aos holdouts. Além disso, estes fundos abriram mão da chamada cláusula Rufo, que exige os mesmos benefícios aos credores da dívida reestruturada dos oferecidos aos holdouts.
A cláusula Rufo, que vence em dezembro, foi constantemente citada pela Argentina nas conversas como maior empecilho para o avanço das negociações. Por isso, o país entrou com três pedidos de suspensão da sentença desde 16 de junho, todos negados por Griesa.
Desde a última terça-feira, dia 22, quando Thomas Griesa insistiu para que as partes negociassem 24 horas por dia, quatro reuniões foram realizadas no escritório de Pollack. Ontem, foi a primeira vez que as duas partes sentaram à mesma mesa. Até então, argentinos e fundos mantinham conversas em momentos separados com o advogado.
Kicillof afirmou que não se pode descartar que bancos privados argentinos façam uma oferta pelos bônus dos fundos, ficando assim com a dívida dos holdouts. As negociações passariam a ser entre a Casa Rosada e os bancos. “Não se pode descartar soluções entre terceiros, porque se gerou um problema privado.”