Poupança vai pagar 6,9% no ano, o pior rendimento desde 1967

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A caderneta de poupança terá, em 2010, a menor rentabilidade já paga ao poupador desde 1967, de 6,90%. O resultado será ainda pior do que o registrado em 2009, quando já havia sido de apenas 7,05%. Os dados fazem parte de levantamento da Economática, que considerou números desde 1967. Segundo o estudo, as cinco rentabilidades mais baixas do período analisado são, na ordem: 2010 (6,90%), 2009 (7,05%), 2007 (7,77%), 2008 (7,90%) e 2004 (8,10%).
A redução da taxa juro real fez com que o rendimento da caderneta de poupança, descontado o IPCA, caísse de 58,8% entre 1995 e 2002 (governo Fernando Henrique Cardoso) para 21,6% entre 2003 e novembro de 2010 (governo Lula). "Como a remuneração da poupança está vinculada à variação dos juros, a redução da taxa real provocou essa queda", comentou o economista sênior do JP Morgan, Júlio Callegari. A taxa Selic média anual, descontada a inflação, caiu de 15,7% entre 1995 e 2002, para 8,3% entre 2003 e novembro de 2010, de acordo com cálculo feito pela economista-chefe da Rosenberg e Associados, Thaís Zara.
Uma contrapartida da redução dos juros nos últimos oito anos, com o incremento do consumo interno, foi a melhora do faturamento das empresas com papéis negociados em bolsa de valores, o que se refletiu diretamente no desempenho do mercado de renda variável. Segundo a Economática, o Ibovespa subiu 26,8% em termos reais entre 1995 e 2002 e saltou para 286,5% de 2003 a 2010. "Na medida em que os juros passaram a cair no decorrer dos anos, outras opções de ativos, como títulos de empresas, se tornaram mais atraentes para os aplicadores", ressaltou Callegari.
A melhora do crescimento econômico foi outro fator que aumentou a confiança dos investidores em ações de empresas, pois melhoraram as perspectivas de rentabilidade das companhias no longo prazo. De 1995 a 2002, a evolução média do PIB foi de 2,30%, que subiu para a marca de 3,98% de 2003 a 2010, quando é levado em consideração que o País neste ano vai avançar 7,5%.
De acordo com a Economática, ocorreu uma oscilação muito forte no câmbio nos dois períodos estudados. Segundo o gerente de relacionamento institucional da consultoria, Einar Rivero, enquanto a cotação do dólar ante o real apresentou apreciação real de 108,1% de 1995 a 2002, ocorreu uma valorização do real em relação à norte-americana de 69,2% de 2003 a 2010, levando em consideração a cotação registrada até segunda-feira, quando a moeda fechou cotada em R$ 1,6890.
"No primeiro período, ocorreram várias crises externas que pressionaram pela valorização do dólar ante o real, como a do México (1994-1995), da Ásia (1997) e Rússia (1998)", comentou o economista sênior do Santander, Maurício Molan. "Além disso, ocorrem outros fatos importantes, como o fim do regime de câmbio fixo no Brasil no começo de 1999, o atentado terrorista contra o World Trade Center e o apagão de energia no País, ambos registrados em 2001, e a crise da Argentina, deflagrada em 2002", acrescentou.
Segundo Callegari, o temor de investidores com a possível ascensão ao poder do então candidato do PT à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 contribuiu para a desvalorização do real. Poucas semanas antes do pleito, o nível de incertezas com a futura administração trouxe pânico ao mercado e levou o câmbio para a marca recorde próxima a R$ 4,00. "Sem esse fenômeno, o desempenho do câmbio teria sido bem menos expressivo nos anos do governo de Fernando Henrique Cardoso", disse.
Na avaliação de Callegari, a apreciação do real em comparação ao dólar nos últimos oito anos está diretamente relacionada com a alta dos preços de commodities no mercado internacionais, influenciada em boa parte pelo aumento da demanda por produtos primários por países emergentes, com grande destaque para a China. Com base em dados da Funcex, ele estimou uma alta de 18,5% de 2006 a 2010 ante junho de 1994 dos termos de troca do País, estimada pela divisão dos preços das exportações nacionais sobre os valores das importações.