Ganho tecnológico pode viabilizar substituição da térmica de São Jerônimo

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Uma movimentação política busca opções para que o espaço que será aberto pelo provável fim da operação da termelétrica a carvão de São Jerônimo seja ocupado. A ideia proposta é a instalação de uma nova térmica, de menor impacto ambiental, e que, além do carvão, possa utilizar como combustíveis a biomassa (material orgânico), lixo e resíduos do próprio mineral. Quem acompanha a iniciativa sustenta que, mesmo que a produção de energia não compense o investimento, o desenvolvimento da tecnologia justificaria a ação.
Na semana passada, o vice-governador, Beto Grill, e o secretário de Infraestrutura e Logística, Caleb de Oliveira, apresentaram o estudo de viabilidade técnica e econômico-financeira do projeto ao diretor de geração da Eletrobras, Valter Cardeal. Hoje, as empresas que estão envolvidas com o novo empreendimento são as estatais Companhia Riograndense de Mineração (CRM) e Grupo CEEE, assim como a Fundação de Ciência e Tecnologia (Cientec), enquanto a atual usina de São Jerônimo é operada pela CGTEE, uma empresa pertencente ao Grupo Eletrobras.
O presidente da Frente Parlamentar do Carvão Mineral, deputado federal Afonso Hamm (PP-RS), revela que foi salientada a Cardeal a urgência da medida, já que está prevista para 31 de dezembro a interrupção das atividades da térmica de São Jerônimo. Isso, segundo o parlamentar, implicaria enormes prejuízos econômicos e sociais para a região. Ele calcula que cerca de duas mil famílias conectadas à cadeia carbonífera seriam afetadas.
Hamm defende que a produção da usina seja prorrogada até a construção da outra termelétrica. De acordo com o deputado, o novo complexo levará cerca de três anos para ser instalado e absorverá de R$ 100 milhões a R$ 120 milhões em investimentos. A capacidade instalada será de 20 MW (igual a da usina atual), o que representa em torno de 0,5% da demanda média de energia do Estado.
O gerente-executivo da Secretaria de Infraestrutura, Rui Dick, é um dos entusiastas com as vantagens tecnológicas do projeto. Ele explica que será adotada a tecnologia do leito fluidizado borbulhante, que permite uma queima “mais limpa” do carvão. Dick aposta na viabilidade técnico-financeira do empreendimento e informa que o projeto será apresentado, formalmente, à CGTEE nesta semana.
A intenção é de que a CGTEE “aproprie-se” do projeto e mantenha a operação térmica na região. Ainda há a chance de que uma companhia privada ingresse na iniciativa. Uma questão que será discutida com os técnicos da CGTEE é a possibilidade da nova estrutura ser implementada na região, mas não em São Jerônimo. Dick esclarece que, no momento, o carvão é transportado por cerca de 70 quilômetros para chegar à usina. Para diminuir esse custo logístico, a alternativa seria construir a termelétrica no município de Minas do Leão, onde se encontra a jazida.
O presidente da CGTEE, Sereno Chaise, reitera que Cardeal, que também é o presidente do Conselho de Administração da CGTEE, está em busca de uma solução para a usina de São Jerônimo. “As sugestões para viabilizar uma nova unidade que opere no lugar da velha usina (inaugurada em 1953) estão em estudos com a participação do governo do Estado e isso é muito bom para todos” avalia Chaise. O presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM), Fernando Zancan, comenta que a térmica de São Jerônimo é um mau exemplo para o setor carbonífero por ser antiga e causar um maior impacto ambiental.
O dirigente apoia a modernização do complexo e argumenta que, praticamente, trata-se de um projeto de pesquisa e desenvolvimento. A forma da comercialização de energia da nova usina ainda não foi definida. Foram levantadas hipóteses como leilões, mercado livre para grandes consumidores ou, se for legalmente possível, para a área de distribuição do Grupo CEEE.