PIB cresce 7,5% e tem maior alta desde 1986

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O crescimento de 7,5% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2010 foi o maior desde 1986, segundo dados divulgados na quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quando o índice também cresceu 7,5%. Em 2009, ano em que a economia brasileira enfrentou os efeitos negativos da crise global, o PIB do Brasil mostrou queda de 0,6% em relação a 2008. A soma das riquezas geradas no ano passado chegou a R$ 3,675 trilhões.

No quarto trimestre do ano passado, em relação ao trimestre anterior, o PIB do Brasil registrou aumento de 0,7%. Economistas esperavam um crescimento entre 0,24% e 1,20% no período, sendo que a mediana das projeções apontava alta de 0,80%. Na comparação com o quarto trimestre de 2009, o PIB apresentou alta de 5% no quarto trimestre do ano passado. Neste caso, as projeções de alta variavam de 3,9% a 6,1%, com mediana de 5%.

O IBGE revisou de 2,1% para 2,5% o crescimento do PIB do quarto trimestre de 2009 ante o terceiro trimestre de 2009. O instituto anunciou ainda a revisão de 2,3% para 2,2% a expansão do PIB no primeiro trimestre de 2010 ante o quarto trimestre de 2009, enquanto o crescimento do PIB no segundo trimestre de 2010 foi revisado de 1,8% para 1,6% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado. Já a expansão do PIB no terceiro trimestre de 2010 passou de 0,5% para 0,4% ante o segundo trimestre do ano anterior.

O crescimento da indústria, do consumo das famílias e da formação bruta de capital fixo no PIB foi recorde em 2010, segundo dados divulgados pelo IBGE. Em relação a 2009, a expansão de 10,1% da indústria no ano passado foi a maior da série histórica iniciada em 1996, quando o instituto mudou a metodologia de cálculo do índice. Já o consumo das famílias atingiu uma alta recorde de 7% e a formação bruta de capital fixo de 21,8%.

A alta de 7,5% no PIB em 2010 ante 2009 foi norteada pelo avanço no consumo das famílias, segundo o coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Luis Olinto Ramos. O especialista lembrou que o consumo das famílias cresceu 2,5% no quarto trimestre de 2010 ante o terceiro trimestre; e avançou 7,5% na comparação com o quarto trimestre de 2009. Em 2010, o consumo das famílias cresceu 7% ante 2009, o sétimo ano consecutivo de aumento. "O consumo das famílias respondeu por 60,6% do PIB em 2010", afirmou. "Na evolução trimestral, foi o 29º trimestre de crescimento consecutivo", acrescentou.
Na avaliação de Olinto Ramos, o consumo das famílias em 2010 foi influenciado positivamente pelos bons sinais mostrados pelo mercado de trabalho, como crescimento do emprego e da massa salarial real. "Além disso, também tivemos no ano passado o incentivo de redução do IPI em alguns produtos", disse ele, lembrando os benefícios de redução e de isenção fiscal promovidos pelo governo para estimular o consumo do mercado interno no cenário pós-crise global. "Quem explicou mais o crescimento de 7,5% do PIB foi a demanda interna", afirmou.
O PIB per capita do Brasil somou R$ 19.016,00 em 2010. De acordo com o instituto, este desempenho do PIB per capita em volume em 2010 foi 6,5% acima do apurado em 2009.

Crescimento foi de 4% na gestão Lula e 2,3% na de FHC

A elevação do Produto Interno Bruto (PIB) de 7,5% em 2010 gerou uma média de expansão de 4% nos oito anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2010), marca superior ao crescimento médio de 2,3% na gestão de Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002), segundo o economista da MCM Antônio Madeira. "O sucesso de Lula foi construído muito por aquilo que ele não fez: ele manteve os princípios básicos da gestão da política econômica da era FHC, como o câmbio flutuante, regime de metas de inflação e redução da dívida pública interna com a geração de superávits primários", comentou.

