Lula acusa países ricos de tentar tabelar commodities

Por

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva retomou ontem o discurso contra a política dos Estados Unidos e da União Europeia para combater os efeitos da crise financeira internacional. No seu quinto dia da viagem à África, durante um encontro com empresários da Tanzânia, ele alertou que os ricos vão tentar, no âmbito do G-20 (grupo das 20 maiores economias), tabelar os preços dos minérios e de produtos agrícolas, principais commodities produzidas por africanos e latino-americanos.

Ele disse que as maiores economias pressionam para que o "mundo pobre" pague a conta das turbulências econômicas durante reunião do G-20, que ocorre em Seul, na Coreia do Sul, em novembro. "Preste atenção em uma coisa que vou dizer: nas próximas reuniões do G-20, os países ricos vão levantar os preços das commodities, vão levantar os preços daquilo que os países pobres têm", afirmou. "Vão querer tabelar os preços. Alguns já tabelam na bolsa de Chicago."

No último encontro do G-20, mês passado, em Toronto, Canadá, o Brasil e outros emergentes não chegaram a uma série de acordos sobre metas para compensar os prejuízos da crise financeira de 2008 e 2009, como a redução do déficit público pela metade. Pelo discurso de Lula na Tanzânia, as divergências vão continuar em Seul. "Eles vão tentar criar confusão com os países pobres, que têm minério para exportar, porque querem controlar os preços", disse o presidente. "Agora, não querem que nós controlemos os preços dos produtos manufaturados que eles exportam", completou. "Porque se eles acreditassem realmente em livre mercado fariam acordo na rodada Doha."

Foi a pedido da Vale que Lula incluiu em seu 11º giro pelo continente africano a caótica Dar Es Salaam, sede do governo tanzaniano, uma cidade de um milhão de habitantes, à beira do Oceano Índico, com mais da metade da população vivendo na pobreza. Lula fez lobby pela Vale, que participará de processos de licitação para explorar minas de carvão e fosfato na região sul da Tanzânia, perto da fronteira com Moçambique.

Lula se encontrou com o presidente da nação africana, Jakaya Kikwete. Na estratégia de convencer o governo tanzaniano a optar pela Vale, o governante brasileiro bateu tambor nas escadarias do palácio presidencial, visitou uma feira agrícola e fez dois discursos longos para mostrar a "aproximação" com o país da África Oriental.

Lula disse que as empresas chinesas, principais concorrentes da Vale nos leilões, estão mais perto da Tanzânia, mas não irão garantir emprego para trabalhadores do país. Ele afirmou que a China costuma usar seus próprios cidadãos nos empreendimentos no exterior. "Nada contra os meus amigos chineses, mas eles não geram oportunidade de renda e trabalho."

Lula citou o investimento de carvão no Gabão, no qual a Vale acabou preterida por uma mineradora da China, que não contratou trabalhadores locais. O próprio presidente esteve no Gabão em 2004, para negociar a entrada da empresa no país. "Temos de aproveitar a matéria-prima que nós temos para distribuir riqueza", disse. "A Vale tem que vir fazer investimentos, contratar trabalhadores da Tanzânia e não trazer trabalhadores do Brasil", afirmou, arrancando aplausos de empresários do país. Mais de 80% dos trabalhadores da Tanzânia sobrevivem com ocupações na área da agricultura.

Na visita à Tanzânia, Lula aproveitou para assinar memorando de cooperação de estudos na área de etanol. A Petrobras e a estatal de petróleo da Tanzânia, TPDC, vão avaliar a inclusão de um percentual de etanol na gasolina e no diesel. O roteiro de Lula segue hoje em Johannesburgo, África do Sul, última parte da viagem pelo continente.