“Se me oferecerem R$ 1 bilhão, não vendo”, diz presidente da Lebes

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A notícia de que a Máquinas de Vendas, união da mineira Ricardo Eletro e a baiana Insinuante, pagaria R$ 200 milhões por uma rede no Sul do País recebeu resposta curta e direta do diretor-presidente da Lojas Lebes, Otélio Drebes. A empresa, com sede em São Jerônimo, estaria na lista das cobiçadas pelo presidente do conselho da Máquina de Vendas, Luiz Carlos Batista. “Se me oferecerem R$ 1 bilhão, não vendo. Acredito que deva ser uma pequena brincadeira deles. É mais fácil a Lebes comprar a Ricardo Eletro”, avisou o empresário gaúcho. Não se trata de caixa para cobrir um faturamento previsto em R$ 7,2 bilhões em 2011 do grupo de fora. O diretor-presidente da rede local, com 112 pontos, aposta no crediário de 25 parcelas, na conquista de territórios regionais e na carteira de 700 mil clientes. “Um verdadeiro banco”, vangloria-se Drebes, que vai faturar R$ 600 milhões em 2011 e quer mais que dobrar a cifra em cinco anos.
Jornal do Comércio – A Lebes está na lista de redes no Sul que a Máquina de Vendas quer comprar. O senhor está à venda?
Otélio Drebes – A Lebes é uma joia rara, portanto, não tem preço. Se me oferecerem R$ 1 bilhão, não vendo.  Sobre a oferta da Máquina de Vendas, acredito que deva ser uma pequena brincadeira do Luiz Carlos Batista. É mais fácil a Lebes comprar a Ricardo Eletro.
JC – O senhor teria cacife para isso?
Drebes – Poderia não ter o valor, mas crédito para comprá-la, sim.
JC – O senhor conhece a forma de atuar da Máquinas de Vendas?
Drebes – Eles têm um marketing bem agressivo. Mas tenho dúvida quando a empresa faz muito oba-oba ou cresce demais. Quando abri nossa loja 28, a empresa do ano era a Arapuã, que tinha fila de clientes, e quebrou no ano seguinte.
JC – A melhor forma de entrar no Estado é comprando operações para evitar o que ocorreu com a Casas Bahia?
Drebes – Não estou preocupado com eles. Eles é que têm de se preocupar comigo. Quando a Casas Bahia veio queria fazer coisa de bombachudo, mas não sabiam que a Lebes já fazia há muito tempo que era vender em pequenas prestações. Isso foi há 20 anos, quando começam com nove, dez vezes até chegar a 25 parcelas.
JC – Como a Lebes sustenta este parcelamento?
Drebes – Trabalho em cima de resultado. A receita financeira dá impulso ao crescimento, pois não tem custo. Não é um produto, é um valor a mais que vira um capital de giro que podemos nos dar ao luxo de ter.  Temos as taxas de juros mais baixas do Estado, pois não dependemos do dinheiro dos bancos. O pobre não é burro, ele faz a conta de quanto vai pagar. Trouxemos para o consumo pessoas muito pobres que não conseguiam comprar, só se fosse à vista. Clientes que podiam pagar R$ 50,00 ao mês para ter uma geladeira. Hoje todo mundo quer atingir esta classe, que é a que mais cresce, mas com a qual já estamos há muito tempo, há 12, 15 anos.
JC – Esta classe tem mais espaço para se endividar?
Drebes – Para quem tem visão e enxerga, este consumidor é o futuro do Brasil. Mas mudou o perfil. Geladeira de uma porta já não se vende mais. O pobre quer comprar uma de duas portas, uma TV LCD e um sofá confortável. As famílias querem pagar por coisas boas desde que caiba no bolso delas. Para isso, existe a Lebes.
JC – A economia mais desacelerada pode afetar o ritmo dos negócios?
Drebes – Não. Até gostaria que desse uma crisezinha. Hoje está muito fácil vender, mas com uma crise cresceríamos mais porque temos capital. Sempre crescemos mais nos períodos de retração. Com o recente corte de impostos, baixamos todos os preços em 10%, e a venda da linha branca deve crescer 50%.
JC – Qual é o tamanho da Lebes hoje?
Drebes – Em 2011, a receita bruta será de R$ 600 milhões, 15% acima da de 2010. Não crescemos mais, pois faltam recursos humanos e não capital, por isso estamos investindo em treinamento de pessoas. O desempenho deste ano deve ser a média anual até 2014. A cada três anos, abrimos 20 lojas. Em cinco anos, mais que dobraremos nosso faturamento. Abriremos mais cinco lojas em Porto Alegre. Gostaria de entrar em uma grande vila da Capital. Estamos investindo R$ 10 milhões na construção de um centro administrativo em Eldorado do Sul, para onde nos mudaremos no próximo ano, para ficar mais perto do centro das decisões. Os funcionários que estão em São Jerônimo vão trabalhar lá. 
JC – O aquecimento do mercado pode levar à revisão dos planos de expansão?
Drebes – Não importa o tamanho que a Lebes vai ter. Quero dar um passo de cada vez, mas firme e forte para ser o melhor. Tamanho é consequência. Essa é minha meta. Mas para isso precisamos ter crédito e temos. Os parcelamentos em 25 vezes são feitos pela nossa financeira e com capital próprio.
JC – As redes nacionais prometem entrar aqui com mais força. Como o senhor vai esperá-las?
Drebes – Há 55 anos se falava que as grandes viriam e terminariam com os pequenos. Mas nunca terminaram. O grande não pode dar atenção e carinho que a gente dá aos clientes. Não me preocupo com o grande. Quanto maior mais fácil para a gente vender.
JC - Para onde o senhor quer crescer?
Drebes - Preciso fechar muita região no Estado, e não vejo problema em crescer em Santa Catarina, que não atrai neste momento. Vamos completar as regiões de Santa Maria e Passo Fundo. Inauguramos recentemente filiais em Soledade e Carazinho, completando 112 lojas, e vamos avançar nas Missões. Também estamos de olho em Caxias do Sul e Bento Gonçalves, que têm alto poder aquisitivo.  Nossa carteira tem 700 mil clientes ativos, que respondem por 78% da venda. É um verdadeiro banco. Nossa inadimplência é de pouco mais de 3% e está baixando.