Obama quer agilizar a reforma financeira

Por

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, viajará na quinta-feira para Nova Iorque, onde realizará um discurso sobre a proposta do governo para reformar as regulações do setor financeiro. Segundo o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, Obama discursará na Cooper Union, escola de ensino superior gratuita da cidade.
"Quase dois anos depois da crise e um ano após o governo estabelecer pela primeira vez um plano detalhado para manter Wall Street responsável e proteger os consumidores, Obama vai pedir uma ação rápida do Senado", disse Gibbs, em comunicado divulgado nesta segunda-feira.
"O presidente também lembrará aos norte-americanos sobre o que está em jogo se nós não avançarmos com a mudança de regras dentro de um forte pacote de reforma de Wall Street", acrescentou o porta-voz da Casa Branca. Obama tem desempenhado um papel público ativo para promover uma reforma do setor financeiro e para pressionar os legisladores republicanos a apoiarem a proposta. Os republicanos se mostraram contrários ao plano, dizendo que a legislação proposta pela Casa Branca garantiria a concessão de pacotes de socorro no futuro. A Casa Branca discorda.
Obama usou seu programa semanal de rádio no fim de semana para criticar os senadores republicanos Mitch McConnell, líder da minoria no Senado, e John Cornyn, presidente do Comitê Nacional Republicano no Senado, por se reunirem com executivos de Wall Street a fim de desacelerar os progressos sobre a questão. Os republicanos afirmaram, por sua vez, que Obama está politizando a questão e criticaram a Casa Branca e os democratas por não dar-lhes espaço de qualidade no debate.
Um dos pontos-chave na reforma do setor financeiro gira em torno dos derivativos, instrumentos financeiros complexos que colaboraram para o colapso do setor. Os instrumentos são lucrativos para empresas como o JPMorgan Chase e o Goldman Sachs. Obama quer regras duras sobre os instrumentos para ajudar a dar mais clareza à forma como eles funcionam e disse que vai vetar qualquer projeto sem elas. Os republicanos afirmam que a repressão aos derivativos iria fazer com que eles migrassem para o exterior, mais distantes da fiscalização.
A reforma da legislação do setor financeiro já foi aprovada na Câmara, mas não no Senado. A votação de um projeto de lei no Senado pode ocorrer nesta semana, embora os democratas precisem de um voto republicano para evitar um revés.
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, está confiante de que a reforma financeira passará pelo Congresso. "Creio que estamos muito próximos disso", disse ele, acrescentando que é preciso acabar com a política do "muito grande para falir". O secretário não tem medido esforços para convencer o Congresso de que é preciso aprovar as mudanças para evitar novas crises financeiras de proporções gigantescas como essa última.

Caso Goldman Sachs pode favorecer aprovação do pacote de medidas

O presidente do Comitê Bancário do Senado, Christopher Dodd, disse nesta segunda-feira que as suspeitas de fraude pelo banco Goldman Sachs poderão ajudar na aprovação da reforma financeira proposta pelo governo. Segundo o senador, uma fraude como a supostamente realizada pelo banco faria com que os parlamentares republicanos - por enquanto contrários ao pacote - se convençam da importância das mudanças na regulação.
"O mercado teria sabido que estavam acontecendo as fraudes antes de tudo e então poderia ter reagido", disse Dodd, lembrando que o pacote de medidas regulatórias prevê maior controle sobre, entre outros, os produtos financeiros pelos quais o Goldman Sachs teria agido ilegalmente.
Na sexta-feira, a Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM norte-americana) acusou o Goldman Sachs de fraude na venda de títulos de investimentos relacionados com créditos hipotecários de alto risco, conhecidos como subprime.
Segundo o órgão, o banco enganou investidores "fazendo declarações enganosas e silenciando fatos essenciais sobre certos produtos financeiros relacionados com empréstimos subprime quando o mercado imobiliário residencial começava a cair". Também na sexta-feira, todos os 41 senadores republicanos assinaram uma carta ao líder do bloco majoritário, o democrata Harry Reid, dizendo serem contrários à legislação proposta pela Casa Branca ao Congresso norte-americano.

Buffett perdeu milhões com papéis de banco americano

O megainvestidor Warren Buffett não deve ter ficado muito feliz por ter confiado no Goldman Sachs. Segundo a revista Business Week e o site The Motley Fool, sua empresa, a Berkshire Hathaway, colocou mais de US$ 5 bilhões no banco. Isso no auge da crise, em setembro de 2008, logo após o colapso do Lehman Brothers. Buffett passou a ter ações preferenciais perpétuas do Goldman e US$ 43,5 milhões em garantias para comprar mais ações a US$ 115 cada. Segundo a Business Week, na sexta-feira, Buffett havia perdido US$ 950 milhões em ações num único dia. Mas, conforme explica o site The Motley Fool, essas ações são menos voláteis que as ações comuns, então as perdas podem ser bem menores, ao redor de US$ 120 milhões.
De qualquer maneira, o acordo bilionário entre as duas partes, feito quando a confiança havia sido varrida do sistema bancário, coloca Buffett em posição desconfortável. Na época, um dos diretores da Berkshire, Ronald Olson, disse que o acordo refletia "não somente a força do Goldman, mas sua integridade".
A Autoridade de Serviços Financeiros do Reino Unido (FSA, na sigla em inglês) informou nesta segunda-feira que está investigando o possível envolvimento de unidades do Goldman Sachs no Reino Unido nas acusações de fraude feitas pela Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM norte-americana) contra o banco. "O FSA está investigando as circunstâncias do caso e se houve implicações nas entidades do Goldman Sachs reguladas pelo Reino Unido", afirmou em nota a organização britânica.