Do ponto de vista da análise econômica, Madeira disse que não é possível dizer que a era Lula foi melhor para o País do que os oito anos do governo FHC. Ele lembrou que muitas mudanças estruturais foram feitas na gestão tucana, como o saneamento de bancos públicos, como Banco do Brasil e Caixa, a renegociação da dívida dos estados, que gerou a Lei de Responsabilidade Fiscal, e a privatização em vários setores, como o de telecomunicações, energia e empresas do setor siderúrgico. Antes de ser eleito presidente, FHC, quando ocupava o Ministério da Fazenda, coordenou a criação do real em 1994.
Segundo Madeira, Lula deu continuidade ao processo de melhora da economia, pois manteve o combate à inflação como prioridade, o que elevou a previsibilidade da economia, aumentou o horizonte de planejamento das empresas e estimulou a concessão de crédito pelo sistema financeiro. "E além de manter o câmbio flutuante, o ex-presidente Lula manteve a geração de superávits primários expressivos, o que ajudou a reduzir a dívida pública interna."

Para Mantega, Brasil já é a 7ª economia do mundo

No embalo do crescimento de 7,5% na produção de todos os bens e serviços que compõem o Produto Interno Bruto (PIB) do País em 2010, o Brasil passou a ocupar a sétima posição entre as maiores economias do mundo, superando França e Reino Unido. A subida no ranking foi comemorada na quinta-feira pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. A meta do governo Dilma Rousseff é concluir o seu mandato com o Brasil na quinta posição.

O cálculo do ministro sobre a posição brasileira é baseado no critério de Preço, Paridade e Poder de Compra (PPP), utilizado normalmente pelos economistas levando em consideração os diferentes custos de vida e taxas de inflação dos países, ao invés de apenas converter os valores em moedas locais para uma comum, como o dólar. Mantega afirmou que os dados são preliminares, calculados pelo governo brasileiro. Mas a estimativa vai de encontro aos rankings elaborados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela Central de Inteligência Americana (CIA) que, utilizando projeções para o ano de 2010, já colocavam o Brasil no sétimo lugar mundial segundo este critério. Em ambas as classificações, o País fica atrás - na ordem - de Estados Unidos, China, Japão, Índia, Alemanha e Rússia.

No entanto, quando considerado o PIB nominal do País convertido em dólares, o Brasil ocupa a oitava posição em 2010, tanto na lista do FMI quanto da CIA. Por esse critério, as economias francesa e britânica ainda são maiores que a brasileira, ocupando a quinta e a sexta colocações, respectivamente. Além disso, pelo ranking nominal, o País está à frente da Índia e da Rússia, mas ainda é ultrapassado pela Itália. Se considerado o PIB nominal per capita, o Brasil despenca em todos esses rankings. Segundo as projeções do FMI, o País ocupa a 55ª posição nesse critério, enquanto para a CIA estaria na 60ª.

Mantega afirmou ainda que o Brasil ajudou outros países a saírem da crise financeira por meio do aumento das suas importações. Ele destacou que as compras internacionais subiram 36,2% em 2010, ante uma alta de 11,5% nas exportações. Segundo o ministro, essa disparidade reduziu o superávit comercial do País.

"Como o Brasil cresceu acima da média dos outros países, importou mais. Por isso, o Brasil ajudou os outros países a saírem da crise", disse. Mantega afirmou que o mercado interno robusto dá dinamismo à economia brasileira, sendo acompanhado do crescimento recorde do emprego. Segundo ele, o Brasil teve o quinto maior crescimento do grupo de países que compõem as 20 maiores economias do mundo (G-20), atrás de China, Índia, Argentina e Turquia.

‘Pibão foi bom', mas não vai se repetir, projeta a presidente

A presidente da República, Dilma Rousseff, comemorou o crescimento de 7,5% do PIB. "O pibão foi bom", afirmou a presidente. Ela avaliou que o percentual estava dentro do que o governo esperava, mas previu que nos próximos anos o crescimento não será tão acelerado. A presidente acredita que o País crescerá a uma taxa de 4,5% daqui para frente e fez questão de dizer que o governo continuará trabalhando para que a inflação não saia do controle.

