''A internet é uma caixa de ressonância da grande imprensa'', diz jornalista

Por

O papel da imprensa na web e os desafios da mídia na era da informação digital foram tema do primeiro painel da tarde desta terça-feira (12) no XXIV Fórum da Liberdade, que acontece desde ontem (11) na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), em Porto Alegre. Abrindo as discussões, o jornalista Merval Pereira afirmou que "a internet é hoje uma caixa de ressonância da grande imprensa". Segundo ele, o papel da grande imprensa no meio digital, hoje, é o de dar credibilidade à informação através da confiança que conquistou dos leitores no meio impresso.

"Quando se debate o jornalismo na internet, o que está em jogo é a credibilidade", tachou o comentarista, que hoje trabalha para redes de informação como a Globonews e a CBN. Falando durante o painel Os Desafios da Imprensa e a Era Digital, Merval apontou que há uma enorme dificuldade em separar opinião de informação, o que pode colocar em cheque a confiança dos leitores. Esta dificuldade ficaria ainda mais latente na web, meio em que blogs e sites menores conseguem difundir informações mais facilmente.
"A caixa de ressonância, então, seria no sentido de que as redes sociais funcionariam hierarquizando informações e conferindo credibilidade à notícia em meio à imensidão da internet", explicou. A prova disso, conforme o jornalista, é que os perfis mais seguidos do Twitter são justamente os de veículos de comunicação tradicionalmente consagrados. "Os jornais precisam de uma certa 'âncora' na internet. E ela seria representada justamente pelas grandes empresas jornalísticas, que se empenham há anos para ter credibilidade", disse.
"Recentemente ouvimos a respeito de como os revoltosos em países árabes utilizaram as mídias sociais para combinar encontros, organizar manifestações. Isso não tem nada a ver com jornalismo", afirmou. "As mídias sociais nada mais são que uma nova maneira de entrar em contato com as pessoas, como o telefone um dia foi". "Por isso, a tese de que as mídias digitais representam o fim dos jornais não é verdade. É claro que os jornais impressos não vão desaparecer com a internet. E ainda que desapareçam, o que importa é a informação, a credibilidade, e não o meio físico em que elas se manifestam", concluiu o jornalista.
Merval ainda afirmou que os jornais são fundamentais para a democracia e, citando o jornalista Jack Anderson, afirmou que "sem liberdade de imprensa, as outras liberdades também são ameaçadas".
Já em sua manifestação, o presidente da Globovisión, Guillermo Zuloaga, foi por um viés diferente: "Enquanto discutimos aqui os desafios da imprensa nas novas plataformas que vêm se apresentando, a Venezuela ainda luta por autonomia e independência nos meios tradicionais", disse.
A Globovísion é referência em informação na Venezuela e é um dos grupos de mídia que teve sua liberdade de informação cerceada no país governado pelo presidente Hugo Chávez. Conforme Zuloaga, "na Venezuela, ser crítico tem suas consequências".
De acordo com o executivo, diversas políticas governamentais venezuelanas são contrárias à constituição e restringem a liberdade de expressão no país. "Foram proibidas as críticas a instituições do governo e a ilegalidades praticadas por seus agentes. Além disso, duas pessoas foram presas na Venezuela por expressar sua opinião nas redes sociais", afirmou.
"Essa restrição permanente serviu para que o governo buscasse a hegemonia do direito à comunicação, passando a controlar sete estações de TV, 35 rádios, 230 estações comunitárias de FM, 73 jornais e 100 sites", enumerou Zuloaga. Conforme ele, algumas destas medidas de cerceamento foram impostas não só à Globovisión, mas à RCTV, de Marcel Granier, e a outras 34 rádios fechadas. "Há políticas de estado de perseguição à jornalistas só por eles expressarem sua opinião ou lembrar fatos históricos que incomodem o governo", afirmou.
O Fórum da Liberdade se encerra com o painel Uma Nova Democracia Digital, que traz Marcelo Tas e Marcelo Madureira à Pucrs, no fim desta tarde.
Leia também:
Educação do futuro é tema do Fórum da Liberdade
Para economista, a internet faz o governo assumir que mente
Direito autoral precisar ser repensado, dizem palestrantes
Fórum da Liberdade ressalta o caminho digital para País crescer