Porto Alegre busca crescimento em áreas do futuro

Por

Apesar de ser a Capital de um Estado fortemente identificado com o setor de agropecuária e com a indústria, é no segmento de serviços que Porto Alegre consolida a cada ano a sua posição.
A cidade já representa 25% da produção de serviços do Rio Grande do Sul, índice maior que a própria participação do município no Produto Interno Bruto (PIB) regional, que é de 17,5%, segundo dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE). “É comum que os grandes centros passem a se focar nesse segmento, especialmente em áreas mais intensivas em mão de obra qualificada”, observa o economista da entidade, Jéfferson Colombo.
Como exemplo disso estão setores como de telecomunicações, consultorias, auditorias e serviços financeiros, que tendem a se concentrar nas grandes cidades.
No caso da Capital gaúcha, um movimento que vem ocorrendo mais intensamente nos últimos anos chama atenção: a criação de um ambiente propício para o desenvolvimento da chamada economia criativa.  Investimentos em design, moda, gastronomia e tecnologia ganham força e despertam a atenção de empresas, universidades e dos gestores públicos.
“Éramos a Capital dos grãos e hoje somos referência de ambiente tecnológico. Não tenho dúvida de que estamos preparados para aproveitar as oportunidades que estão surgindo”, diz o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e secretário de Inovação de Porto Alegre, Newton Braga Rosa. São novas áreas de investimentos que se transformam cada vez mais em vetores para o desenvolvimento econômico e social da cidade. “Porto Alegre entendeu desde muito cedo que o futuro pertence àqueles que produzem, dominam e transformam o conhecimento em tecnologia. E que colocam isso a serviço da sociedade”, observa Marcelo Lubaszewski, superintendente de Design e Relações Institucionais da Ceitec. A empresa, localizada na Lomba do Pinheiro, inicia entre 2012 e 2013 a fabricação de chips na Capital.
Parques tecnológicos, que reúnem empresas com perfis de investimentos em mercados como o de biotecnologia e microeletrônica, são um exemplo disso. “Porto Alegre foi uma das precursoras a pensar nesse modelo que une setor público, empresas e universidades trabalhando em busca de modelos inovadores de negócios, dentro dos parques tecnológicos”, comenta.
A essas áreas pode ser acrescentado o segmento de turismo, que coloca a Capital gaúcha entre a quarta e quinta do Brasil com maior captação de eventos de turismo de negócios. Já a cultura ainda carente em políticas públicas. “Existe um consenso entre os economistas de que a cultura é a variável capaz de levar o desenvolvimento para as regiões e gerar inovação”, diz Lemos.

Mudança de perfil aconteceu na década de 1960

Porto Alegre nasceu como uma cidade mercantil, na época à margem dos centros econômicos do Rio Grande do Sul, concentrados basicamente na região da Campanha. Em um período em que a produção de gado e depois do charque e banha dominava a economia.
A partir dos anos de 1950 e 1960, começou a se tornar uma cidade de comércio e serviços. A economia do Estado começava a se diversificar e precisava de um espaço para a comercialização da produção.
O Mercado Público, localizado no Centro da cidade, foi um dos primeiros locais de intercâmbio entre os produtores agrícolas, especialmente da Serra gaúcha. “O DNA da cidade permanece esse até hoje”, comenta o economista da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), Leandro de Lemos.
Além das áreas mais ligadas à indústria criativa, algumas atividades específicas do setor de serviços são, naturalmente, mais concentradas em Porto Alegre, segundo o economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Jéfferson Colombo.
É o caso de transportes aéreos (96,2%), com o aeroporto Salgado Filho apresentando aumentos sistemáticos no movimento de cargas e de passageiros. As atividades ligadas à informação, como informática, cinema, vídeo, televisão e rádio também apresentam alta concentração (50,1%), devido à presença maciça dos meios de comunicação na Capital.
A saúde também se concentra em Porto Alegre, especialmente com as atividades relacionadas a unidades privadas de saúde (47,2%). “As atividades de serviços mais intensivos em tecnologia e em mão de obra qualificada permanecerão concentradas em Porto Alegre”, aponta o economista. Por outro lado, aquelas que não exigem qualificação técnica tão elevada, como o próprio comércio e serviços domésticos e de manutenção e reparação, apresentam tendência de disseminação para outros municípios. “Nos municípios menores, do ponto de vista populacional ou de renda, essas atividades são importantes na base de sua economia local”. acrescenta.