Para Dilma, o governo aumentou a capacidade para que o País cresça e isso permite que o Brasil se expanda e aumente seu dinamismo. "Estamos fazendo agora uma consolidação fiscal porque, para nós, o controle da inflação é uma das questões mais importantes e é uma conquista que o povo brasileiro, ao longo dos últimos, obteve. Não vamos deixar, de maneira alguma, a inflação ficar fora de controle."

A presidente disse que um dos instrumentos eficazes de combate à inflação é a capacidade de crescimento do País. Por isso é importante, na avaliação dela, aumentar a capacidade de investimento para que o crescimento ocorra com estabilidade.

Já o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, declarou que o desempenho do PIB no ano passado confirma que "a economia brasileira entrou em um novo ciclo de expansão", após a rápida recuperação dos efeitos da crise financeira de 2008/2009. Em breve nota, ele destacou que "a demanda doméstica continuou sendo o grande suporte da economia".

A autoridade monetária chamou atenção ainda para a formação bruta de capital fixo, um indicativo de investimento, que teve alta de 21,8% no ano passado. O IBGE destacou que foi a maior taxa acumulada em quatro trimestres da série iniciada em 1996. O resultado, observou o BC, "sugere que o empresariado nacional está confiante nas perspectivas para a economia brasileira neste e nos próximos anos".

Sérgio Guerra diz que não é possível comemorar alta do PIB

O presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), divulgou nota oficial em que analisa o crescimento do PIB. "Infelizmente, não podemos comemorar o crescimento do PIB como deveríamos. Os 7,5% seriam uma boa taxa de crescimento se os problemas estruturais da economia brasileira não estivessem aparecendo", criticou o dirigente tucano.

Guerra destaca os "gastos excessivos feitos nos últimos anos", afirma que os "juros foram para as estrelas" e que os "cortes em investimentos e programas sociais anunciados até agora não passam de espuma". Para o pernambucano, outros cortes terão de ser feitos. Ele arremata lembrando do candidato tucano derrotado na eleição presidencial: "José Serra chamou a atenção para o estelionato eleitoral que se aproxima. Tem razão", concluiu.

Extrativismo mineral puxa desempenho da indústria

O crescimento recorde de 10,1% do PIB da indústria em 2010 foi influenciado pelo bom desempenho da extrativa mineral e de setores que se beneficiaram do aumento das linhas de crédito, como a construção civil e a indústria de transformação. O segmento extrativo mineral apresentou um incremento de 14,8% sobre 2009, influenciado pelo minério de ferro, que registrou um aumento superior a 100% no ano passado.

Já o aumento do crédito foi o principal componente a puxar a alta de 6,2% da construção civil. O crédito beneficiou ainda a indústria de transformação, que responde por 58% do PIB. Segundo o coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Olinto, a maior oferta de linhas de financiamento para bens de capital contribuiu para aumentar a produção de máquinas e equipamentos e da indústria automotiva.

Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), os crescimentos do Produto Interno Bruto (PIB) em 7,5% e de 10,1% no PIB industrial em 2010 são resultados expressivos e que devem ser comemorados. Ainda assim, a entidade expressou preocupação quanto à retração da atividade industrial no segundo semestre de 2010. "A CNI observa que a trajetória do desempenho recente da indústria deve ser encarada pelas autoridades econômicas do País como um alerta", destacou a entidade em nota.

A CNI ressalta que "o PIB da indústria recuou 0,3% no quarto trimestre de 2010, diante do terceiro trimestre do mesmo ano. Foi a segunda queda consecutiva da atividade industrial do País. No terceiro trimestre, o PIB da indústria caiu 0,6% em relação ao segundo". Segundo a entidade, essa retração deve ser levada em conta pelo Banco Central na condução de sua política de combate à inflação.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, também alerta para o risco da desaceleração do setor, consequência, segundo ele, das medidas de contenção do crédito adotadas pelo governo em dezembro e do aumento da taxa básica de juros. "O Brasil corre o risco de perder mais uma vez uma grande oportunidade de crescimento", afirmou. "É provável que o PIB nacional em 2011 fique entre 3% e 4%. E o crescimento industrial pode estagnar entre 2% e 3%. Isso é lastimável", projetou o industrial.

