Argentinos variam táticas para comprar reais

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A multidão de argentinos que invadiu Porto Alegre nos últimos dias para acompanhar a partida entre Argentina e Nigéria, que acontece hoje no estádio Beira-Rio, tem feito a alegria dos bares e restaurantes do bairro Cidade Baixa. No entanto, antes de consumir em terras brasileiras, os hermanos precisaram se desdobrar para conseguir reais. Isso porque a Afip, órgão equivalente à Receita Federal do país vizinho, impõe um exigente trâmite para autorizar a troca de pesos por moedas estrangeiras.
A estimativa da embaixada do país vizinho é de que 100 mil pessoas estejam na Capital nesta quarta-feira, mas somente 18 mil possuem entradas para a partida. A Secretaria Estadual de turismo fala em 80 mil visitantes. Entre um dos argentinos que conseguiu ingresso está o contador Gonzalo Arozena, que se deslocou de Neuquén acompanhado de um amigo. Eles vieram de avião a Porto Alegre apenas para assistir ao duelo de hoje. Hospedaram-se na casa de um conhecido que  vive em Guaíba.
Para vir ao Mundial municiado de reais, Arozena economizou dinheiro nos últimos meses. “Continua rígido para fazer câmbio na Argentina. Trouxemos R$ 1 mil cada, que era o máximo que poderíamos trocar”, destaca. Antes de obter a permissão para comprar reais, o argentino precisou preencher um formulário da Afip on line. Só pessoas que tenham um emprego fixo podem fazer a solicitação. Mesmo assim, existe um valor máximo de câmbio, que é estabelecido conforme o salário do cidadão.
Como os trâmites podem levar bastante tempo até serem concluídos, o operador da bolsa de valores de Buenos Aires Lucho Bueno optou por comprar a moeda no paralelo. “É difícil para trocar o dinheiro. Como trabalho na bolsa de valores, eu tenho conhecidos no mercado financeiro e em casas de câmbio. Por isso, resolvi comprar pagando o preço não oficial”, explica. Segundo ele, a cotação do real no mercado informal está em torno de 5 pesos. Pelo preço oficial, a moeda brasileira sai a 4 pesos.
Bueno e a namorada, a estudante de Comunicação Social Brenda Ayala, enfrentaram 15 horas de viagem de carro desde Buenos Aires, ondem vivem, para chegar a Porto Alegre. A intenção é ficar no Rio Grande do Sul até sexta-feira, aproveitando para conhecer outros atrativos do Estado. “Nos falaram muito bem de Tramandaí”, diz Bueno. “De repente, vamos para lá”, completa Brenda. O casal ainda avalia a possibilidade de conhecer outros destinos, como Gramado e Canela.
Teve também quem optou por fazer o câmbio no Brasil. É o caso de Omar Arellano e um grupo de conhecidos, que vieram de Buenos Aires. “Decidimos ir a uma casa de câmbio em Uruguaiana e trocamos tudo lá. Foi tranquilo”, lembra. Sem ingressos para a partida, Arellano e seus amigos pretendem ir à Fan Fest para assistir ao time de Lionel Messi. “Assim que terminar o jogo, vamos comemorar a classificação, descansar um pouco e depois voltar para a Argentina.”

Operação com cartão de crédito é alternativa cara para ‘hermanos’

Diante das restrições para adquirir moeda em espécie, os amigos Rafael Luciano, Matias Audisio e Matias Bordi, oriundos de Córdoba, resolveram fazer os pagamentos todos no cartão. “Vamos colocando todas as contas no cartão, ainda que as taxas sejam altíssimas. Temos pouco dinheiro em espécie”, diz Luciano. Atualmente, o imposto para as compras realizadas por argentinos no exterior via cartão de crédito, uma espécie de IOF dos hermanos, chega a 35%.

Hospedados na casa de um conhecido em Canoas, o trio de amigos aguardava com ansiedade pela oportunidade de assistir à partida da alviceleste. “Conseguimos as entradas. Viemos para cá porque Porto Alegre era a sede do Mundial mais próxima da Argentina”, festeja Luciano. O grupo diz ter gostado da capital gaúcha, mas só lamenta o fato de que alguém roubou as placas do carro em que estavam.

