Empresas buscam negócios na Feira de Anuga

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Os idiomas e os sotaques são de origens distintas em cada estande, mas uma linguagem é universal na Feira de Anuga, em Colônia, na Alemanha: a da negociação. Assim que o centro de eventos da cidade localizada às margens do rio Reno abriu suas portas, no sábado, empresas de diferentes localidades já começaram a fazer as tratativas com possíveis compradores e fechar contratos. E, nesta edição, as companhias brasileiras nutrem boas perspectivas em uma das maiores feiras da indústria alimentícia no mundo.
De acordo com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), as 73 marcas do País que rumaram à Europa devem fechar mais de quatro mil contratos a partir do evento, resultando em um faturamento de quase US$ 800 milhões. “O mercado mundial de alimentos voltou a ficar aquecido. O pior da crise financeira já passou para a indústria alimentícia. Certamente vamos superar o desempenho da nossa participação na edição anterior, em 2011”, calcula o presidente da agência, Maurício Borges. Dois anos atrás, foram realizados 3,5 mil acordos, gerando US$ 700 milhões.
O otimismo se reflete nas projeções dos exportadores. Veterana em exposições internacionais, a gaúcha Oderich, de São Sebastião do Caí, espera vender US$ 5 milhões na Anuga 2013. O diretor de exportação Paulo Kayser de Souza ressalta que o momento é favorável para o comércio exterior, em função da valorização do dólar nos últimos meses. “O câmbio atual torna nosso produto mais competitivo, possibilitando o ganho de novos clientes. O cenário também faz com que compradores tradicionais aumentem a quantidade de pedidos”, ressalta. As carnes em conserva são o carro-chefe da companhia, que deve faturar cerca de R$ 440 milhões com vendas ao exterior neste ano, um incremento de 10% frente a 2012. O Oriente Médio, a África e o Caribe estão entre os mercados prioritários.
Os países árabes também devem render bons acordos para os vendedores de frango. Um empresário saudita, que atualmente é um dos maiores compradores da carne brasileira, percorreu o espaço onde se localizam as 14 empresas do Brasil e alinhavou novos pedidos. “Para algumas empresas, o volume de negócios feitos na feira equivale à demanda de até seis meses de trabalho dela”, explica Francisco Turra, presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef). No momento, o produto rende cerca de US$ 1 bilhão à balança comercial verde e amarela, sendo US$ 370 milhões em transações com a União Europeia. No entanto, para Turra, a Ásia tende a se tornar o alvo número um das companhias do segmento.
Na lista de metas das empresas que vêm a Colônia, um dos itens de maior destaque é a prospecção de novos mercados, como no caso da mineira Maricota, fabricante de alimentos congelados. Com exportação para nove países desde 2010, a indústria está em tratativas avançadas com um distribuidor da Inglaterra, um novo destino na sua pauta. “Começamos um namoro. Quando os ingleses forem visitar nossa fábrica no Brasil, nos próximos meses, vira noivado. Assim que a venda for oficializada, se torna casamento”, compara o diretor de exportação Júlio Ribeiro. A marca, que produz pães de queijo, lasanhas, pizzas e salgados, pretende iniciar, ao menos, cinco “namoros” durante a feira.

Fabricantes de bebidas do Rio Grande do Sul querem ampliar espaço no exterior

Na Feira de Anuga, a mistura de cachaça e vinho não gera ressaca e só traz benefícios. A união das duas bebidas tem rendido rodadas de negócios com empresários estrangeiros. Localizadas no mesmo pavilhão do evento, com estandes uma em frente da outra, a cachaçaria Weber Haus e a vinícola Aurora, ambas do Rio Grande do Sul, adotam uma espécie de parceria para ampliar suas participações no exterior.
Enquanto conversava com um empresário alemão interessado nas cachaças fabricadas em Ivoti, o diretor da Weber Haus Evandro Weber descobriu que ele importava vinhos da Argentina e do Chile e nunca havia adquirido rótulos do Brasil. Ao saber disso, Weber logo o encaminhou para o espaço da Aurora. “Essa interação é muito boa. As empresas têm que se ajudar”, ressalta a gerente de exportação da vinícola de Bento Gonçalves, Rosana Pasini.
Com meta de exportação de 200 mil garrafas neste ano, a Aurora veio para a Alemanha a fim de abrir, pelo menos, três novos mercados. Com produtos enviados para mais de 20 destinos diferentes, a empresa quer ampliar significativamente o volume de transações nos próximos anos. “Hoje, a exportação representa menos de 5% do nosso faturamento. Até 2016, queremos elevar esse índice a 10%, o que resultaria na venda de 500 mil garrafas ao ano”, explica Rosana. No intuito de articular a entrada em outros países e expandir a presença nos compradores habituais, a companhia lançou recentemente a linha Brazilian Soul, que valoriza a origem brasileira dos vinhos e espumantes em seus rótulos.
Desde 2006 no mercado de exportação, a Weber Haus também tem planos para tornar a cachaça produzida em solo gaúcho reconhecida em todo o mundo. “Queremos mostrar que nosso produto pode ser bebido em qualquer ocasião e nos melhores lugares, assim como a vodca, o gim e a tequila já conquistaram esse espaço”, projeta o diretor da cachaçaria. Em 2013, a marca deve vender 80 mil garrafas da bebida para nove nações, entre elas Alemanha, Estados Unidos e Japão. No ano passado, o volume encaminhado ao exterior não havia passado de 35 mil garrafas.
Weber ainda ressalta que a participação na feira ajuda a alavancar as vendas no mercado interno. Isso porque muitos revendedores, que já são parceiros no Brasil, também frequentam o evento. “A ida às exposições no exterior ajuda a posicionar a marca. Então, quando tu encontras um cliente brasileiro, é como se tu desse um xeque-mate no negócio. Ele vai entender por que o nosso produto possui maior valor agregado”, enfatiza.
Outro artigo do Rio Grande do Sul que deve ganhar espaço é o energético feito a base de erva-mate, açaí e guaraná pela BrasilBev, de Santa Maria. Com o nome de Organique, por ser produzida de modo orgânico, a bebida deve chegar ao Japão daqui a 60 dias. “Na feira, fechamos contrato com um distribuidor japonês, que vai comprar mais de 40 mil latas, e estamos em negociação com um holandês.”, comemora o diretor da companhia, João Paulo Sattamini. “Já exportamos para China, Canadá e Estados Unidos, mas queremos entrar no mercado europeu”, complementa.