Formação de capital fixo tem elevação recorde de 21,8%

A variação recorde da 21,8% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) em 2010 ante 2009 refletiu forte interesse dos produtores de elevar sua capacidade produtiva, direcionando seus gastos na compra de máquinas e equipamentos, nas palavras do coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Luis Olinto Ramos. Ele comentou que, dentro da FBCF de 2010, 55,2% foram originados de máquinas e equipamentos.

"O que podemos perceber aí é um gasto relacionado a investimentos, e também relacionado a gastos habitacionais. Mas pelo que podemos observar, é possível dizer que os produtores estão aumentando sua capacidade produtiva, ou aproveitando para renovar estoques de bens de capital", afirmou ele, comentando que, pelo menos em 2010, é possível perceber este interesse por parte dos produtores.
Ele admitiu que o Programa de Sustentação de Investimento (PSI) do Bndes, que oferece financiamento para compra de máquinas e equipamentos e que deve terminar em março deste ano, pode ter ajudado a compor este bom cenário na FBCF em 2010, além de programas de financiamento voltados para a construção civil. Mas preferiu não tecer comentários sobre a sustentabilidade deste movimento em 2011, lembrando que o IBGE não faz previsões.

Exportações subiram 11,5% e importações avançaram 36,2%

As exportações do Brasil cresceram 3,6% no quarto trimestre de 2010 em relação ao terceiro trimestre do ano passado. Em relação ao quatro trimestre de 2009, as vendas externas subiram 13,5%. No acumulado de 2010, as exportações tiveram alta de 11,5% em relação a 2009.

Já as importações contabilizadas no PIB aumentaram 3,9% no quarto trimestre de 2010 ante o terceiro trimestre do ano passado. Em relação ao quarto trimestre de 2009, as importações subiram 27,2%. Em 2010, as importações subiram 36,2% ante 2009.
A contabilidade das exportações e das importações no PIB é diferente da realizada para a elaboração da balança comercial. No PIB, entram bens e serviços e as variações percentuais divulgadas dizem respeito ao volume. Na balança comercial, entram somente bens e o registro é feito em valores, com grande influência dos preços.

Avanço seria maior se os juros caíssem, avaliam centrais sindicais

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) avaliou, em nota distribuída à imprensa, que o crescimento de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010 seria ainda maior se os juros não fossem tão elevados. "O PIB de 2010 poderia ser ainda melhor e mais exuberante se as taxas básicas de juros não permanecessem na estratosfera - como insiste o Banco Central, haja vista a alta registrada ontem", diz a nota, assinada pela Executiva Nacional da CUT.

Para a entidade, o crescimento do PIB é resultado, e não causa, do fortalecimento do mercado interno, do aumento do emprego com carteira assinada e das políticas públicas. "Se o Estado brasileiro tivesse recuado diante dos reflexos da crise econômica de 2009, como aconselharam diferentes analistas e consultores, e se, naquele mesmo período, o movimento sindical cutista não tivesse resistido às propostas de flexibilização de direitos trabalhistas, o crescimento de 7,5% do PIB em 2010 não teria acontecido", diz a central.
Também em nota, a Força Sindical considerou "alentador" o crescimento do PIB, mas avaliou que a alta seria ainda maior não fossem os "patamares estratosféricos" da Selic. "O crescimento de 7,5% em 2010 irá beneficiar as negociações salariais, que envolvem milhões de trabalhadores, neste semestre, e poderá fomentar um ciclo virtuoso na economia, com o aumento do consumo, da produção e do emprego", disse o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho.
"O PIB poderia ser maior se as taxas de juros estivessem menores. O governo precisa entender que juros em patamares estratosféricos funcionam como uma trava para o setor produtivo. Infelizmente, os tecnocratas do governo insistem em se curvar ao capital especulativo. Somente no início deste governo tivemos duas altas consecutivas da taxa básica de juros", acrescentou.