Brasil é único Brics que cresce e distribui renda

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O Brasil é o país do Brics (grupo de nações formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) com os melhores indicadores de redução das desigualdades sociais, de acordo com a pesquisa Os Emergentes dos Emergentes, divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O levantamento apura que no Brasil a evolução dos indicadores das classes sociais tem mostrado desempenho superior ao dos dados macroeconômicos, enquanto nos demais membros do Brics a relação é a oposta. "A desigualdade está caindo muito mais no Brasil do que em outros emergentes", afirma Marcelo Neri, economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV.
O resultado desta combinação de crescimento econômico com redução de desigualdade aparece na intensa mobilidade dos brasileiros na pirâmide social. De 2003 até este ano, 48,7 milhões ascenderam para as classes A, B e C, um salto de 47,94% no número de cidadãos das chamadas classes média e média alta. "Esse contingente equivale a uma população da África do Sul ou da Espanha", observa o economista da FGV. Somente entre 2009 e maio deste ano, foram 13,08 milhões os brasileiros que ingressaram nas classes AB/C.
No Brasil, a renda familiar tem crescido em média 1,8 ponto percentual acima da elevação do Produto Interno Bruto (PIB), anualmente entre 2003 e 2010, a melhor relação entre os emergentes. Já na China, a relação é inversa: a renda familiar vem crescendo dois pontos percentuais abaixo do PIB do período. "Aqui o microssocial está evoluindo melhor do que o macroeconômico", aponta Néri.
Na década de 2000, o Brasil também teve a segunda melhor taxa de crescimento anual da renda domiciliar per capita entre os 20% mais pobres, com alta de 6,3%, atrás apenas da China, que teve 8,5%. Em seguida vem a África do Sul (5,8%) e a Índia (1%). Ao mesmo tempo, a taxa de crescimento anual da renda familiar dos 20% mais ricos foi mais intensa nos outros países: China (15,1%), África do Sul (7,6%), Índia (2,8%) e Brasil (1,7%). "O bolo da renda dos mais pobres cresce mais que a dos mais ricos no Brasil", aponta Néri.
A pesquisa da FGV também cita dados do estudo realizado pelo Instituto Gallup, em 2009, em 146 países, sobre a perspectiva de satisfação da população com a vida para os cinco anos seguintes (até 2014). Nesse quesito, o Brasil é recordista em felicidade futura, com pontuação de 8,7 numa escala de zero a 10. O segundo no ranking global é a Jamaica, com 8,3 pontos. Já entre os Brics, a África do Sul tem 7,2 pontos (46º), China 6,4 pontos (92º), Rússia 6 pontos (119º) e Índia, 5,7 pontos (128º).
No estudo da FGV, os brasileiros são os mais otimistas sobre suas condições de vida no futuro. Numa escala de 0 a 10, o brasileiro dá nota média de 8,7 à expectativa de satisfação com a vida em 2014, a melhor avaliação numa amostra de 146 países pesquisados, cuja média foi de 6,5. Em relação à condição atual de vida, o brasileiro também lidera o ranking, com nota média 7. "O brasileiro é o que apresenta maior expectativa de felicidade futura, superando inclusive a Dinamarca, líder mundial de felicidade presente. Esse dado revela talvez uma característica do brasileiro, que é de ser otimista", diz Néri.

BID vai dobrar recursos a empresas que priorizem projetos que beneficiem as classes C, D e E

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) vai dobrar o volume de recursos para investimento em empresas que ofereçam soluções para melhorar as condições de vida das classes C, D e E na América Latina e no Caribe. O anúncio foi feito na manhã de ontem durante o 1º Fórum para o Desenvolvimento da Base da Pirâmide, que termina hoje na capital paulista.
"Cerca de 360 milhões de pessoas na região, ou 70% da população, são insuficientemente atendidas e pagam muito caro por serviços como saúde, educação e moradia", disse o colombiano Luis Alberto Moreno, presidente do BID.
Os investimentos serão feitos por meio da iniciativa Oportunidades para a Maioria (OMJ, na sigla em inglês), criada há três anos. Desde 2008, a OMJ já investiu US$ 160 milhões no apoio de 24 projetos voltados às pessoas que integram a base da pirâmide social na América Latina e no Caribe, em setores como educação, saúde e moradia. O objetivo é que, até 2015, mais de 2,2 milhões de pessoas na região sejam beneficiadas com esses projetos.
"Essas populações tem sido negligenciadas, sobretudo do ponto de vista do setor privado organizado. São elas que pagam uma multa de pobreza: por serem pobres, acabam pagando mais por produtos e serviços em função da logística e do volume dos produtos. O que estamos querendo é nos associar com empresas privadas que querem pensar em novos modelos de negócios que possam, finalmente, servir a esse segmento da sociedade", afirmou Luiz Ros, gerente da OMJ.
Segundo ele, o financiamento não se baseia em filantropia. "Isso é negócio. É fazer com que o setor privado preste atenção nas oportunidades que tem de construir relações de longo prazo, que melhore a qualidade de vida das populações de baixa renda e, ao mesmo tempo, ofereça grandes oportunidades de crescimento e inovação do setor privado", disse Ros.
Os investimentos, segundo o BID, devem chegar a US$ 100 milhões por ano. Mas não há limite. "À medida que existam projetos que se caracterizem para servir a esses setores de baixa renda, teríamos recursos para financiar essas operações, independentemente do montante."
O financiamento é feito diretamente com o BID, sem intermediários. Segundo Ros, as taxas oferecidas serão compatíveis com as de mercado, mas os prazos poderão ser maiores. "Os prazos que oferecemos são mais dilatados e, muitas vezes, maiores do que as empresas podem encontrar no mercado", disse ele, acrescentando que o volume máximo que será aportado em cada operação é US$ 10 milhões.
O primeiro projeto brasileiro desse tipo foi aprovado no ano passado. O distribuidor atacadista Tenda recebeu um empréstimo de US$ 10 milhões do BID para ampliar o programa de crédito a microempresários de baixa renda no setor de serviços alimentícios de São Paulo.