ProCable busca área e diz que está 90% decidida pelo Rio Grande do Sul

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A fábrica de cabos de energia e telecomunicações da paulista ProCable em parceria com a japonesa Fujikura poderá ser a próxima da fila a confirmar que investirá no Estado. O negócio envolve aplicação inicial de R$ 20 milhões, geração de 150 a 170 empregos e faturamento anual ao final de cinco anos de R$ 150 milhões, considerando o plano inicial que deve ser ampliado ante a demanda aquecida para projetos de infraestrutura. O diretor-presidente e maior acionista da ProCable, que tem 30% de capital do BndesPar, Fumitaka Nishimura, já está selecionando terrenos na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) para erguer a unidade e afirma que “90% da decisão está tomada e é pelo Rio Grande do Sul”.
“Já convenci os japoneses de que é a melhor escolha. Agora só depende do governo”, adianta o diretor-presidente da companhia, que fez a aproximação entre representantes do grupo japonês e o governo de Tarso Genro, em audiência em 16 de fevereiro. A Fujikura, com receita global de US$ 7 bilhões e fabricante dos cabos usados em projetos da ProCable no Brasil, deve repassar tecnologia à parceira no empreendimento. Hoje a empresa paulista participa de consórcios que executam a implantação de linhas de transmissão na RMPA, avaliadas em R$ 280 milhões.
O diretor-presidente justifica que os dirigentes japoneses saíram com impressão muito positiva, reforçada pela recepção oferecida no Estado. O investimento, que será bancado quase 100% por capital japonês e parte poderá ter origem no sistema financeiro, deve ser acelerado devido à demanda na área de redes de energia e teles. Somente a Telebras, segundo Nishimura, deve abrir concorrência em 2011 para construção de 14 mil quilômetros de novas linhas, que usarão cabos aéreos de fibra óptica tipo OPGM, usados para recapacitação de linhas de transmissão, uma das expertises do grupo estrangeiro. No País, o segmento registra ampliação de 4 mil quilômetros por ano, 200 deles no Estado.
“Queremos ser líderes neste produto no Brasil e na América do Sul, mas também entraremos em nichos de telecomunicação de menor custo para segmentos residenciais”, antecipa o diretor-presidente. “Produzir no Brasil atende ainda ao percentual mínimo de nacionalização exigido nas licitações de estatais”, acrescenta o executivo. Além do Estado, a ProCable também analisou condições do Espírito Santo, de Minas Gerais, do Rio de Janeiro e de Santa Catarina. “O melhor lugar é aqui”, garante Nishimura.
Já a implantação preferencial na RMPA se deve à proximidade com o mercado de mão de obra. Quase um terço dos profissionais que atuarão na unidade será de engenheiros e técnicos de produção, materiais elétricos e engenharia mecânica. Após o encontro no Palácio Piratini, os dirigentes da empresa se reuniram mais uma vez com o titular da Secretaria de Desenvolvimento e Promoção de Investimento, Mauro Knijnik.
O diretor-presidente da ProCable espera retomar as conversações com a pasta de Knijnik partir de hoje. “Queremos bater o martelo até 31 de março. A fábrica precisa estar produzindo em 2012. O projeto está pronto”, justifics Nishimura, que revelou expectativa de obter ajuda do governo para a aquisição do terreno.
O secretário e assessores não comentam as tratativas, principalmente para evitar assédio de outros governos. Mas na semana passada o próprio governador Tarso Genro prometeu, após assinar protocolo que garantiu a instalação em Passo Fundo da primeira unidade brasileira da americana Manitowoc Crane, do ramo de guindastes, que divulgará os nomes das 25 empresas, sendo 15 estrangeiras, que analisam empreendimentos no Estado. O grupo integraria rol de 60 que, segundo Knijnik, somariam mais de R$ 1,6 bilhão (US$ 1 bilhão) em investimentos.

Regras para atrair empresas mostrarão política pragmática e de mercado, adianta governo

O volume de empregos deve deixar de ser o principal fator para novos empreendimentos gozarem de maior ou menor grau de incentivos fiscais, entre isenções e adiamento no pagamento de tributos, como ICMS. O potencial de incremento de mão de obra é ainda o maior pontuador no programa Fundopem, mas a mudança em gestação no governo também abrangerá prazos para usufruir o adiamento na quitação de impostos. As áreas técnicas da Secretaria de Desenvolvimento e de Promoção do Investimento e da recém-criada Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento  (AGDI) aceleram a formatação dos critérios e seus pesos para estabelecer as vantagens e atrair negócios.
“A visão será mais pragmática e ligada ao mercado”, antecipa o presidente da AGDI, Marcus Coester. A construção do modelo envolveu reuniões de planejamento estratégico, típica do setor privado, e definição de áreas prioritárias na concessão de atrativos: investimentos em projetos de polo naval, gás e óleo (cadeia do petróleo), energia renovável, agroindústria, ramo automotivo e máquinas e implementos. “Não vamos excluir outras áreas, mas precisamos ter foco e programas prioritários”, acrescenta Coester, que terá orçamento de R$ 18 milhões na nova agência para avançar numa das metas do novo governo, que é a atração de investimentos que ponta das cadeias para alavancar os demais braços de cada setor.
O diretor da secretaria, Nery dos Santos Filho, adianta que a linha é simplificar o cálculo e criar tabelas específicas para setores. “Vamos olhar mais a qualidade do investimento que quantidade de vagas”, exemplifics Santos. Devem ganhar com a mudança empreendimentos de grande porte e que não são intensivos em empregos e outros com alta tecnologia. Hoje investimentos maiores dificilmente atingem teto de 75% de fruição do novo ICMS gerado pelo negócio. O critério ambiental também terá forte alteração, podendo ser suprimido, cogitou o diretor.
A ação na atração de investimentos também deverá contar com a integração das equipes de negociação das secretarias e reforço da estrutura da Secretaria de Meio Ambiente e Fepam - medida prometida por Tarso ainda para março. O setor, que teria apenas 30% da força técnica necessária, segundo o próprio governador, é o maior gargalo para as empresas. Já a integração foi apontada como trunfo na largada da atual gestão e que teria surpreendido interlocutores da americana Manitowoc. O que levaria de seis a nove meses de conversas foi fechado em menos de dois meses. “Sai de cena a operação isolada para entrar a atuação sincronizada dos órgãos. A celeridade é um instrumento de competitividade”, adverte o sócio-diretor da Trust&Co Investimentos, Sérgio Maia, que assessorou a companhia americana na decisão sobre o local do investimento. Agora, o executivo acompanha os passos da Vonpar na definição da sede da uma nova unidade da Neugebauer. Guaíba, primeira a ser cogitada, não está garantida, e nem mesmo o Estado.
Para Maia, ex-Grupo Sonae, a equação fiscal é ingrediente decisivo nas negociações, alem da formatação clara e rápida das vantagens. Katya Dessessards, consultora da GTConsulte, identifica uma mudança na atitude de empresários, que voltam a olhar com mais fome ao Estado, mas previne que a moeda tributaria é decisiva. “Ganha quem der maior redução”, avisa.