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Cresce o temor de contágio da crise nos países ibéricos
A crise grega balançou ontem os países ibéricos mais uma vez: a Espanha viu seus títulos de dívida soberana serem rebaixados pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, o que significa que o país passa a representar um risco maior para investidores, e Portugal antecipou, de 2011 para este ano, seu agressivo plano de arrocho fiscal, numa tentativa de reaver a confiança do mercado global.
O primeiro-ministro português, o socialista José Sócrates, disse que o governo irá acelerar seus planos de elevar o imposto sobre os ganhos de capital e grandes contribuintes, introduzir novos pedágios em rodovias e reduzir gastos com benefícios-desemprego.
"Estamos absolutamente determinados a fazer o que for necessário para atingir as metas que estabelecemos para reduzir o déficit público", disse, após se reunir com a oposição.
Ontem, a S&P rebaixou a classificação dos títulos portugueses de longo prazo de A+ para A-. O déficit e a dívida pública do país atingiram em 2009, respectivamente, 9,4% e 76,8% do PIB; seu índice de poupança é dos menores entre os 27 países da OCDE e a média anual de crescimento do país foi menor que 1% nos últimos anos.
As medidas de austeridade fiscal que o governo planeja pôr em curso são parte de um programa de estabilidade e crescimento de quatro anos, que pretende cortar o déficit orçamentário para 2,8% do PIB até 2013. As agências de classificação de risco, no entanto, estimam que o déficit cairá a 4,1% do Produto Interno Bruto.
Depois de, na segunda, rebaixar Grécia e Portugal, a S&P rebaixou ontem o rating (nota de risco de crédito) da dívida soberana da Espanha de AA+ para AA, ainda dentro da classificação grau de investimento, reservada para países considerados "bons pagadores". A S&P, para quem a decisão se justifica pela expectativa de que o país deverá sofrer "um longo período de débil crescimento econômico", reduziu a expectativa de crescimento anual médio entre 2010-2016 de 1% para 0,7%.
O rebaixamento fez o euro cair para o patamar mais baixo ante o dólar em um ano. Analistas avaliam que, porque a Espanha é uma economia muito maior do que a Grécia e Portugal juntas (seu PIB é quase três vezes a soma do produto dos outros dois), uma piora da avaliação de crédito do país poderá criar ainda maiores dores de cabeça para a zona do euro.
Alemanha estuda medidas de apoio a governo grego até 2012
O governo da Alemanha vai buscar aprovação do Parlamento para uma ajuda à Grécia de até 8,4 bilhões de euros em 2010, mais um montante não especificado em 2011 e 2012, segundo um esboço do projeto de lei a que teve acesso a agência Dow Jones. Detalhes do projeto, incluindo os montantes envolvidos, serão finalizados no domingo, quando a Grécia deverá concluir as negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Comissão Europeia sobre um programa de redução de dívida de três anos.
O rascunho será apresentado ao gabinete alemão na segunda-feira, de acordo com o Ministério de Finanças do país. "O Ministério de Finanças será responsável por dar garantias de cerca de 8,4 bilhões de euros no primeiro ano e mais (um volume não especificado) nos próximos dois anos para a Grécia como medidas de emergência para manter a solvência que é necessária para a estabilidade financeira da união monetária", diz o rascunho do projeto.
A Grécia quer que o mecanismo de empréstimo conjunto da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI) seja disponibilizado dentro de alguns dias. Os ministros de Finanças da zona do euro prometeram fornecer até 30 bilhões de euros em empréstimos conjuntos neste ano e o FMI deverá conceder até 15 bilhões de euros adicionais.
As eleições de 9 de maio no estado mais populoso da Alemanha está complicando a tentativa europeia de resolver rapidamente a crise na Grécia. As eleições em North Rhine-Westphalia podem alterar o equilíbrio do poder na política alemã e prejudicar as metas políticas domésticas da coalizão de centro-direita do partido da chanceler Angela Merkel.
Um resultado desfavorável nas eleições regionais pode retirar a liderança da coalizão liderada por Merkel na Câmara Alta do Parlamento, onde estão representados 16 Estados, e a coalizão tem pequena maioria. Por consequência, dificultaria ao governo atingir algumas de suas maiores ambições, incluindo o corte de impostos e uma ampla reestruturação dos fundos para cuidados com a saúde.
Políticos de todos os partidos, cientes de que a maior parte dos eleitores alemães é contra uma ajuda financeira a outros países da União Europeia, têm feito duras críticas à Grécia nos últimos dias, alguns deles até sugerindo a saída do país da zona do euro. Tais comentários provocaram inquietação nos mercados financeiros.
Governo português e oposição se unem para driblar a crise
O governo de Portugal e a oposição concordaram em trabalhar juntos para evitar uma crise na dívida no país, disse o primeiro-ministro José Sócrates. "O governo e o principal partido de oposição decidiram trabalhar unidos para responder a um ataque especulativo sem fundamento contra o euro e contra a dívida soberana portuguesa", afirmou Sócrates.
Os comentários foram feitos durante uma entrevista à imprensa com o líder do Partido Social Democrata, de centro-direita, Pedro Passos Coelho, um dia após a agência de classificação de risco Standard & Poor's cortar o rating de Portugal, provocando temores de que o país está no mesmo caminho da Grécia.
O governo de Portugal está baseando-se em um rígido programa de austeridade para reduzir o déficit público para 8,3% do PIB em 2010 e para o limite de 3% da União Europeia em 2013.
O governo "pretende estender as medidas de 2010 para os próximos anos, dentro de um programa de crescimento e de estabilidade", de modo que "os atores internacionais saibam que o país pretende respeitar seus objetivos", afirmou Sócrates.
O governo impôs o congelamento durante quatro anos dos salários dos servidores públicos e também planeja privatizar várias companhias estatais para adicionar 6 bilhões de euros às suas receitas, incluindo 1,2 bilhão de euros este ano. Lisboa espera que a dívida pública chegue em 2010 a 142 bilhões de euros ou 86% do PIB.
Várias greves têm ocorrido nos meses recentes em protesto às medidas de austeridade do governo. Os servidores do Parlamento fizeram greve nesta quarta-feira pela primeira vez desde 1974.
Não se pode acreditar muito em agências de rating, diz Strauss-Kahn
O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, afirmou que não se pode crer demais nas agências de classificação de risco e disse que espera por uma conclusão "muito rápida" das negociações entre o FMI e o governo da Grécia.
A autoridade fez os comentários pouco depois de a Standard & Poor's reduzir o rating soberano da Espanha. Segundo ele, é difícil dizer se as agências de rating estão reagindo ao mercado ou se é o mercado que está reagindo às agências. "Você não deveria acreditar muito no que elas dizem, mesmo que seja útil", afirmou Strauss-Kahn.
O diretor do Fundo Monetário Internacional acrescentou que a economia mundial ainda está sofrendo ameaças diversas, entre elas os riscos provocados pelo grau elevado de desemprego e de dívidas públicas, mas disse também que esses fatores sozinhos "não são suficientes para destruir o início da recuperação".