Primeiro dia de debates destaca a crise e o cenário nacional

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Em ano de eleições, o 23º Fórum da Liberdade não se eximiu da responsabilidade e aprofundou algumas das feridas ideológicas que permeiam os embates políticos do País e do mundo. Para esta tarefa, na noite desta segunda-feira (12), em Porto Alegre, o painel sobre o Capitalismo reuniu em torno do tema o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, o presidente das empresas CMPC e um dos homens mais ricos do Chile, Eliodoro Matte, e o presidente do Conselho de Administração do Itaú Unibanco, Pedro Moreira Salles.

Antes das exposições acerca do primeiro tema, o presidente do Instituto de Estudos Empresariais (IEE), Leonardo Fração, oficializou a temporada portoalegrense de embates de ideias, voltadas, sobretudo, às questões em torno do cenário econômico mundial.

Na ocasião Leonardo Fração fez uma breve exposição sobre as origens do Capitalismo no mundo, remontando o surgimento do modelo econômico, justamente, a uma crise de valores identificada na idade média. "Diferente do Socialismo, o Capitalismo não foi criado, foi uma necessidade da sociedade", defendeu. Para finalizar e dar início aos debates, o organizador tratou de introduzir a primeira temática desta 23ª edição. "Não resta dúvidas de que o capitalismo é o modelo econômico mais justo", concluiu.

"O preço da liberdade é a eterna vigilância"

Coube ao presidente do Conselho Administrativo do Itaú Unibanco, Pedro Moreira Salles, a palavra inicial sobre o primeiro pilar teórico em discussão ao longo de dois dias no Centro de Eventos da Pucrs: Capitalismo. Depois de conceituar o modelo como "o respeito aos sistemas e movimentos do mercado", o banqueiro fez uma longa explanação conjetural sobre a evolução do modelo no País, para por fim concluir, parafraseando Huxley "O preço da liberdade é a eterna vigilância".

Salles comparou o desenvolvimento econômico de países da América Latina que, segundo ele, adotaram medidas corretas para o desenvolvimento do Capital Social em contraponto ao avanço populista, puxado pela Venezuela dentro do bloco. Além disso, identificou os principais desafios para o País, entre eles o desenvolvimento do capital produtivo e o aumento dos investimentos para cobrir o que classificou como "rombo estrutural".

Para ele, uma inversão constatada ao longo dos últimos 20 anos é capaz de explicar a atual situação nacional frente aos demais emergentes, essencialmente, em momento de crise. "A relação entre o sistema bancário e o poder do estado, no que se refere a liberalização do crédito é um dos movimentos responsáveis por acelerar o crescimento econômico", disse o palestrante que ainda detacoua abertura econômica, os investimentos privados e as políticas sociais contemporâneas.

No segundo momento, o presidente das empresas chilenas CMPC, Eliodoro Matte, traçou um paralelo entre o desenvolvimento econômico chileno, passando por modelos socialistas e regimes militares. O executivo ainda apresentou as teses que encabeçam as discussões em 2010.

"Não vejo no cenário nacional defensores do Estado mínimo e tampouco do Estado máximo"

Encerrando o primeiro dia de debates, o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, identificou na crise econômica uma nova crença no poder do Estado, fundamentada nas ações governamentais de socorro às indústrias durante o período. No entanto, quando o enfoque era o cenário nacional foi taxativo. "Não vejo defensores do Estado mínimo nem tampouco do Estado máximo", avaliou.

Ainda dentro do universo brasileiro, Fraga considerou a existência de um saudosismo político em torno da atuação do estado em alguns setores. "Porém, o que mais assusta é o saudosismo político, do que a própria melâncolia econômica", defendeu, citando como fator principal a crise institucional entre os três poderes.

Para ele, "existe uma sensação de que só quem está a esquerda pode lutar contra a pobreza, mas o que se vê é o oposto". Fraga foi diplomático e identificou a possibilidade de uma certa convivência ideológica, até mesmo em democracias mais autoritárias, apesar de constatar resultados medíocres nestas práticas. "O que se aplica ao setor privado, se aplica ao setor público. O maior peso é a qualidade da gestão, independentemente se for um pouco mais a esquerda ou a direita, o que são conceitos que sempre considerei difícil".

Segundo o executivo, a atual conjuntura não se refere a busca de uma sociedade mais igualitária. "O drama é não cair em armadilhas de cunho populista e que só nos trouxeram sofrimento e frustração. Acho que ainda não conseguimos construir bases tão sólidas contra isso", concluiu.

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