Pesquisadora gaúcha desbrava citogenética e biotecnologia

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Foram quase cinco décadas trabalhando como pesquisadora de algumas das instituições mais respeitadas do País. Aos 70 anos, Maria Irene Baggio é um nome de destaque no Rio Grande do Sul, tanto na formação de recursos humanos quanto na realização de estudos que possibilitaram, por exemplo, o conhecimento das pastagens naturais do Rio Grande do Sul e o melhoramento genético de cereais, especialmente do trigo. “Sempre procurei trabalhar com equipes interdisciplinares e interinstitucionais, voltadas para a integração da genética à agronomia e buscando o melhoramento das espécies”, comenta.
Maria Irene participou de atividades de pesquisa entre 1963 e 2009, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), na Embrapa Trigo e na Universidade de Passo Fundo (UPF). Primeira profissional a estudar a citogenética das gramíneas forrageiras nativas, ela destaca a importância científica e também tecnológica dessa técnica. Isso porque esse modelo permite a seleção agronômica de genótipos com rendimentos superiores e maior adaptação aos diferentes agroecossistemas.
As pesquisas com as pastagens nativas do Rio Grande do Sul, relembra, iniciaram-se na década de 1950 e tiveram grande impulso com o projeto S3Cr11 da Secretaria Estadual da Agricultura e da Faculdade de Agronomia da Ufrgs. “Quando iniciei essa pesquisa, em 1963, os estudos agronômicos estavam adiantados, mas era necessário desenvolver a citogenética”, diz. A partir de um convite do professor e geneticista da instituição Antonio Cordeiro e depois sob a orientação de Francisco Salzano, ela se tornou bolsista da universidade e, assim, teve a oportunidade de fazer treinamento simultâneo com o grupo da agronomia e da genética.
O grande destaque deste projeto foi o fato de ser realmente multidisciplinar, trabalhando com o objetivo de integrar informações que melhorassem o conhecimento científico das espécies e pudessem ao mesmo tempo contribuir para a economia gaúcha. Este mesmo espírito norteou a criação das unidades da Embrapa nos anos 1970. Para a especialista, porém, embora o progresso nos estudos com as pastagens do Estado tenha sido enorme, o potencial de contribuição para a agropecuária gaúcha ainda não foi totalmente explorado.
Outro estudo importante do qual Maria Irene participou foi junto à Embrapa Trigo. A instituição foi pioneira na aplicação técnica para obtenção de haploides (plantas mutantes genômicos que apresentam apenas um dos genomas) a partir de cultura de anteras (órgão da flor onde se forma o pólen) em trigo na América. Através da cultura in vitro de anteras é possível desenvolver uma planta de proveta, sem fertilização nem formação de sementes. “Além do conhecimento científico envolvido no processo do desenvolvimento da planta haploide há uma aplicação biotecnológica importante no melhoramento varietal.”
Um ciclo completo do processo de melhoramento genético do trigo tem exigido cerca de dez anos, além de um intenso trabalho de observação e seleção até a obtenção da uniformidade genética. A partir da cultura in vitro, essa uniformidade é obtida em apenas uma etapa, possibilitando aumento na eficiência da seleção, economia de espaço nos campos experimentais e câmaras de conservação de sementes e diminuição de custos e mão de obra. Há também uma antecipação de ganhos econômicos resultantes do progresso genético através da obtenção de cultivares mais produtivas, resistentes a moléstias e com maior adaptação ecológica.

Divulgação científica deve desfazer mitos sobre biotecnologia

O trabalho de Maria Irene Baggio não parou por aí. Ela participou do Programa Integrado de Biotecnologia Vegetal do Estado do Rio Grande do Sul que começou em 1987, quando um grupo multidisciplinar de pesquisadores gaúchos se mobilizou. Com apoio da Secretaria de Ciência e Tecnologia e da Fapergs, envolveu universidades e instituições de pesquisa públicas e privadas visando a promover o uso das biotecnologias para apoio ao desenvolvimento socioeconômico do Estado. Ela se envolveu ainda no trabalho que resultou na transferência de genes de resistência a doenças fúngicas inéditos no trigo, derivados de espécies silvestres cujas linhagens são utilizadas no pré-melhoramento em vários paises.
Nesse sentido, Maria Irene faz um alerta: é importante um trabalho mais intenso na divulgação científica sobre as aplicações e interfaces da genética e das novas biotecnologias. “Existem muitas polêmicas envolvendo as pesquisas e uso das plantas transgênicas na agricultura e é fundamental informar o público sobre o tema”, sugere.
Foi presidente da regional Sul da Sociedade Brasileira de Genética, conselheira nacional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e membro do Conselho Superior da Fapergs. Já orientou cerca de uma centena de alunos desde a iniciação científica até pós-graduação, publicou artigos científicos e capítulos de livros.
CADEIAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA
Cláudio Mundstock, pesquisador do Irga e professor aposentado da Faculdade de Agronomia da Ufrgs.
Maria Irene Baggio, pesquisadora aposentada da Embrapa Trigo. Ex-professora da Ufrgs e da UPF.
Carlos Antônio Mondino Silva, professor titular da clínica de Reprodução Equina da UFSM.
TECNOLOGIA RURAL
Odir Dellagostin, professor da Ufpel - Instituto de Biologia - Centro de Biotecnologia.
NOVAS ALTERNATIVAS AGRÍCOLAS
Rosa Lia Barbieri, Pesquisadora da Embrapa Clima Temperado - Pelotas.
Antônio Costa de Oliveira, Professor da Ufpel.
PRESERVAÇÃO AMBIENTAL
Jorge Ernesto de Araújo Mariath - ex-diretor do Instituto de Biociências e professor titular de botânica da Ufrgs.
PRÊMIO ESPECIAL
Aino Victor Ávila Jacques, professor titular aposentado da Faculdade de Agronomia da Ufrgs.
O Prêmio O Futuro da Terra é uma parceria do Jornal do Comércio e da Fapergs, que presta homenagem
aos projetos que buscam o desenvolvimento da ciência e da tecnologia no Rio Grande do Sul. A edição
2011 do evento acontecerá na segunda-feira, dia 29 de agosto, durante a Expointer, no Auditório
da Farsul, no Parque de Exposições Assis Brasil em Esteio.