Bancos públicos impulsionam alta do crédito

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Os bancos públicos brasileiros foram os principais responsáveis pela liquidez do sistema financeiro e por sustentar a atividade econômica do País desde a crise internacional, em 2008, aponta a Carta de Conjuntura da Fundação de Economia e Estatística (FEE) deste mês. O documento, divulgado ontem pela entidade, mostra que nos últimos oito anos a expansão de crédito – iniciada no Brasil em 2004 pelos bancos privados – só foi mantida graças às instituições financeiras do setor público, principalmente Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes).
Segundo o economista responsável pela pesquisa, Bruno Paim, no período, os financiamentos habitacionais foram os mais procurados e também os responsáveis pelo aumento do endividamento das famílias, em vista dos altos custos. O levantamento mostra que a expansão do crédito em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil passou de 25% em 2004 para 55,5% em 2013, representando uma “normalização” comparativamente aos níveis internacionais. Mesmo com este salto, o Brasil ainda fica muito abaixo do desempenho do crédito em países desenvolvidos, cuja média gira em torno de 150% do PIB.
De acordo com a economista Cecília Hoff, o desafio do Brasil para os próximos anos é manter esta expansão do crédito, sem comprometer a renda das famílias. Conforme o estudo, no período entre 2005 e 2013 houve uma estabilização do endividamento da população, se for desconsiderado o crédito habitacional. No entanto, uma maior oferta de financiamentos pelos bancos públicos com foco no setor imobiliário aumentou a procura pelos empréstimos e ajudou a sustentar a atividade na construção civil, além de suprir o déficit habitacional. Com isso, a variação do nível de endividamento das famílias, que em 2005 era de 20% da renda acumulada em 12 meses, pulou para 45% em julho de 2013.
“Um fator que contribuiu para a expansão de crédito de pessoas físicas de 2004 a 2008 foi a autorização do crédito consignado em folha de pagamento”, destaca Bruno. “Mas o saturamento deste produto, devido ao limite de comprometimento do consignado na renda, explica a redução do crescimento a partir de 2008”, completa.
A elevação do crédito público não repercutiu em queda de qualidade da inadimplência das instituições do setor, aponta o economista. “Em outras palavras, a elevada participação dos bancos públicos não comprometeu a qualidade do crédito.” Ainda de acordo com o economista, a redução de taxas e do spread bancário foi ação fundamental, iniciada por instituições públicas, que por consequência reduziu o custo do crédito para o tomador final.
A Carta de Conjuntura de novembro também mediu a renda per capita do Estado e sua decomposição. Segundo o estudo, de 2002 a 2012 o Rio Grande do Sul cresceu 20,9% no PIB per capita, enquanto que o Brasil cresceu 27,5%. Porém, a produtividade do Estado (18,9%) está acima da média nacional (18,4%). “Se avaliarmos o período desconsiderando os anos de 2004 e 2005, que foram prejudicados com a seca, esta média deve se elevar”, ressalta Cecília Hoff.
Conforme o economista Martinho Lazzari, o principal motivo para o índice de crescimento do Estado ficar abaixo do País é a redução do crescimento da População Economicamente Ativa (PEA), que ficou em 5,5% em dez anos, enquanto a população aumentou 6,1%. “Enquanto isso, neste período o Brasil viu sua população e a PEA aumentarem em 11,5% e 16,3% respectivamente”, compara.