No intuito de fornecer assistência aos que estão em Porto Alegre e orientar como eles devem proceder em caso de incidentes, o consulado argentino colocou uma unidade móvel de atendimento próximo da avenida Borges de Medeiros. No local, também é distribuído um folheto aos turistas com dicas sobre transporte, hospedagem, saúde e segurança no Brasil. A ação será realizada até amanhã na Capital. Depois, seguirá para as outras cidades onde a seleção da Argentina jogará na competição.

Torcedores invadem os bares de Porto Alegre

Vestidos de azul e branco, diversos torcedores batucavam em bumbos e caixas de bateria ao mesmo tempo em que cantavam em voz alta uma canção cujos versos sacramentam que “Messi vai ganhar a Copa e que Maradona é melhor do que Pelé” (veja abaixo). Seria algo comum em qualquer lugar de Buenos Aires ou de outra cidade argentina, mas a cena ocorria em diversos pontos de Porto Alegre, no dia anterior ao da partida entre Argentina e Nigéria.

Desde o início do Mundial, eles foram chegando aos poucos na Capital gaúcha. De avião, ônibus e, principalmente, de carro. Na manhã desta terça-feira, havia fila para atravessar a ponte que liga Brasil e Argentina, em Uruguaiana. Os motoristas levavam cerca de uma hora e meia para fazer os trâmites migratórios. Entre sexta-feira e ontem, mais de 10 mil argentinos haviam entrado no País pela cidade gaúcha, segundo a Polícia Federal. 

Na véspera do jogo da alviceleste, a cidade já estava tomada de argentinos. Diversos deles vestindo camisas da seleção e de clubes locais e empunhando bandeiras. Menos de 20% dos cerca de 80 mil hermanos que devem estar a Porto Alegre possuem ingressos. Mesmo assim, a maioria veio para festejar o Mundial e assistir ao jogo no telão da Fan Fest, no Anfiteatro Pôr do Sol. Aqueles que não se hospedaram na rede hoteleira, optaram por acampar em diversos pontos da cidade, como em ruas do centro e até mesmo no Acampamento Farroupilha, onde muitos argentinos se acomodaram, segundo o vice-prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo.

À noite, alguns hermanos resolveram conhecer a noite do bairro Cidade Baixa. Sempre em grupos, se acomodavam nas mesas dos bares para tomar cerveja e comer petiscos. Foi o que fizeram Gonzalo Magli e seus amigos, que chegaram até a pendurar a bandeira com as cores da Argentina na mureta de um estabelecimento. “Porto Alegre é uma bela cidade. Tem mulheres muito bonitas”, definiu Magli, que é da cidade de Tucumán.

Com a grande quantidade de argentinos na cidade, a segurança será reforçada. Cerca de 1 mil seguranças particulares foram contratados para atuar no estádio Beira-Rio. No primeiro jogo da seleção argentina, no Rio de Janeiro, diversos torcedores sem ingressos tentaram entrar no estádio. “Até agora tudo está transcorrendo bem nos jogos em Porto Alegre. Esperamos que o clima dos outros jogos se mantenha”, projeta Melo. 

O consulado da Argentina em Porto Alegre montou quiosques de auxílio em diversos pontos da cidade, como a rodoviária e até em um espaço no caminho do Beira-Rio. Turistas sem hospedagem estão pedindo orientações nesses locais. 

Em cima da hora, a prefeitura e o Estado decretaram ponto facultativo nesta quarta-feira para o funcionalismo. A medida vai facilitar o transporte no dia do jogo, já que algumas das principais vias do município ficam fechadas perto do estádio. 

Dirigentes da Fifa e autoridades brasileiras responsáveis pela área de segurança consideram que o jogo entre Argentina e Nigéria é o de maior risco de confusão desde o início da Copa.

A Argentina já está classificada e, a partida em si, não deverá ter grandes surpresas. O que preocupa a Fifa e as autoridades é o grande número de torcedores sem ingresso que tem chegado a Porto Alegre. Semana passada, torcedores chilenos sem ingresso invadiram o Maracanã e acabaram colocando em xeque todo o esquema de segurança para os jogos.